Foi um show de horrores!
O time não estava em seu melhor momento após a derrota para o Manchester City. Ainda abalados tentavam disputar o segundo lugar na liga espanhola e eu notava suas frustrações em campo por não conseguirem, eu via no rosto de Vinicius todo o peso de ser a esperança em campo.
Ele lutou do início ao fim. Ergueu sua cabeça, jogou e mesmo assim não foi o suficiente. Eu compreendia que fazia parte do futebol, nem sempre se podia ganhar e estava tudo bem.
Foi o que eu tentei dizer ele no intervalo do jogo. Ainda no vestiário eu lhe dei um beijo e desejei boa sorte, demonstrei minha total confiança nele e acompanhei o crescimento de um grande sorriso em seu rosto. Seguido por um "eu te amo" extremamente amoroso.
Eu me despedi e voltei para a arquibancada, o jogo foi retomado e não demorou muito para que alguns gritos chamassem minha atenção. E lá estavam eles. A escória do mundo, os racistas.
Chamavam Vinicius de macaco como se sua linda cor fosse um problema, como se de alguma forma aquilo afetasse seu desempenho como jogador, era estupido e desnecessário. Eu os olhava com repudia, enojada pela maneira grotesca como eles demonstravam seu "amor" pelo futebol e pelo time.
O que me deixou mais puta foi a falta de empatia dos jogadores que não fizeram nada a respeito, prosseguiram seu jogo como se um deles não estivesse sendo humilhado em público. A partida foi paralisada pela entrada de uma segunda bola em campo e foi quando, finalmente, o árbitro foi tomar uma atitude.
Houveram diversas conversas e pedidos para que aquilo acabasse, enquanto eu só me preocupava com o bem estar de Vinicius ali. Ele estava nitidamente abalado, a um passo de perder a cabeça, lutava pelo seu autocontrole e estava nítido em seu olhar que ele estava cansado. Senti meus olhos marejarem, era horrível! Devastador!
Olhei para mim mesma, não tinha a pele muito clara, era bronzeada, e de acordo com aqueles racistas aquilo já era o suficiente para que eu também fosse alvo. Eu via o modo como era olhada nas ruas ou quando entrava no estádio, não eram todos, mas era uma quantidade absurdamente assustadora. Ninguém merecia passar por aquilo.
Eu gritei pelo nome do rapaz, desafiando minha própria voz para que ele soubesse que eu estava ali, dando-lhe apoio.
Quando nossos olhares finalmente se encontraram eu sussurrei um "vai ficar tudo bem" seguido por um "eu te amo", era surpreendente a capacidade dele de sorrir mesmo diante de tanta loucura. Aquele descaso fez com que o jogo fosse adiado por alguns minutos e quando foi retomado os gritos continuaram, eu não aguentava mais e decidi que o melhor a ser feito era ir até onde a equipe técnica estava.
Precisava conversar com alguém e tomar uma medida com relação aquilo, porque não era certo, não era justo, era tóxico, sujo, e ninguém ligava.
Por que ninguém ligava?
— Fique calma, Senhorita!— um rapaz, sem nem um mínimo de empatia me olhou como se eu estivesse pedindo demais.
Eu soltei uma risada amargurada e fechei minhas mãos em punho, acabei chamando atenção de todos a minha volta e eu sinceramente não dava a mínima.
— FICAR CALMA? ME DIGA COMO EU VOU FICAR CALMA VENDO AQUELES IDIOTAS XINGANDO MEU NAMORADO COMO SE SER NEGRO FOSSE ALGO INFERIOR?— gritei furiosa. De onde eu estava podia-se ver ligeiramente o campo, o corredor foi tomado pela presença de alguns diplomatas da La Liga que estavam na beirada do campo com a equipe técnica. Eles me olharam, estavam prestes a deixar o campo pelo óbvio desgaste que aquela situação estavam lhes trazendo.
— Senhorita...
— NÃO! EU NÃO VOU BAIXAR MEU TOM. EU ESTOU CANSADA!— dei um passo para longe do rapaz e encarei aqueles engravatados filhos da puta com sangue nos olhos. Poderia facilmente tratá-los da maneira que eles mereciam por estarem fechando seus olhos para aquela situação.— VOCÊS!— eu apontei para eles e recebi expressões atordoadas em resposta.— Vocês precisam tomar uma atitude com relação aquilo!— apontei para o campo.