Estávamos do lado de fora. Me parece que os pais de Elizabeth eram bem ativos na igreja, e ficaram atrás, conversando com outros membros.
Liza estava sentada numa das muretinhas que contornavam o estacionamento na frente da igreja. Só a luz amarela dos postes nos iluminava. E ao olhar perto das lâmpadas, podiam-se ver os primeiros chuviscos caindo do céu: começava a garoar.
-Eu não sabia que a igreja podia ser tão...-Tentei me expressar.
-Tão...!?-Ergueu uma sobrancelha.
-Intensa!
-Bem, bem...-Deu de ombros.-Essa igreja certamente é...
-Mas...Devo admitir que...-Busquei as palavras certas.-Eu não acredito em Deus. Não sei se o sermão me vai ser muito útil.
-Nem eu acredito.-Liza ajeitou seu cabelo.-Mas esse é o erro fundamental, dos cristãos e dos ateus...
-Qual!?
-Achar que uma história só tem valor ético se ela for verdadeira.-Deu uma risadinha.-Como se fôssemos deixar de estudar literatura clássica porque Zeus nunca existiu.
Sorri.-Nunca tinha pensado por esse aspecto.
-Eu particularmente...-Pôs a mão no peito.-Não vejo diferença entre a terra ter surgido em 7 dias ou 7 bilhões de anos, entende?
Concordei com a cabeça.
Ouvi passos e gargalhadas. Olhei para trás. Eram os caras da banda.
-Céus, aqui vem eles!-Elizabeth resmungou, pulando do muro.
Os caras pararam.
O baixista tomou a palavra:
-Ora, ora, ora! Senão é Elizabeth Jones!
-Pra você é só Senhora!-Ela respondeu.
Ignorou, estendendo a mão para mim.-E quem é esta adorável moça que trouxe consigo esta noite?
Eu o cumprimentei, mas não tive coragem de dizer nada.
-Ih, não tá vendo que ela já tá comprometida, cara!?-Disse o guitarrista.
Eles todos riram, como se o que ele tivesse acabado de dizer fosse algo totalmente...absurdo?...inesperado?
Não sei. Só sei que Elizabeth não riu. Ela só os encarou. Com as mãos nos bolsos, a postura ereta, a testa franzida e a boca claramente tensionada.
Eu não soube como reagir.
-Liza, eu não deixava ele falar isso de você não...-O baixista disse, ainda rindo.
-Eu não entendi a piada.-Ela disse, bem espaçadamente.
-Nah, ela é muito pura!-O guitarrista rebateu.
-Ben, você vai direto pro inferno!-O baixista comentou, e assim aprendi o nome do primeiro deles.
-Você manda as pessoas pro inferno com muita facilidade.-Disse a minha amiga.
-Até porque, o Conselho Geral está considerando aprovar a ordenação de pastores gays, no fim das contas...-O baterista deu de ombros.
-Qualé!? Isso nunca vai acontecer!-O baixista protestou.
-Por que não!?-Liza disse, de novo, bem espaçadamente.
O baixista a encarou, boquiaberto, confuso ou quase assustado.
Elizabeth enfrentou de volta, sorrindo de lado e erguendo uma sobrancelha.
Eu realmente não sabia o que fazer no meio daqueles dois.
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Sensação Sazonal
Teen FictionNuma cidadezinha rural no meio do Kansas, vive Summer, uma estudante colegial que tem um trabalho de meio período na biblioteca municipal. Sua rotina é um tanto pacata, até ela conhecer Elizabeth, uma garota leitora e misteriosa. O que tudo isso tem...