Capítulo 3: Can you serve me, dear barman?

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As ruas de Berkeley tinham pouco movimento, mesmo sendo uma quarta-feira antes agitada.

Estava muito frio. É difícil viver nesta cidade em época de inverno, mas as circunstâncias me obrigaram a sair.

Com meus fones, tentava ofuscar os pensamentos intrusivos na minha cabeça. Acho que foi uma péssima ideia escolher "Sad Girl" como música para ouvir agora, já que me fez pensar ainda mais na minha situação humilhante.

Meus all stars surrados nos pés me causavam certo desconforto, já que fazia 20 minutos que eu andava em direção ao nada. Quero bebidas, é o meu único interesse no momento. Quero algo tão forte que me faça esquecer até mesmo meu próprio nome. Algo que me faça esquecer de Charles...

Viro a esquina e me deparo com um bar noturno. Seria ali mesmo que eu beberia até que alguém me expulsasse de lá. Já posso até prever eu caindo pelas beiradas.

Não havia muitas pessoas dentro do lugar. Ninguém além de um cara desmaiado à direita e outro chorando desesperadamente na mesa à esquerda. Poucas luzes iluminavam o salão, e o foco principal da iluminação era o balcão em si.

A cor predominante da taberna era vermelha, o que, pelo contraste, causava a impressão de uma estranha mistura de tristeza com lascívia. Será que ali também era um bordel?

O clima era pesado. Não que eu também não estivesse pesado, mas a energia triste do lugar estava muito pior que a minha. Em segundos, chego perto o suficiente do homem que em instantes me serviria. Ele é alto, praticamente da mesma altura que Charles, é negro, com lábios carnudos, olhos marcantes e cabelo perfeitamente cortado no estilo militar.

Pedi a ele que me trouxesse a coisa mais forte que tinha na casa. Algo que verdadeiramente me faria alucinar ou ao menos me tirar esse peso emocional que sentia. Ele acenou com a cabeça, sem dizer nada, e em instantes, uma garrafa de uísque estava sendo colocada à minha frente. Pela primeira vez pude sentir uma verdadeira felicidade hoje.

A música que tocava acalmava meus sentidos e as vozes na minha cabeça, mas ainda assim a vontade enorme de chorar permanecia dentro do meu peito. Só The Weeknd para me causar essa sensação. Por isso, bebo o primeiro shot.

Quando percebi, já havia acabado com a garrafa da bebida. Notei isso ao dar uma longa e última golada no copo que estava em minhas mãos. Copo esse que já perdi a conta de quantas vezes enchi hoje.

Então, chequei meu celular, quase não conseguindo desbloqueá-lo. Nenhuma mensagem ou ligação de Charles. Filho da puta.

Já fazia horas desde a nossa briga e ele nem sequer me mandou uma única mensagem? Nem para me xingar ou retornar minhas ligações... para gritar comigo e depois dizer que no outro dia voltaria, que tudo ficaria bem... estou mesmo na merda...

Logo, pontadas de tristeza começaram a cutucar meu coração. Sabia que era hora de voltar a beber, mesmo tendo a certeza de que começava a ficar bêbado.

Bloqueio o aparelho e chamo o bartender novamente, pedindo mais uma garrafa do que antes eu bebia. Outra vez ele não disse nada, apenas atendeu meu pedido, trazendo outro uísque em seguida. Aquilo tinha gosto de morte, mas eu não me importava mais.

— Obrigado. — Digo com a voz abatida e grave, infeliz por lembrar de Charles.

Ele me observa. Acho que podia sentir minha melancolia de longe. E então, finalmente decide soltar as primeiras palavras da noite, comigo:

— Deixa eu adivinhar: péssimo dia? — Ele perguntou. A voz experiente e profunda.

— Ultimamente, todos os dias. — Respondo, engolindo uma dose.

— Espero te ver aqui todos os dias, então. — Ele riu fraco, segurando um dos copos em sua mão. Em instantes, o enxugava.

Tento devolver o riso, mas falho miseravelmente.

— Mas o que te traz aqui? — Ele prossegue a conversa.

— Meu namorado. — Digo, ainda podendo lembrar de sua silhueta. Outro shot é tomado antes de continuar: — Quer dizer, nem sei se ainda somos namorados...

Ele abaixa um pouco o rosto, enxugando mais copos.

— O que ele te fez? — Volta a encarar meus olhos.

Pensei antes de responder.

"Eu não vou abrir meus sentimentos para um cara que mal conheço, num bar com quatro pessoas." — Penso comigo. — "Mas quer saber, foda-se, pior que estou agora não dá para ficar." — Que bobeira, Taylor, sabe muito bem que algo de muito ruim sempre acontece quando essa frase é dita. Está bêbado o bastante para nem conseguir refletir sobre isso?

— Nós brigamos. — Respondi, tomando outro gole de uísque.

— E por que brigaram?

— Olha, sendo bem sincero, é sobre isso que estou tentando esquecer aqui. — Me afundo cada vez mais na cadeira em que estava sentado. Sinto que ainda estou consciente o bastante para lembrar de alguns detalhes, mas seria vergonhoso demais contar a ele toda a briga.

— Entendi... — Ele me devolve um olhar neutro, enchendo dois shots de uma bebida que, no momento, não pude reconhecer. O leve e simpático sorriso ainda estava presente em seu rosto.

— Toma comigo? — Coloca os copos no balcão, à minha frente.

O líquido era verde, e quando vejo, ele ateia fogo por cima. E então, agora quem não dizia nada era eu. Nem ao menos perguntei o que diabos era aquela bebida antes de deixar o líquido descer goela abaixo, em um movimento brusco. Não tinha mais sabor, então não havia reação entre a bebida e minha língua dormente.

Eu não tinha mais noção de nada que fazia. Acho que finalmente o litro de uísque fez efeito e a bebida que ele me dera foi o ápice para que eu finalmente ficasse bêbado. Foi aí que senti meu corpo amolecer, minha visão passou a ficar falha e meus sentidos, defeituosos. Tudo em mim estava relaxado demais para se manter ligado ou em alerta. A paz mental que tanto queria oficialmente eu alcancei.

E então...

— Ei. Acorda. — Pude jurar escutar a voz de Charles.

Lentamente abro meus olhos, baqueado pelo álcool. Olho para cima e não era Charles quem falava comigo: era o bartender.

— Vamos, eu te levo para casa. — Ele me diz, apoiando um dos meus braços em volta do seu pescoço definido.

Não consegui responder nada. Minha língua estava dormente demais para sequer pronunciar uma palavra. Por isso, minha única reação foi me apoiar no homem até seu carro.

E por fim, de novo tudo fica escuro.

Em cortes secos pude ouvir o barulho do carro andando pela rua. Não sabia ao certo para onde estávamos indo. Que Deus cuide de mim para que nada de mal me aconteça...

Ultraviolence: Um Problemático Romance Gay || Brayan Barbieri (Sob Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora