Os corredores do palácio mergulhavam na penumbra, iluminados apenas pelas nuances amareladas dos cristais de dragão, habilmente fixados nas paredes com adornos de bronze, e pela tímida luz da lua que espiava pelas amplas janelas com arcos arredondados. O frio abraço do outono avisava sobre a iminente chegada do inverno.
Os súditos estavam familiarizados com as sensações que o reino oferecia. No verão, sentiam a aridez da areia, o calor que abraçava seus antebraços e o sabor salgado que tocava seus lábios. No outono, as ruas eram tapetes de folhas ressequidas, o vento se tornava impiedoso, e o deserto picava-lhes os olhos. O inverno era um mistério, pois não conheciam a sensação da neve na pele; a Rainha insistia que queimava, mas como podiam saber? Não conheciam nada além das inclementes tempestades.
Contudo, a primavera destacava-se entre as demais, trazendo flores em profusão, frutos que cresciam e atraindo aves de terras distantes. Neste ano, a estação de perfumes parecia se prolongar de forma pouco natural. A flora exibia cores mais vivas, desafiando o esperado bege, e em breve, as chuvas chegariam para lavar os aromas de Suna, preparando o cenário para o próximo ano.
Mas, por enquanto, o cheiro primaveril invadia o palácio através dos pilares rochosos, acariciando o olfato dos residentes.
Caminhando pelo corredor, Hinata mancava ligeiramente, sua saia de vestido suja das palmas das mãos e os dedos úmidos de suor se voltando para a nuca exposta graças ao cabelo enrolado no topo da cabeça. Seu corpo protestava após inúmeras subidas e descidas pelas enormes escadas de serviço, fazendo a perna doer e o quadril latejar atraindo-lhe o fracasso em cada passada.
— Gostaria de fazer uma pausa? — Ino ofereceu suavemente ao seu lado, entrando em sua linha de visão e revelando um rosto descansado, sem o menor sinal de esforço, enquanto praticamente saltitava ao acompanhá-la.
Tanta vivacidade era desgastante só de presenciar.
— Você nunca se cansa? — reclamou retoricamente, sua atenção fixa nos pés inquietos, enquanto se detinha brevemente para massagear a coxa dolorida.
Tinham acabado de deixar Sakura descansando em seu quarto, mais tarde do que o habitual, devido a um raro capricho que a Rainha do Norte manifestara: ensinar as empregadas o dom da leitura. Embora tenha recebido risadas incrédulas das duas quando propôs a ideia dias antes, não conseguiram persuadi-la de outra maneira. "É uma ordem", ela insistiu, gaguejando tanto que quase ficou sem ar.
Foi inevitável não se alegrar ao pensar em Sakura, e como sua determinação surgia para coisas delicadas, porém dispensáveis. Afinal, a força física do povo comum era valorizado por garantir o sustento, não o intelecto. O que aconteceria depois disso? Não se via como uma menestrel, muito menos Ino.
De um estado de espírito melancólico, Hinata passou a esconder a fronte entre as mãos para evitar mostrar o sorrisinho tímido. Amava a soberana com todo o seu coração e sabia que era extremamente afortunada por ter conquistado sua graça. Não podia dizer o mesmo pela terceira serva, que mal recebia atenção dos olhos verdes de Sakura. A monarca demonstrava tanto desconforto com Karin que suas únicas tarefas eram manter-se afastada dela.
Pobres daquelas que, por mero acaso, se assemelhavam à escrava que havia servido à sua senhora.
— Vá para os aposentos enquanto falo com o cavaleiro — Ino tornou a dizer, passando as mãos pelos cabelos loiros na tentativa de alinhá-los.
Como resposta, recebeu um olhar desconfiado. Hinata sabia bem das escapadas da colega ao anoitecer para se encontrar com o primo. Provavelmente fornicavam tal qual duas bestas, e o mínimo pensamento azedava sua saliva. Neji era tão vulgar quanto qualquer outro, embora um tanto mais limpo.
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O Rei Destruído.
FanfictionNascida e isolada por ser a filha ilegítima de um nobre, Sakura aceitou a miséria e rejeição como fruto de sua gagueira e sangue amaldiçoado. Contudo, na chegada de sua maioridade, a jovem é reconhecida como Lady e declarada a segunda esposa do tira...