Capítulo Cinco

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Eu estava deitada em minha cama.

Debaixo de várias cobertas, com meu pijaminha cheio de lhamas.

Era como meus dias começavam.

***

Um solitário raio de sol conseguiu cruzar a cortina e atingir meu rosto. Lentamente, fui abrindo os olhos e escutando passarinhos cantarem lá fora.

O fato de ser sábado implicava a não necessidade de um despertador. E a ausência de um despertador gerava o acordar tarde.

Acordei. E como toda pessoa dedicada, a primeira coisa que fiz foi pegar meu celular. Era hora de checar as redes sociais, nessa ordem: Whatsapp, Instagram, YouTube.

Nesse movimento ritualístico pós-moderno, esbarrei com a informação de que os Falcons haviam vencido o jogo da noite anterior.

Eu não poderia me importar menos com o football. Mas, não pude deixar de me sentir feliz por Damian, instantaneamente. E no próximo instante, me sentir triste pela Gabrielle.

Ela pareceu, em geral, muito abalada durante a semana. E me lembrei de que ela era líder de torcida dos Falcons. (Porque, é claro que ela era! Loira, e com aquele físico!).

Imaginei que devia ser dolorido pra ela voltar a campo, junto de Damian, após o término. Afinal, como líder de torcida, ela basicamente não estaria liderando a torcida pelo seu ex!?

Graças a Deus sempre me faltaram tanto popularidade quanto força de vontade para ser líder de torcida.

Depois de vagar pelas redes sociais, tomei coragem de sair da cama. Calcei minhas pantufas e desci para a cozinha.

Sem nada pronto pra comer e nenhuma inspiração pra cozinhar, me voltei ao Fruity Loops outra vez.

Sábados eram dias parados.

Pensei nas minhas lições de casa acumuladas. Por outro lado, lembrei que eu havia começado a ler meu Fahrenheit 451 e ainda não tinha continuado.

Não preciso nem dizer qual desses ocupou minha noite, né?

Enquanto eu comia, papai entrou na cozinha.

Meu pai era um homem peculiar. Robert era seu nome. Era esguio, com um cabelo falhado, barba rala, e várias marcas de expressão no rosto. Estava com um suéter estampado verde e cinza num daqueles padrões bem brega, estilo Natal. Tinha uma xícara de café preto na mão.

Papai parecia estar sempre cansado. Ele saía de casa ao mesmo tempo que eu e chegava ao mesmo tempo que eu.

A diferença é que ele sempre estava trabalhando. Sem pausas.

Ele era da equipe de marketing de uma grande provedora de internet, sediada em Wichita.

Dava pra ver, nos calos de suas falanges e nas bolsas sob seus olhos, o peso de realizar trabalhos criativos sob demanda.

-Bom dia, filha.-Disse, com uma voz rouca.

-Bom dia, pai. Já de pé?

-É, cansei de dormir.-Ele riu.-Posso sentar contigo?

-Claro.

Ele puxou uma cadeira. Bebericou seu café.

-Como você tá? Tudo certo na escola?-Ele tinha um tom de voz tão quente e confortável.

-Sim.

-E a Irene, como está?-Nunca esquecia de minhas amizades.

-Ela tá bem também.

-Que bom.-Sorriu pra si mesmo. Reclinou na cadeira. Bebeu outro gole.-E o trabalho? Tudo em ordem?

-Tá, sim.-Aquilo me deixou um pouco empolgada.-Outro dia chegou um diário de 1916 lá na biblioteca.-Cochichei e me inclinei, como se fosse um segredo.

Sensação SazonalOnde histórias criam vida. Descubra agora