A criada lançou olhadelas por cima do ombro ao longo de todo o percurso, enquanto ocultava por trás de seus espessos cílios a inerente preocupação que acompanhava sua amável personalidade até, por fim, se desvanecer entre as árvores. Por mais que possuísse uma força inabalável, sua posição social se erguia como um obstáculo constante, limitando as ações do que Hinata poderia fazer. Desafiar um pedido do Rei delineava a fronteira que jamais deveria ser ultrapassada.
Embora Sakura compreendesse, a observou impotente, cada vez mais ciente de que Sasuke a examinava minuciosamente, da cabeça aos pés. Ele permanecia rígido, com os braços cruzados e a pele orvalhada, exibindo a habitual expressão de desgosto que o acompanhara desde que chegou a Suna; o que alimentava a sua desconfiança de que ele não era capaz de sorrir.
Instintivamente o corpo queria chorar junto da tremedeira que possuiu seus braços e pernas moles, fugir e se jogar entre um arbusto para se fingir de flor até que ele cansasse de lhe dedicar alguma atenção. Desejava a distância da espada amarrada na cintura, das cicatrizes riscadas em paralelo na altura dos ombros, do agonizante som da língua estalando em aborrecimento e, sobretudo, do magma horrendo que vazava pelos pés e tentava se enrolar como caracóis em seus tornozelos.
Os sinais eram claros que ele não queria estar ali. Se fosse mais bárbaro, talvez a chutaria até retornarem ao palácio.
A ideia de ser arremessada a destruiu antes mesmo de lutar, involuntariamente, fazendo com que separasse os lábios rosados para gaguejar que a desprezasse com amabilidade. Verbalizou uma única sílaba do martírio, encolhendo-se para a sobrancelha grossa que se arqueou e a desmoronou mais uma vez na covardia.
Ele não a destinou palavras amargas, tampouco continuou medindo-a. Em seu lugar, a feição se suavizou e todo o corpo úmido virou-se de frente para o lago que havia acabado de sair. O carvão opaco deslizou de forma quase gentil, chegando ao local onde Sarada afundou, para, finalmente, cerrar as pálpebras e unir as mãos.
Permaneceu de pé, sussurrando um pequeno pedido de desculpa para o pobre cavalo que afundou e não escapou do afogamento. O tom era grave e tão afetuoso que em nada se assemelhava à infame conversa que tiveram no quarto quando se ofereceu a ele. Ali, diante de sua curiosidade, pareceu tão honrado quanto um monstro poderia ser.Ino na certa a censuraria pela falta de coragem e pouca disposição em erguer o queixo como uma rainha, contudo ela não estava presente. Era apenas Sasuke e o reflexo luminoso que dançou na tez bronzeada e musculosa até que as íris cor de grama seguissem o foco iluminado.
Quando Sarada surgiu em seu pônei desgovernado e pulou no lago com o animal que afundou como se fosse sugado para o fundo, demorou em notar o que acontecia até ver o arco boiando e o corpo viril do marido mergulhando para resgatar a filha.
Ela gritou ao perceber a presença do homem e, instintivamente, o seguiu, apesar de não ter habilidade para nadar, ignorando o objeto de madeira polida e hastes de metal que flutuava nas águas onduladas. Ao ver o arco perdido, a lembrança da garota de pernas longas, magoada por tê-lo arrancado das mãos, desceu como uma constatação óbvia.
Sakura não tinha nada precioso para se apegar, nenhum brinquedo, roupas ou livros unicamente seus. Era possuidora de suas memórias, tendo Ino e Hinata como seus maiores tesouros. Não precisou pensar muito para saber que aquilo levaria a princesa a retornar sozinha ao lago para buscá-lo.
Por um momento esqueceu-se da presença silenciosa do marido de olhos fechados e, com uma expressão quase determinada, o conferiu antes de quebrar a pouca distância até a margem e adentrar a água.
Pela primeira vez seu sentimento beirava a confiança de resolver algo com as próprias mãos.
Com passos decididos e a saia do vestido flutuando ao seu redor, avançou presa na euforia de uma decisão impensada, seus cabelos cor de rosa dançando ao vento enquanto se dirigia ao local onde a princesa havia caído desgovernada.
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O Rei Destruído.
FanfictionNascida e isolada por ser a filha ilegítima de um nobre, Sakura aceitou a miséria e rejeição como fruto de sua gagueira e sangue amaldiçoado. Contudo, na chegada de sua maioridade, a jovem é reconhecida como Lady e declarada a segunda esposa do tira...