Capítulo Onze

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Estávamos do lado de fora. Me parece que os pais de Elizabeth eram bem ativos na igreja, e ficaram atrás, conversando com outros membros.

Liza estava sentada numa das muretinhas que contornavam o estacionamento na frente da igreja. Só a luz amarela dos postes nos iluminava. E ao olhar perto das lâmpadas, podiam-se ver os primeiros chuviscos caindo do céu: começava a garoar.

-Eu não sabia que a igreja podia ser tão...-Tentei me expressar.

-Tão...!?-Ergueu uma sobrancelha.

-Intensa!

-Bem, bem...-Deu de ombros.-Essa igreja certamente é...

-Mas...Devo admitir que...-Busquei as palavras certas.-Eu não acredito em Deus. Não sei se o sermão me vai ser muito útil.

-Nem eu acredito.-Liza ajeitou seu cabelo.-Mas esse é o erro fundamental, dos cristãos e dos ateus...

-Qual!?

-Achar que uma história só tem valor ético se ela for verdadeira.-Deu uma risadinha.-Como se fôssemos deixar de estudar literatura clássica porque Zeus nunca existiu.

Sorri.-Nunca tinha pensado por esse aspecto.

-Eu particularmente...-Pôs a mão no peito.-Não vejo diferença entre a terra ter surgido em 7 dias ou 7 bilhões de anos, entende?

Concordei com a cabeça.

Ouvi passos e gargalhadas. Olhei para trás. Eram os caras da banda.

-Céus, aqui vem eles!-Elizabeth resmungou, pulando do muro.

Os caras pararam.

O baixista tomou a palavra:

-Ora, ora, ora! Senão é Elizabeth Jones!

-Pra você é só Senhora!-Ela respondeu.

Ignorou, estendendo a mão para mim.-E quem é esta adorável moça que trouxe consigo esta noite?

Eu o cumprimentei, mas não tive coragem de dizer nada.

-Ih, não tá vendo que ela já tá comprometida, cara!?-Disse o guitarrista.

Eles todos riram, como se o que ele tivesse acabado de dizer fosse algo totalmente...absurdo?...inesperado?

Não sei. Só sei que Elizabeth não riu. Ela só os encarou. Com as mãos nos bolsos, a postura ereta, a testa franzida e a boca claramente tensionada.

Eu não soube como reagir.

-Liza, eu não deixava ele falar isso de você não...-O baixista disse, ainda rindo.

-Eu não entendi a piada.-Ela disse, bem espaçadamente.

-Nah, ela é muito pura!-O guitarrista rebateu.

-Ben, você vai direto pro inferno!-O baixista comentou, e assim aprendi o nome do primeiro deles.

-Você manda as pessoas pro inferno com muita facilidade.-Disse a minha amiga.

-Até porque, o Conselho Geral está considerando aprovar a ordenação de pastores gays, no fim das contas...-O baterista deu de ombros.

-Qualé!? Isso nunca vai acontecer!-O baixista protestou.

-Por que não!?-Liza disse, de novo, bem espaçadamente.

O baixista a encarou, boquiaberto, confuso ou quase assustado.

Elizabeth enfrentou de volta, sorrindo de lado e erguendo uma sobrancelha.

Eu realmente não sabia o que fazer no meio daqueles dois.

Sensação SazonalOnde histórias criam vida. Descubra agora