Capítulo 4: Jacob Jones.

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A dificuldade para abrir os olhos foi grande, já que ainda se mantém com certo relaxamento pelo álcool. Pisco repetidamente recuperando o movimento das dobras finas e passo a mexer os primeiros músculos do meu corpo. A sensação é de como se eu estivesse dormindo a meses.

Olho ao meu lado e percebo uma escrivaninha que continha um abajur amarelo e meu celular em cima. Não conseguia reconhecer o local, mesmo tendo dejavús de antes ter estado ali.

Apalpei os lençóis brancos que me cobriam e destapei minhas pernas para que finalmente eu pudesse me sentar na cama. Dei um suspiro cansado e espreguicei meu corpo, repensando comigo mesmo se valia a pena levantar daquela cama. A fadiga me dominava. Foi só com muito esforço mental que peguei meu celular e me obriguei a levantar.

O sol amanteigado adentrou o cômodo com pequenos para raios, sendo levemente cortados pela persiana entortada na janela. Pelo que parecia, eu estava na cozinha da desconhecida casa.

Nauseas eram inclusas no meu estômago dolorido, e a enxaqueca que tomava minha cabeça era praticamente insuportável de aturar. Não me recordava de quase nada da noite passada, tinha apenas flashs da minha saga com as duas garrafas de Uísque e da breve conversa que tive com o bartender. Apenas.

Retiro meu celular do bolso no intuito de checar se havia alguma mensagem ou ligação perdida de Charles. Em minha mente, orava para que ao menos um "oi" estivesse atrelado ao seu nome de perfil quando a tela fosse ligada.

Porém, antes que pudesse continuar a ação, sou interrompido por alguém:

-Oi. -Uma voz familiar ecoa atrás de mim, desviando minha atenção.

Me viro repentinamente e vejo que a voz pertencia ao barman da noite passada. "O que caralhos ele faz aqui?! Ou melhor, o que caralhos EU faço aqui?!" -Entregava minha cara de espanto. Como assim?!

-Com sede? -O moreno pergunta, indo até a geladeira. Seu jeito delicado.

De lá, ele tira uma jarra de água e pega dois copos num armário ao lado. Em seu corpo parcialmente tapado, um sobretudo azul royal mostrava sua barriga tanquinho mais do que bem definida; na cintura, um shorts da mesma cor parecia fazer parte do conjunto do pijama. Era praticamente impossível conter meus olhos diante desse corpo tão escultural.

Ele então preenche os copos com a água e dispõe um à minha frente, no balcão americano:

-Aqui, toma. -A voz não era de mandamento, soava como conselho. Talvez por causa da feroz bebida do dia anterior.

Pego-o em mãos, tomando um gole generoso em seguida. É, parece que estou com sede.

-Eu exagerei um pouco ontem, não foi?

-Diria que sim. -Me responde. -Você parecia ocupado tentando algo ontem.

Eu era tão patético assim que podia ser nítido minha situação? Foi assim que minhas bochechas esquentaram e sinti que se avermelhavam.

-É... -abaixava o olhar -eu queria esquecer de alguém.

-Seu namorado, não é? -Ele diz quase que instantaneamente após eu falar. Okay, isso foi o que realmente me assustou.

-Sim, como sabe? -Um ponto de interrogação era a expressão que minha cara tinha.

-Você me contou ontem. Não se lembra né?

-Não... não me lembro de quase nada... aliás, porque eu estou aqui? -Continuo em seguida. Seus olhos me encarando como se eu fosse o detalhe mais importante do cômodo.

-Você estava bêbado demais e eu sabia que não conseguiria voltar para a casa daquela maneira. -Ele prossegue, vindo mais perto de mim. -Te coloquei no carro e então te acomodei no quarto de visitas, ao chegarmos aqui. Você pareceu bem estragado. -Concluiu, serenamente.

Não o respondi dessa vez, e por isso, um silêncio tomou conta do ambiente. Dentro da casa era quase impossível ouvir os barulhos da rua, algo que me deu medo quando percebi.

Ele me fitava parecendo esperar por alguma fala vinda de mim. Era muita informação para eu processar ao mesmo tempo. Calma, uma hora chego lá.

-Então... -Tusso e ajeito minha postura. -Você pode me levar embora? O dinheiro que tinha foi gasto ontem no bar, e sinceramente, não conheço esse lado da cidade. -A vergonha ainda era presente em mim. Nitidamente presente, aliás.

Ele balança a cabeça positivamente de forma sutil. -Vou só trocar de roupa. Não vou demorar muito. -Volta para atrás do balcão americano. -Pode comer, se quiser. Tem algumas coisas na geladeira e no armário à esquerda. Já volto. -Um sorriso delicado e genuíno sai entre seus lábios ao dizer e sair.

E como prometeu, realmente não demorou. Uns 10 minutos depois já reaparecia na cozinha, com uma roupa elegante, mais ainda sim sutil. Preciso admitir, ele tem um bom gosto para roupas. Montamos em seu carro e então ele passou a seguir o trajeto para o meu endereço.

Só no caminho percebo que o dia já acabava e a transição para a lua era clara, já que outro silêncio constrangedor fez questão de me mostrar isso, quando ocupou o veículo por praticamente todo o percurso. Eu não tinha nem ideia de como começar uma conversa, muito menos se deveria começar uma, então me mantive calado.

Nós paramos na entrada do edifício onde eu morava. Chequei o celular de novo e nada de notificações de Charles.

-Ele nem te ligou para saber onde estava? -Diz ainda com as mãos no volante, olhando para mim a principio, e em seguida, para frente.

"Droga, ele viu o quão insignificante sou para o meu namorado. Ótimo, quem mais falta?"

-Parece que não... -mantinha minha cara séria, emburrado -enfim, -desfaço a expressão. Ele não merece me ver assim pelas atitudes infantis de Charles. -Obrigado por ter cuidado de mim... eu realmente não sei como te agradecer... -declaro, olhando para os meus pés. Meu rosto queimava.

-Ta tudo bem. -Ele diz. -Faça assim, -retira do bolso um pedaço de papel e pega uma caneta solta no guarda copos do carro. -Eu sei que você namora, mas se quiser uma companhia para beber, sair ou simplesmente desabafar, estou a disposição, só me telefonar. Como amigos, combinado? -Outra vez ele expressa o sorriso delicado e genuíno de mais cedo.

Enquanto o moreno falava, eu reparava em detalhes que antes não pude notar pelos efeitos da bebida ou pelo nervosismo: a barba perfeitamente cortada aos lados, seus olhos brilhantes e encantadores, salientados pelo queixo perfeitamente bem angulado; faziam parte dos adjetivos dele. A energia entregava o doce de sua personalidade, mas ao mesmo tempo, seu jeito era calmo, instigante, exalava cultura, ao mesmo tempo que reservado, e as vezes, intimidador. Realmente alguém interessante para se analisar.

Eu estava com vergonha por ele ter me conhecido dessa forma: bêbado e jogado aos cantos. Gostaria que pudesse ter sido diferente, que ele me encontrasse nos meus estados de diversão e alegria, não seria tão deprimente para ele, tampouco humilhante para mim. Nossa "amizade" poderia ter sido começada por outras maneiras... maneiras menos ruins.

-Combinado? -Ele repete, me tirando do mundo mental que as vozes me apossaram.

-Combinado. -Eu abri a porta do carro e me levantei. Algo me fazia querer ficar mais tempo com ele.

Olhei mais uma vez para o moreno e disse:

-Nós não transamos né?

-Não. -Me responde. Pelo jeito que falou, foi sincero, e eu realmente espero que tenha sido. Não aguentaria o peso da culpa por ter traído Charles, mesmo às vezes querendo muito...

-Desculpa, qual o seu nome mesmo? -Nem isso eu sabia. Puta merda, Oliver, você já foi melhor.

-Jacob. Jacob Jones. -Outro sorriso genuíno surge. Agora, de graça. -E o seu é...

-Oliver. Oliver Taylor. -Retruquei quase que instantaneamente. Encarei ele por alguns segundos antes de finalmente me despedir. -Obrigado, Jacob. -Bati a porta do carro e ele seguiu de volta.

Não considerei ter sido um sincero "adeus". Algo me diz ser como um "até mais", Jacob Jones.

Ultraviolence: Um Problemático Romance Gay || Brayan Barbieri (Sob Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora