Ouvia-se o farfalhar das folhas numa brisa suave de verão. Eu conseguia enxergar um céu azul, repleto de pequenas nuvens brancas, entre os galhos da árvore. Protegido sob sua sombra, deitava-me na relva e olhava para cima.
Suspirei. Meu respirar era profundo. Estava tranquilo e, quando enchia meus pulmões, sentia um peso sobre meu peito. O peso mais leve que existe: o do corpo de minha amada.
Sorri. Era hora de sorrir. O peito de Sophiei crescia junto do meu. Eu sentia nossos corações batendo juntos. Ela dormia em paz, e isso me apaziguava. Sua cabeça, envolta em cabelos cacheados, amaciava a pressão. E ali, aconchegada em meu esterno, deixava ambos de nós bem. Seus braços cingiam meu tronco, e seu corpo se colava ao meu.
Era ótimo.
Comecei a fazer um cafuné nela. Foi erguendo a face aos poucos.
-É tarde?-Voz rouca, grave e sonolenta.
-Ainda há tempo.
-Que bom!
Fitou o fundo de meus olhos. Cessei o carinho. Havia algo em seu semblante que era intenso e indistinguível. Ela levantou o corpo de uma vez, juntando seus lábios nos meus.
Sua boca envolveu a minha totalmente. Era quente e úmida. Primeiro, esbugalhei os olhos. Depois, fechei-os aos poucos. Mantive minha mão em sua nuca, acariciando seus cabelos. Só nos separamos quando faltou ar.
E se minhas memórias soam muito detalhadas para um beijo...Saiba que foi nosso primeiro.
Sophiei encostou a cabeça em meu peito de novo, mas continuou me olhando.
-Você...-Sussurrou.
-O quê?
-Gostou?
-O que você acha?
-Hmpf...Essa é uma resposta horrível!
Eu sorri e ela sorriu de volta. A comunicação não verbal era mais eficiente.
Logo, passei a mão por seu queixo e toquei seus lábios com meu polegar.
-Eu te amo. Sabia?- Perguntei com voz firme.
-Acho que você já disse isso uma ou duas vezes...
-Ha! É porque é verdade!
-Estou insatisfeita.
Ergui meu tronco.
-P-Por quê!?-Balbuciei.
-Fernando...Precisamos vir aqui...No meio do NADA...Só para namorar...
-Nada!?- Olhei em volta. Uma borboleta sobrevoava um dente de leão.- Mas que nada produtivo!
-"Nada gera nada",¹ Sales!-Torceu o lábio.
Senti uma pontada no peito.
-Hey! As pessoas não podem saber, querida...
-Por que não!? Do que tens medo!? De QUEM tens medo, Fernando!?
Engoli seco e rolei os olhos.
-Não sejamos promíscuos, ok?
-Já faz um ano, Sales! UM ANO!
Era a tarde do dia primeiro de Março de 1850, fazendo de sua afirmação surpreendentemente precisa.
-Eu só estou preocupado, Sophiei...
-Por quê!?
-Você já teve um début, sabe?
-Ahm...E?
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A Casa do Satã
Ficción históricaFoi no ano de 1849. Fernando Sales estava ansioso pela oportunidade de estudar Direito em São Paulo. O que ele não sabia era o quanto seu colega de república, o poeta ultrarromântico Álvares de Azevedo, o atrapalharia em seus objetivos; nem o mistér...