Casamento Arranjado

~14~

    Aquele par de olhos dourados ainda mais vividos contra a luz de uma tocha me encaram tão ásperos que chegava a ser um completo desperdício. E suspirei baixinho rolando meus olhos ao redor.

    Ainda não havia encontrado um jeito de dizer ao meu pai que não desejava esse casamento, que preferia me casar com camponês qualquer se ele  me olhasse com mais ternura do que o futuro rei ao meu lado.

— Imagino que lady Rosyanne não tenha sido atrativa o suficiente para o manter entretido por tempo o bastante, para que você tenha que vir atrás de mim em busca de algum tipo de diversão. Mesmo que esta seja me insultar de alguma forma..._ sussurrei baixinho e Noah rolou seus olhos ao redor.

— Sua sorte, é que usei seu sumiço para sumir também!_ Noah resmungou entre os dentes _ Se você vai fugir do jantar, ao menos tenha a decência de me convidar para ir junto! Estou morte de fome!

— Arrumamos algo para você aqui!

— Traidora!_  resmungou e torci a cara. _  Não vá para lugares escuros!_ ele murmurou baixo, e apenas deixei um murmúrio de consentimento sair do fundo de minha garganta.

    Algo se torceu em meu interior, a estranheza daquele silêncio que se estendeu enquanto apenas caminhamos entre o acampamento dos lordes e senhorios de casas conceituadas. Eu poderia dizer que foi até mesmo agradável, se não soubesse que tudo não passava de manter as aparências para Noah.

Depois daquela última briga e de tudo que me escapou, ainda não tinha coragem para o encarar dentro dos olhos.

— Eu não ia. _ murmurei quebrando aquele maldito silêncio perturbador, e Noah me olhou de soslaio.

— Não precisa ir para ser arrastada para ele! É tarde... A maioria dos homens aqui ou está bêbado de mais, ou teria muita ousadia para ignorar.

— Hum..._ murmurei rolando meus olhos ao redor e ele fez o mesmo.  _ Acha que aquele ali tem espírito o bastante para levar alguns vitorias amanhã?_ perguntei apontando discreta com o queixo para o mesmo rapaz que continuava afiando sua espada.

    Noah me olhou de soslaio, certamente estranhando que as palavras de minha boca não fossem insultos ou tentando revidar algo contra mim, e sim apenas uma pergunta comum.

     Eu também o olhei de soslaio, sustentando a troca de olhar por alguns segundos antes de manear  a cabeça.

— Parece centrado. Enquanto a maioria dos concorrentes dele, a essa altura da noite, está bêbado de mais para se manter sobre as próprias pernas, ele parece estar lúcido e calmo. Os reflexos dele estarão melhores que os outros com certeza!

— E sem dores de cabeça também. _ comentei e Noah riu, me fazendo contemplar o som de sua risada rouca que fazia seu peito tremer.

— Ninguém poderá dizer que a dor de cabeça foi causada por uma pancada! _ Noah comentou e segurei o riso_ Bom, não para nós três!

    Os olhos dele estavam no rapaz antes que ele me empurrasse sutilmente com o próprio corpo, me fazendo mudar de curso para um novo corredor que ficava aos fundos de duas tendas. Ali era mais escuro, mas a claridade ainda chegava um pouco ali.    Gemidos altos e agudos ecoaram de dentro de uma das duas, e Noah pigarreou assim como eu, enquanto rolamos nossos olhos ao redor.

— Oh céus! Ela está bem? _ murmurei e Noah me olhou de soslaio.

— Acredito que o senhor esteja a punindo por algo. Alguns serviçais comentem erros e...

— Eles estão trepando!_ afirmei dispensando aquela lorota idiota, para que boas moças mantenham sua pureza mental.

    Rolei meus olhos ao redor, observando um trio de homens velhos conversando e bebendo juntos, antes de voltar meus olhos para Noah me encarando estóico.