~05~

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   Joguei lenha no chão e cerquei com pedras. Enquanto tentava fazer fogo com uma perneira, ergui meus olhos por um momento, assistindo Merlia escovar Escuridão, aproveitando que ainda havia claridade no horizonte.

— No bolsão da minha sela..._ comentei abaixando meus olhos para as faíscas caindo sobre as folhas secas. _ Tem pano pra uma tenda. Monte!

    Eu duvidava que Merlia alguma vez ja teve que fazer isso. Ela se aproximou das selas no chão, abriu os bolsões e encontrou o tecido. O embolando nos braços rolou seus olhos ao redor e deixou o pano no chão, ela caminhou para dentro da floresta, ouvi o som de algo sendo cortado, um galho partindo e sendo arrastado. Merlia voltou com três galhas, sentou no chão, com um punhal em mãos, cortando a base de cada uma, as transformando em lanças de madeira. Avaliou se estava afiada o bastante, cravou o punhal na terra e se levantou, cravando no chão paralelas as duas galhas e colocando por cima a outra, como uma viga.

    Eu estava parado, sentado sobre os calcanhares com o fogo na pequena fogueira começando a criptar, quando ela se abaixou, pegou o tecido e lançou para cima. Prendendo as pontas, e bateu as mãos afastando a sujeira e observando seu trabalho. A essa altura, a noite ja havia finalmente começado a cair.

— Serve por hora!_ ela sussurrou indo em direção ao riacho correndo ao fundo, que deixava um barulhinho no ar de sua água corrente.

   Eu continuei olhando para a pequena tenda, e olhei por cima do ombro, através a fumaça que subia espantando os insetos, a assistindo lavar as mãos e depois lavar o rosto e alisar o pescoço.

Bom, parecia que a princesinha mimada sabia fazer alguma coisa útil.

***

    A noite tinha caído completamente mais uma vez. Aquele era nosso segundo dia de cavalgada, e foi tão silencioso quanto o primeiro. Merlia não fez nenhum esforço para falar comigo, e na noite passada, ela apenas comeu em silêncio e se deitou embolada em sua capa dentro da tenda, me deixando de vigia.

     Naquela manhã eu havia acordado escorado no tronco com o barulho do farfalhar de algo, e a encontrei ja arrumando tudo para nossa andanças antes do amanhecer.

    Mas agora, estávamos em silêncio olhando para o fogo, a noite escura com algumas estrelas acima de nossas cabeças, e os cavalos dormindo quietos depois de merecido descanso.

   Subi meus olhos, reparando no brilho do fogo refletido em suas íris verdes, enquanto ela observava distraída as faíscas subirem rodopiando a cada criptar da lenha.

  Suspirei puxando meu galho onde havia espetado um pedaço de queijo e levado brevemente ao fogo, e assoprei antes de estender para ela.

     Merlia saiu de seus pensamentos confusa e encarou o queijo, levando algum tempo para aceitar.

— Qual é o real motivo de estarmos indo para Avarya?_ perguntei quase em um sussurro partindo um pedaço de pão e estendendo para ela.

   Merlia me avaliou pensativa, me encarando de esgueira antes de também aceitar o pedaço de pão.

— Meu pai acha que Avarya está conspirando algo. _ ela finalmente sussurrou e fechei minha boca que estava prestes a morder o pedaço de pão e a encarei sério dentro dos olhos. Merlia arrancou uma lasca de seu pão, e voltou a encarar a fogueira _ Não estamos indo para um baile. Estamos indo como informantes de Dazzo.

— E o que necessariamente estaremos lidando?

— Não sei! Mas eles não devem desconfiar. _ Ela murmurou e soltei uma risada nasal de sarcasmo.

— E estamos indo naturalmente não é? Olhe só nossa belíssima comitiva!_ apontei para Trovão e Escuridão, que parecia realmente ter sumido na... escuridão! Ele era só um vulto no meio da noite.

Casamento ArranjadoOnde histórias criam vida. Descubra agora