Começos "sem" romance

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A tão conhecida madeira de carvalho já era palco antigo dos diálogos malucos entre pai e filho. Fazia algum tempo desde a chegada dos brasileiros à ilha, e Cellbit já mergulhava de cabeça em todos os mistérios que assombravam o local.

Mas havia um lado lindo e bobo nele, que passava horas brincando com o pequeno filhote de dragão que lhes foi confiado. Naquele dia, estavam juntos na sala de cinema, assistindo a algum desenho estranho que encontraram com o sinal fraco vindo da ilha.

Do pequeno filhote, apenas alguns ruídos eram ouvidos, então as placas azuis enfeitavam lindamente toda a favela com frases muito motivadoras, não escritas por seus pais, como "desculpa, é que eu sou meio manco". Naquele momento, a risada do pequeno era o alvo da grande admiração do mais velho.

Havia poucas informações sobre as estranhezas da ilha, algumas fitas antigas vistas pelos habitantes, algumas aparições estranhas e entidades de origem desconhecida que sequestravam pessoas e as perseguiram com serras elétricas. Para pouco tempo na ilha, as coisas eram traumatizantes.

Apesar de tudo, Cellbit se mantinha firme, aparentemente tranquilo. Mas as milhares de garrafas de café consumidas ao longo do dia, as olheiras mais evidentes e a constante recusa em sair do escritório provavam o contrário.

"Pai! Que coisa horrível", escreveu o pequeno, ainda rindo.

— Claro que não! Essa foi uma das melhores até agora — nem mesmo o moreno acreditava no que dizia, soltando um riso escandaloso que tentava conter.

Juntos, decidiram que era hora de sair um pouco e deixar que Richarlyson se divertisse com seu outro pai. Caminharam um pouco até encontrá-lo, o de moletom azul andava despreocupado em direção à casa do amigo.

— Opa Fi — ele se aproximou animado. — Estava planejando explorar com o Richas, quer vir junto?

— Ah, valeu cara, mas estou um pouco ocupado lá embaixo — a resposta foi calma, serena. — Que tal numa próxima?

Despediu-se do filho, permitindo que os dois continuassem o dia tranquilos, e voltou para o local de minutos antes, sentando-se em sua cadeira. Encheu mais uma xícara de café e olhou novamente para o quadro organizado ao lado.

A papelada na mesa continha todas as informações sobre o sequestro de Felps, sem nenhum progresso. O código do pato também não avançava. As coisas pareciam nunca progredir naquela ilha.

O barulho constante do relógio começou a enlouquecer aos poucos o jovem detetive, e uma música tema de investigação tornou-se constante no agora não tão silencioso lugar. Aceitando que nada sairia dali, o detetive decidiu começar a descer para o andar inferior.

Desde o episódio com o urso branco, ele tomou a iniciativa de formalizar os Theory Bros e até mesmo construir uma base para o projeto, que teria um novo nome. Com a picareta em mãos, o trabalho se iniciava. Pouco a pouco, o lugar antes preenchido por rochas se transformava no esqueleto de um grande futuro. No entanto, a dificuldade estava em retornar ao andar superior. Sempre que o filho voltava por breves minutos, animado para contar algum fato interessante de sua aventura ou simplesmente para dizer alguma bobagem, o rapaz levava mais tempo do que o necessário. Cansado da situação, ele se propôs a criar um elevador, que, após a fase de construção, seria permanentemente usado para o acesso adequado.

Ao conferir seus baús, Cellbit percebeu que só faltavam duas pérolas para a fabricação do item. Ele pensou em recorrer ao amigo cientista, porém, o mesmo devia estar a quilômetros de distância nessa altura do campeonato, restando-lhe apenas a alternativa de ir atrás dos itens desejados.

Por mais que a ideia de sair de casa não lhe apetecesse, ele se prontificou a caçar os grandes seres pretos de olhos roxos, o que se mostrou uma tarefa mais complicada do que o esperado. Depois do que pareceu uma eternidade, o moreno não havia conseguido nenhum dos itens necessários, tendo que se tornar o "lobisomem pidão" e pedir ajuda aos moradores da ilha.

Em poucos minutos, a resposta chegou de um dos colegas latinos, Roier disse que poderia ir até sua casa e lhe entregaria os itens. Aliviado por finalmente poder terminar a tarefa, Cellbit teleportou até o local.

A visão de quem visse o detetive era a de um moreno alto e esbelto, com cabelos bagunçados, um olhar cansado, empunhando uma espada de diamante encantada, andando pacificamente em direção a um latino quase vidrado na imagem, que por sorte não seria notado.

— Obrigado de verdade, Roier, esses bichos não dropam mais nada - riu cansado.

— No hay problema, ¿cuántas necesitas? - olhava em sua mochila para pegar os itens.

— Só preciso de duas, vou fazer um elevador - encarava o homem à sua frente vasculhando suas coisas em busca das esferas verdes.

— Aqui está, uno, dos, tres, cuatro - animado como sempre, sua agitação trouxe um pouco de vigor de volta ao detetive.

— Obrigado, Guapito! - disse brincalhão saindo dali.

— Ay, Gatinho! buena suerte, nos vemos pronto! - devolveu o flerte entrando novamente em sua base.

Mal sabiam os dois que seria a última vez que esses apelidos seriam usados para fins de brincadeira.

Espanhol de tradutor, e um pouco de como eu gostaria de uma história guapoduo, espero que gostem 💛

Continua?

"Cicatrizes" - Guapoduo (QSMP)Onde histórias criam vida. Descubra agora