Os pães que Hinata carregava aqueciam o cesto de vime em seu antebraço. A mulher sabia tudo sobre o alimento achatado do tamanho de um palmo; desde a moagem do centeio por moinhos de água, preparação e descanso da massa, crescimento e cocção que os tornava escuros e crocantes. Adorava o cheiro, após crescer trabalhando com vendas nas ruas locais e se tornando esse seu principal alimento.
Mas nunca conseguia sentir o aroma enquanto caminhava pelo Bairro do Contentamento. As ruelas daquele campo da cidade sempre carregava o odor de urina, com passagem estreitas e tortuosas rodeadas de casinhas de madeira com telhado de ardósia; tão juntas que a luz não alcançava o lugar fora do período que o sol alcançava o topo do céu.
Já estava acostumada com a barulheira dos circulantes assim que o dia se iniciava, desviando de água suja despejadas no chão de terra batida pelas portas das residências e enlameando por dentro de seus surrados sapatos de couro cru. "Eu não a vi, Hinata", diziam todos os dias pela manhã, e ela sempre sorria com um aceno de cabeça, mesmo que tivesse que lidar com a umidade e mau cheiro em seus pés no final do dia.
Mancava sem pressa, aprendendo com os anos que correr sempre causaria dor no osso que sustentava a sua coxa roliça. Sua falecida mãe lhe daria um aceno de aprovação se a visse levantar a barra do vestido áspero de burel para não se sujar, mas discordaria quando notasse que passeava na área conhecida como abrigo da prostituição de Suna.
Não demorou para chegar na taberna elevada acima das casas, empurrando a portinhola em concordância com o pedido de desculpa que esperava chegar até quem a gerou vida. Murmurava em pensamento que foi preciso após o falecimento precoce, e que não pôde sarar o machucado na perna quando todos os seus familiares sucumbiam um a um para a febre que derrubou muitos que conhecia. Após isso, vacilou por todos os seus dias, desde que cortava lenha para se sustentar, até na triste passada de volta para o estabelecimento, quando seu futuro noivo rompeu o compromisso por ser manca.
Contudo, ainda possuía o bordel como casa, e as amigas que fez em sua jornada e a cuidavam como mães que iam e vinham de sua vida. Não poderia esperar mais do que recebeu sendo coxa.
— Que perfume de pão fresquinho — Emi a saudou do topo da escada assim que passou pela entrada e bamboleou ao lado de uma mesa, colhendo uma caneca esquecida e se encaminhando até o balcão onde o dono preenchia garrafas com mais bebida dos barris amontoados.
— Só sinto o cheiro de bêbados — brincou, gesticulando por cima do ombro para o trapo que dormia por onde passou.
A risada da mulher era melodiosa enquanto arrumava o vestido e descia os degraus, amarrando novamente o lenço escarlate ao redor do pescoço que sinalizava sua profissão. No meio do caminho soltou um suspiro zangado, falando com o homem que a seguia em sua direção.
— Me apalpar não é de graça — reclamou e estendeu a mão para receber o pagamento pelo afago — Hinata, eu preciso que refaça o meu penteado. Apenas você consegue fazer um bonito que não desmanche até a minha saída.
Hinata apertou os olhos, espiando por trás do caracol castanho até reconhecer Nobu: um cliente assíduo que sempre falava dos olhos cor de mel da prostituta antes de solicitar os seus serviços. Não era um homem ruim, pois segundo a amiga ele apenas ficava alisando-a e dizendo quão bonitos eram seus seios medianos.
— Eu não sabia que Decreto Real permitia o adultério, Nobu — murmurou azeda, largando a cesta no balcão para ajudar o barbudo silencioso que vertia o líquido alcoólico para dentro do vidro — Você também seria multado, senhor que não vê ou escuta.
A censura trouxe um xingo baixo do dono da taberna, que optou por se enclausurar nos fundos do estabelecimento, longe da censura impetuosa, e mais uma gargalhada arrastada da moça seguida de perto pelo ferreiro de pele bronzeada e fios claros.
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O Rei Destruído.
FanficNascida e isolada por ser a filha ilegítima de um nobre, Sakura aceitou a miséria e rejeição como fruto de sua gagueira e sangue amaldiçoado. Contudo, na chegada de sua maioridade, a jovem é reconhecida como Lady e declarada a segunda esposa do tira...