Capítulo Sete

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Estendi a mão em sua direção.-Elizabeth, amiga dela.

-A Summer tem amigos agora, é? Essa é nova.

Franzi a testa.

Deu um passo pra frente, apertando minha mão.-Prazer, Damian!

-O que você é da Summer!?

-Amigo de infância e bully nas horas vagas.-Riu.-Eu tô zuando. Você sabe que eu tô zuando, né!?

Fiquei em silêncio por alguns segundos.

O cara era estranho.

-Ok.-Dei de ombros.-Boa noite, Damian.-Dei as costas e comecei a ir embora.

-Espera!-Pegou meu ombro.-Onde caralhas a Summer fez amigos novos!? Não lembro de você na escola.

Virei pra ele e agarrei sua mão. Que intimidade era aquela!?-Eu a conheci na biblioteca.-Tentei segurar a raiva.

-A biblioteca!?-Damian tirou sua mão de mim.-Por que alguém iria naquele lugar!?

-Você devia descobrir por si próprio.-Desafiei.

Enfim, dei meia volta e me afastei. Enquanto o fazia, ouvi Damian bater na porta dos Williams. E enquanto esperava alguém vir atender, dizer:

-Boa noite, Elizabeth!-Na voz mais alta que podia.

Voltei para casa.

***

O dia seguinte trouxe um pouco mais da mesma rotina:

Acordar cedo, colocar roupas "chiques", mal ver meus pais, dirigir até aquela catedral dos infernos, ouvir as risadas das garotas populares, chorar no banheiro, conversar com a Summer naturalmente (dessa vez trocamos ideia sobre os filmes que gostamos...Ela é uma garota de dramas, não que isso surpreenda. Concluí que precisava trazer um pouco mais das comédias pra sua vida), suar sangue estudando no curso preparatório e tudo isso...para enfim...chegar na biblioteca às 5...Morta de cansaço.

***

Em retrospecto, dessa vez, cheguei mais cedo. Reclinei o banco e fechei os olhos. Eu só queria dormir. Dormir e...dormir.

Não conseguia mais raciocinar. Há meses, tudo na minha vida estava sem sentido, e meus únicos momentos de felicidade eram breves ao...ler um livro ou conversar com a Summer, eu acho.

Quis chorar, mas segurei a lágrima, com vergonha de mim mesma. Não era como se eu tivesse motivos para chorar, né? Eu tava bem melhor do que tanta gente.

E ainda assim...

Suspirei.

Quando eu era pequena, quis surpreender o Noel na véspera de Natal. O esforço de ficar acordada até tarde só me garantiu a decepção de descobrir a farsa:

Papai comia os biscoitos.

Ri pra mim mesma.

As tragédias da infância viram memórias engraçadas.

Mas o que assustava era perceber que nada mudou. Eu continuava desejando aquilo que estava fora do meu alcance.

Eu queria viver uma vida que nunca poderia ter. O tempo todo me lembravam disso. Mas eu insistia em esperanças idiotas.

Sonhava com ser uma aluna normal naquele colégio, mesmo sabendo que nunca me aceitariam.

E agora mesmo, de olhos fechados, minha imaginação não se contentava com ficar presa dentro do carro. Eu via a parte de dentro da biblioteca diante de mim, com toda a humildade gloriosa de seu imenso acervo. E no meio daquelas prateleiras recheadas de livros, a garota sorridente de cabelos ruivos.

Sensação SazonalOnde histórias criam vida. Descubra agora