꧁༒ Ele te quer como parceira

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A manhã seguinte estava chuvosa. Felizmente sua janela esteve fechada durante a noite, durante a tempestade que tinha dado durante aquela madrugada. Esse foi um dos motivos que a fez apagar de vez, o outro foi o único copo que tinha tomado noite passada. Ela levantou, amarrou os cabelos do melhor jeito que pode e desceu ainda de pijamas com as mãos massageando as têmporas na tentativa de aliviar a dor de cabeça.

Bateu contra a porta e escutou a risada fraca que tanto estava habituada. Seu pai ainda estava sentado a mesa tomando café e comendo torradas com geleia. Alaska não esperava por uma bronca, de maneira alguma, seus pais sempre foram do tipo liberal, ela quem era o tipo de pessoa sem graça que não fazia nada. E certamente ele não faria isso logo agora que estava berando os trinta anos, céus.

Aquilo a fez choramingar.

Morar com os pais a esta idade. Certo, isso não devia ser tão mal, nunca pareceu ser tão mal. No entanto depois de ter vivido ontem como uma adolescente e ter passado a noite sentindo ter uma única obrigação, a escola, era esquisito pensar que agora, na manhã seguinte, estava de volta aos vinte e sete anos. E tinha crianças e animais para cuidar. E uma matilha... sem comentários, para enfrentar.

- A noite foi boa ontem, filha. - Aquilo soou como uma pergunta para, mas foi uma afirmação. Alaska foi logo na gaveta de remédios procurando um comprimido que desse jeito naquilo. Ao menos era fim de semana e não ia trabalhar, até nisso o alfa tinha pensado. É claro que ela ficaria bêbada na sexta a noite e no sábado acordaria exatamente assim.

Engoliu o comprimido minúsculo sem água, com o auxílio da saliva. E se sentou olhando para o jardim através da janela da cozinha.

- Foi a primeira vez que fui numa balada, pai. - A voz falhada a fez tossir algumas vezes, seu pai serviu uma xícara de café e pôs em sua frente. Ela encarou o líquido marrom cujo odiava, mas aceitou e bebeu um gole.

Quente e amargo.

- Está perfeito para uma ressaca, querida. - Avisou. - As vezes sinto que você perdeu tanta coisa. - O tom animado despencou como um investimento mal feito.

A loba olhou para o pai, tão velho mas ao mesmo tempo tão novo, o corpo malhado e robusto com uma postura perfeita, os cabelos tomados pelo tom cinza que deixava sua pele amarronzada ainda mais bonita e charmosa. Sem falar da barba grande, ela não gostava de homens com barba grande, mas em seu pai ficava muito bonito.

- Tá tudo bem pai, eu me acostumei com tudo. - Deu outro gole no café e evitou se engasgar com aquela coisa tão ruim.

- Devo desculpas a vocês por muitas coisas. Filha, eu já fiz muita coisa errada na vida. - Teodor a encarou, os olhos verdes, quase castanhos, com um brilho um pouco mais acabado que o normal. Talvez fosse o cansaço, a idade.

- Tipo o que, pai?

- Tipo matar pessoas.

- Mas a maioria dos machos de uma matilha já fez isso, isso não é nada pai. - Riu fraco. E de fato, para os humanos isso podia ser algo gigantesco como o assassinato daquel fêmea, mas para os lobos isso era muito comum. Precisavam lutar uns contra os outros para defender sua alcatéia, para conquistar seu território, para proteger os seus. - Isso é tão comum que nem é considerado crime. Sabe que o que não podemos atacar a nós mesmos, mas os outros que nos ameaçam tem que pagar alguma hora. - Encarou o pai com um sorriso e o viu engasgar com o café antes de limpar a boca e comer mais um pedaço da torrada.

- Você tem razão. - Olhou para as próprias mãos, num olhar vago.

- Está tudo bem com a mãe? - Batucou sobre a mesa analisando a expressão do pai.

UMA PAIXÃO LUPINA INCANDESCENTE • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora