Olhos escuros

561 63 49
                                    

Depois de Mebuki me apertar diversas vezes em meio a sua alegria, a abracei apertado como despedida e segui o caminho rumo a fila de embarque. Não, sem antes escutar todas as suas advertências. "Não esqueça suas vitaminas", "Não deixe seu pai beber tanto", "Pode me ligar na hora que precisar, a mamãe vai até você correndo!". Uma pequena e leve dor apontou em meu peito ao ver ela se distanciar cada vez mais. Tudo que reconhecia dela de longe era os cabelos loiros em um Chanel curto. Minha mãe pensava ser apenas uma temporada longe dela, dois meses para ser exata. Mas na verdade eu estava indo para tentar me adaptar e quem sabe... Morar mesmo com o meu pai.

...

Mal desembarquei do avião e já estava chovendo. Isso explicava a turbulência mais cedo no voo. Coloquei uma parka verde escura por fim. Assim que sai da fila de desembarque em Port Angeles, vi meu pai com sorriso maior que a cara segurando um pequeno cartaz de boas vindas. Sorri. O uniforme de xerife de GreenLeaf continuava igualzinho, preto. Fazia algum tempo que eu não o via. Desde o meu aniversário de dezoito anos. Ele era um pai muito bom, conversávamos todos os dias e ele nunca me desamparou, eu gostava disso. Vivia pedindo pra que eu passasse uma temporada com ele mas eu não gostava muito do frio de Greenleaf. Não mesmo. Sempre fomos muito unidos. Corri até ele o abraçando fortemente com um sorriso maior que a cara provavelmente. Senti seus braços me acolherem e seu típico cheiro de algo como capim-limão, o cheiro vinha de uma colônia com vidro verde escuro com relevo de flores que ele sempre usava. Eu me lembrava de pegar o vidro para admirar as flores. Me senti segura ali com ele.

—Como é bom te ver filha! -Disse ele por fim. Seu sorriso era bobo direcionado a mim e seus olhinhos pretos brilhavam. O cabelo grisalho com alguns tons ruivos bem desbotados estavam ali. Dando um aspecto engraçado de "rosa".

—Vamos! Guy e Lee não param de perguntar por você! Lembra deles não é? -Perguntou Kizashi animado. A última vez que fui a GreenLeaf eu tinha oito anos. Depois disso meu pai sempre me visitou em Phoenix porque, assim como Mebuki, ou talvez por causa dela, eu odiava o frio.

—Uhn eu acho que sim! -Disse por fim. Acho que me lembrava sim deles. Ele alargou o sorriso e pegou minha mala com animação enquanto sua mão livre enlaçava meu corpo pelos ombros.

—Vamos lá! -Disse ele por fim depositando um beijo no topo da minha cabeça. Eu queria estar animada como ele. Bom, pelo menos sentia algo semelhante a estar "em casa". Coisa que nunca aconteceu. Talvez fossem os ares do interior agindo.

...

Cerca de uma hora. Era a distância de GreenLeaf e Port Angeles. Estávamos no carro, as janelas estavam fechadas pois o aquecedor estava ligado. Era a mesma Ford F 100 azul clara de sempre. Encarava o painel em perfeito estado... Aquilo era uma relíquia. O carro de Kizashi, tinha bancos de couro cheirando a algum produto de limpeza como... Pinho? É talvez fosse pinho. Tocava uma música qualquer nas rádios provavelmente um pop dos anos 2000. Ele apertou qualquer botão voltando a música para um country antigo. Revirei os olhos em meio a um riso fraco... Ele nunca mudava.

Ao norte de Washington, perto Port Angeles, sob uma extensa e intensa camada de chuva, existia a pequena cidade de GreenLeaf, população? 3.385. É para lá que eu estou me mudando. A neblina lá fora estava fraca, mas envolvia as árvores enormes ao redor e "beijava" o lago. Em um dos lados do meu ouvido, meu fone reproduzia uma música qualquer do coldplay. Encarava o céu cinzento pelas pesadas nuvens de chuva. Provavelmente choveria o dia todo. Passávamos pela GreenBridge, uma enorme estrutura de ferro pintada de branco, há uns bons metros de altura do rio. Era uma ponte enorme se quer saber. Ela passava por cima do rio Toluca e marcava a entrada da cidade. Ri ao notar que a floresta continuava a mesma, cheia de pinheiros enormes repletos de neblina. Chegamos a estrada no fim da ponte e seguimos o fluxo até uma placa de madeira com lampiões antigos que eu conhecia bem.

Into The Woods Onde histórias criam vida. Descubra agora