II

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E quando Natasha chegou em sua casa, depois das aulas, quem a recebeu na porta não foi seu pai, muito menos seu tio, mas sim um casal de gatos, um macho de sedosos pelos negros e uma fêmea, de macios pelos brancos. Os felinos estavam com ela desde que a garota se entendia por gente e haviam sido o primeiro presente que sua mãe havia lhe dado. Seu pai dizia que os gatos haviam nascido na mesma noite que ela, embora nunca tenha sabido dizer onde estaria a mãe ou mães deles.
_Ah, aí estão vocês, seus sumidos._A adolescente de olhos verdes falou, se abaixando e pegando Yuki, a gata branca, no colo._Onde vocês se enfiaram hoje de manhã, hum?_Quis saber, encarando os olhos amarelados de Yoru, que respondeu com um miado._Uhum, sei. E meu pai? Deu de sumir também, agora?_Continuou a falar com os bichanos, como se eles pudessem a entender perfeitamente, enquanto fazia o caminho até seu quarto, ainda com a gata de olhos azuis no colo. E soltou um suspiro, quando os dois começaram a miar ao mesmo tempo._Sim, sim, eu sei. Ele anda muito esquisito ultimamente, sumindo de uma hora pra outra, sem mais nem me... Ah!_Arfou, ao abrir a porta do próprio quarto e dar de cara com o que, ou melhor: quem a esperava.
Ocupando sua cama, havia duas meninas, com cerca de dez ou onze anos, aparentemente irmãs gêmeas idênticas, desde os olhos, de um laranja vivido, que as dava um ar sinistro, até o último fio de cabelo negro arroxeado, liso, cortado na altura do queixo na frente e pra cima da nuca atrás. Em seus pescoços, combinando com seus vestidos de renda negra, estavam laços de seda púrpura, como se elas fossem um presente.
_Milady._As gêmeas cumprimentaram, em uníssono, encarando a mais velha, que permaneceu estática na porta do quarto por quase dois minutos, em choque.
_Mas o que... Quem são vocês?!_A morena exigiu saber e, sem parar para pensar no que estava fazendo ou porque, soltou Yuki no chão e se apressou em fechar e trancar a porta atrás de si. A felina se sacudiu, fazendo o guizo em sua coleira tilintar, depois miou para o outro gato, que por sua vez já havia se instalado confortavelmente no colo de uma das gêmeas.
_Eu sou Reyko._A menina que estava com Yoru no colo respondeu, olhado para o gato, com um ar curioso.
_E eu sou Ryoko._A gêmea se apresentou, lançando um olhar para o felino também, mas logo em seguida voltando os olhos para Natasha._Sua mãe nos enviou. A partir de hoje somos suas serviçais e devemos obedece-la, Milady._Explicou, em uma voz sem emoção.
_Minha mãe... Que?!_A morena olhou de uma para a outra, sem entender._O que?!_Repetiu, inconformada, ao ver as gêmeas trocarem um olhar.
_Nós somos suas servas agora, Milady._Ryoko respondeu, dessa vez em um tom manso._E devo lhe dizer que no momento é desejo de sua mãe que nos acompanhe. Então lhe pedimos, Milady, que por favor, venha conosco._Continuou, no mesmo tom, encarando a maior._Aqui não é mais seguro, logo esta casa será atacada por anjos à sua procura. E seu pai, infelizmente, não poderia detê-los.
Por quase um minuto completo, a garota de olhos verdes permaneceu estática, encarando as gêmeas. Então, tão de repente que as assustou, se dirigiu ao guarda roupa, com passos rápidos.
_Quanto tempo temos?_Indagou, retirando uma mochila de acampar, que parecia estufada de coisas e certamente pesada, apesar da facilidade que que Natasha a colocou nas próprias costas. Parecia que a garota esperava que algo assim acontecesse há um bom tempo e mal ela pronunciou aquela pergunta, algo parecido com o som de um trovão soou, a poucos quilômetros dali, como se aquelas palavras o tivessem despertado.
_Não muito._As gêmeas responderam, ao mesmo tempo, olhando na direção do som. A mais velha suspirou.
_Me levem até ela._Pediu, simplesmente, em um tom baixo, próximo do resignado.
As gêmeas se puseram em pé no mesmo instante, Reyko com Yoru nos braços.
_Como desejar, Milady.

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