O pedido da Rainha pegou o mago de surpresa, dedicando um tempo para medir a imundice do corpo atraente antes de voltar para as íris cor de grama e formular uma resposta. Ela parecia medrosa e pouco ciente da iluminação bonita que permeava sua pele pálida; tão rara que nunca havia vislumbrado até encontrá-la
Foi inevitável não ser transportado para as próprias memórias, afastando o desejo delirante de tocá-la para se limpar com a magia impregnada no corpo trêmulo e tão encolhido. Era atraído para ela como um ímã nocivo, tal qual a origem de sua vida muitos anos antes.
Temari sempre narrava a história singular de seu nascimento, desvelando um conto admirável repleto de detalhes deslumbrantes, capazes de transportar os ouvintes para além das fronteiras da realidade. Não obstante, suas palavras pareciam desnecessárias e mentirosas, uma vez que sua visão transcendia as barreiras do tempo, permitindo-lhe testemunhar memórias que não eram suas, reminiscências do dia em que sua mãe o trouxera ao mundo em uma floresta congelada.A irmã mentia sobre os horrores da tarde em que foi expelido como um natimorto.
Gaara guardava em sua mente a lembrança de um rosto exaurido, pálido e envelhecido pelo árduo processo do parto. Carregando a imagem fixa daquela mulher, cujas coxas manchadas de sangue abrigavam um pequeno corpo inanimado e azulado; uma vida que surgira sem sopro vital. Ele era um ser minúsculo, frágil, com os fios de cabelo loiros e arrepiados, semelhantes aos da irmã que, atemorizada, soluçava inconsolável clamando por atenção.
Posteriormente, ele descobriu que ambas fugiam dos embates incessantes que assolavam seu território, migrando solitárias pela mata em busca de refúgio. Naquele momento, entretanto, ele não compreendia plenamente seu papel enquanto as observava de cima, como um espectador flutuante cuja verdadeira missão lhe escapava.
A progenitora, exausta, encontrava-se prostrada entre as raízes grossas de um pinheiro, envolvendo o pequeno cadáver em seus braços trêmulos. Seus soluços pesarosos ecoavam, barulhentos e alheios à figura esguia, ossuda e silenciosa que deslizava como uma pluma sobre um lago congelado.
Gaara a contemplou com fascínio, seus olhos curiosos acompanhando cada passo daquela figura enigmática. Uma testemunha da fusão distorcida de formas humanas e animalescas, emanando uma presença que o impregnava de tanto medo quanto encanto.
A criatura parecia ter emergido de um pesadelo sombrio, sua pele pálida e translúcida esticada sobre ossos quebradiços. As mãos terminando em garras afiadas e retorcidas, os olhos, vazios e sem vida, brilhavam com um reflexo opaco, refletindo uma escuridão profunda e inescrutável.
Enquanto caminhava, os pés deixavam um rastro de desolação e morte em seu caminho. O gelo se rachava e se despedaçava sob seus passos, como se a própria natureza repudiasse sua presença. Um vento gélido e arrepiante soprava, carregando murmúrios sussurrantes e gemidos angustiantes. O que quer que fosse aquilo, chorava e sofria ao ver a mulher agarrada ao bebê sem vida.
Temari estremeceu assim que a avistou, demonstrando bravura ao posicionar-se à frente de sua mãe, mesmo que enrugasse o nariz na ânsia de tapá-lo. O ar estava pesado, impregnado com um cheiro acre de putrefação que Gaara conseguia sentir mesmo se resumindo a um espectro flutuante.
Ele deveria fugir, deslizar para longe das rachaduras que se abriam para prendê-lo pelo tornozelo e o sugar para longe de um mundo que não pertencia. Um desejo ínfimo o mandava seguir para o outro lado, enquanto a própria atenção confusa se via presa nas sombras distorcidas que se contorciam alongadas, formando figuras grotescas que se erguiam e desapareciam no ar.
Estava enfeitiçado por ela, uma mistura de fascínio e repulsa que se entrelaçava em seu íntimo. Era como se estivesse diante de uma encarnação do mal absoluto, e mesmo assim, unido a todo o magma que carregava a morte, eram os olhos verdes bonitos da criatura que choravam. Os cabelos róseos, com suas pontas arrastando-se pelo solo, tentava consertar a destruição que sua própria existência acarretava.
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O Rei Destruído.
FanficNascida e isolada por ser a filha ilegítima de um nobre, Sakura aceitou a miséria e rejeição como fruto de sua gagueira e sangue amaldiçoado. Contudo, na chegada de sua maioridade, a jovem é reconhecida como Lady e declarada a segunda esposa do tira...