Abri os olhos encarando um fino teto branco, bem pintado. Meu corpo estava relaxado como se eu ainda estivesse flutuando e minha garganta estava quente como quando engolíamos chá pelando. Tinha uma descrição melhor, ela ardia como no tempo seco em que as vias aéreas se irritavam sem a umidade no ar.
Eu fechei os olhos novamente, poderia facilmente me render a uma espécie de sono mas era estranho. Esse tipo de sono era incomum. Dessa vez era curioso, sentia meu corpo firme e forte para qualquer coisa mas a minha mente... Estava exausta devido as experiências que passei. Abri os olhos novamente voltando a encarar o teto. Era um teto normal. Minha visão não havia mudado. Respirei fundo e por mero instinto foquei a minha atenção naquele teto.
Agora sim, agora eu podia ver as fissuras em meio a tinta fresca e a massa que rebocava o teto atrás daquela fina camada translúcida. Podia ver minúsculas aranhas... Quase filhotes andando pelo teto. Me levantei em um pulo. Para as pessoas deveria parecer segundos... Para mim era uma eternidade de novos sentidos.
—Tudo bem? -A voz rouca de Sasuke chamou. Mas eu estava perdida em uma riqueza surreal de detalhes. Podia ver a irregularidade dos vidros da janela e pequenas cores que dele saiam em contato com a luz do sol. Ao virar a cabeça em outro rumo eu pude ver as camadas de verniz em cima do chão de mogno e as variações de tom da madeira em baixo dele. Encarei os raios de sol vendo pequenas partículas de pólen e poeira no ar que pairava. Podia ver as camadas de tinta seca que faziam parte das obras de arte na sala. Só então a minha visão alcançou Sasuke devido ao seu chamado. Ele chamou o meu nome.
Como sempre, mesmo na minha nova condição... Sasuke Uchiha era, perfeito.
Usava uma camisa social azul clara, podia ver as fibras entrelaçadas daquele tecido macio de algodão. Sua pele continuava impecável como se fosse tratada desde sempre por um bom dermatologista e cosméticos caros. Lisa e forte. Era uma pele sedosa porém pálida. Perfeita como mármore. A pigmentação rosada de sua boca estava ali deixando-a tentadora. Pequenos vasos que imitavam os sanguíneos eram os responsáveis por aquela tonalidade. Uma coloração levemente arroxeada pairava na parte inferior dos seus olhos. Uma pigmentação em vampiros que eu sempre admirei. Seus cabelos sempre sedosos e pretos como a noite sem estrelas estavam revoltos. Você podia palpar a maciez deles só de olhar.
Se eu tivesse conhecido Sasuke Uchiha usando esta percepção, a percepção desta vida... Talvez o cultuaria como um Deus. Captei seu olhar. Havia um brilho em seus olhos escuros mas dessa vez, eu podia ver as pupilas em contraste mínimo, quase ínfimo com as suas íris também como obsidianas. Sua beleza permanecia estonteante, havia crescido com a minha nova visão. Se antes ele parecia uma pintura, agora ele parecia o próprio anjo inspirador de obras. Ele sorriu me derretendo, só agora notei sua mão esticada em minha direção. A segurei me surpreendendo com o calor, havia se tornado morno, tínhamos a mesma temperatura agora. Ele me puxou gentilmente para ele. O cheiro de cedro e patchuli estava ali, mais intenso e maravilhoso que nunca. Vinha dele. O senti me abraçar. Ainda me encaixava perfeitamente em seus braços. Estar nos braços dele era um dos melhores lugares para se estar. Retribui o afeto. Pela primeira vez Sasuke se curvou. Como se sentisse dor.
—É a sua vez de não quebrar as minhas costelas. -Disse ele por fim. Eu sempre tive que avisa-lo sobre a intensidade dos seus toques. Raramente ele excedia, só nos abraços as vezes. Ri levemente disto. O senti repousar os polegares em meu rosto.
—Está muito irritada com os novos sentidos? -Agora nos encarávamos.
—Respirar fundo ajuda a voltar para o modo "humano". É preciso focar muito no que se deseja analisar para que os sentidos se sobressaiam como uma sintonização a rádio. -Disse Sasuke por fim.
Basicamente os sentidos sobrenaturais eram um "plus". Eu podia voltar para a percepção humana se relaxasse. Se eu quisesse aguçar os sentidos, e usar os dons sobrenaturais bastava me concentrar naquilo.
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Into The Woods
General FictionUm arrepio frio e gelado iniciado na nuca. Essa era uma das coisas mais comuns a serem sentidas ao pisar em Leaf Village, Washington. Poderiam dizer que era pelo frio e chuvas intensas. Quem fosse mais supersticioso, diria que era por causa das lend...