Lost Sea - Uma Morte e uma Maldição

2 - Cerridwen (pt. 1)

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Cerridwen

07h02

Todos os meus materiais estão em ordem, repousando sobre a minha escrivaninha branca. Câmera, caderno de anotações, a caixinha dos meus óculos, minhas canetas especiais, chocolate sem amendoim, meu diário e meus livros das aulas. Por mais que as empregadas insistam em organizar meus materiais, ninguém além de mim pode tocá-los.

Principalmente meu caderno e meu diário.

Eu estaria ferrada se alguém pusesse os olhos neles. Dou uma última checada no espelho, minhas tranças ruivas cor-de-caramelo estão crescendo pouco a pouco, logo chegam na minha cintura. Minha franja decidiu que hoje não iria me obedecer, tentei colocá-las atrás das orelhas mas isso só fez com que ficassem amassadas. Um suspiro pesado assopra os fios de cabelo cobrindo meu nariz. É, terei que colocá-las para trás e depois eu me viro.

Eu odeio esse cabelo volumoso, do que adianta ser liso então? Por que os cabelos das minhas irmãs são tão perfeitos e o meu tem que ser a atração das críticas de todo mundo? Não aguento mais a minha mãe resmungando no meu ouvido porque quer que eu seja mais feminina. Ela quer que eu passe horas com rolos na cabeça e passando produtos fedidos no cabelo como minha irmã faz, apenas para ficar com o cabelo solto incomodando meus movimentos. Como vou andar de bicicleta com um cabelo pesado e gigante como esse enroscando nos meus braços e pernas? Isso não faz o mínimo sentido!

Cutuco o sinal logo abaixo do meu olho esquerdo.

Eu não tenho tempo para me colocar pra baixo, já tem pessoas o suficiente para fazer isso por mim. Vou fazer com que seus queixos empinados caiam no chão com tanta força que vão quebrar em fragmentos. Algo me diz que hoje uma notícia grande me espera e eu vou ser a primeira a conseguir, o que quer que seja. Acho que vou levar meu gravador. Melhor prevenir do que perder informação.

Estou vestindo uma camisa social verde-clara por baixo do meu suéter vermelho escuro, mas não é o bastante para me aquecer dos ventos gelados desta cidade repleta de portos litorâneos, portanto, visto uma camisa xadrez verde escura por cima e abotoou as mangas. Meus coturnos de couro escuro logo serão trocados por galochas amarelas quando subir em minha bicicleta, rumo à escola. É isso. Me viro de costas para o espelho comprido na minha parede.

Meu quarto é inteiramente branco, mas as polaroids penduradas por galhos e folhas de plástico por todas as paredes e teto me passam a sensação de estar numa floresta de contos de fadas. Enrolados nos galhos falsos, pequenos leds de um dourado pálido parecem pequenas estrelas. Logo abaixo da imensa janela coberta de cortinas verde-escuro, minha imensa cama está bagunçada. Um mar furioso de lã de carneiro. Argh, não tenho tempo para arrumá-la agora, não deixo as empregadas limpar meu quarto quando não estou presente. É necessário uma grande cautela com as informações que guardo nas gavetas e debaixo da cama.

Bem, isso não importa agora, eu só preciso descobrir porque minha intuição está gritando tanto desde o momento em que acordei.

— Prontinho — eu sussurro, enfiando o gravador preto e ligeiramente pesado na minha mochila transversal. Ah, quase me esqueço da minha câmera fotográfica!

— Senhorita Cerridwen, sua família está apressando-a para o café da manhã — do outro lado da porta, diz a empregada em um tom submisso. Eu detesto isso.

— Eu já estou indo, eles sabem que não precisam me esperar.

Quem eles pensam que são para me apressar enquanto me preparo para o dia? Acho que já deixei claro que não estou nem um pouco interessada em estar sempre atrás deles, ouvindo suas críticas e fofocas fúteis como se fosse algo tãããão interessante. Pelos mares, eu tenho mais o que fazer! Sinto vontade de enfiar garfos nos meus ouvidos quando começam a fofocar sobre os Hanover — que eles fingem ser amigos, mas na verdade só sabem falar mal uns dos outros —, ou quando minha mãe critica a Sra. Hanover por qualquer coisa, até mesmo um fio de cabelo desalinhado.