FLORES

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Olho pelas janelas de vidro, o tempo está mudando, a tela do computador alerta em uma possível tempestade, só espero que dê tempo de ir para casa.
Aos poucos o céu vai escurecendo, e eu ainda estou presa no trabalho, olho no relógio a cada momento.

18:10, 18:15, 18:16...

Mas nada de dar 18:30, o primeiro sinal da chuva da a suas caras, as gotas começam a cair, me levanto de minha mesa em busca de mais café, não que eu goste, ao contrário, eu odeio, é muito forte e me faz mal tomar de mais, como hoje, mas estou precisando.

Com a xícara em mãos me aproximo da janela, observando as pessoas correrem para se esconder da chuva, por sorte, o metrô é próximo, mas o trânsito está infernal, mas quem precisa de carro quando se mora em Nova Iorque?

Finalmente, quando volto a sala já tenho a resposta do email que enviei, autorizando a emissão dos projetos, coisa que meu chefe deveria fazer, mas por que fazer algo que você pode jogar nas mãos dos estagiários?

Organizo tudo, emitindo tudo o que precisa, não quero trabalhar amanhã, a essa altura todo mundo está curtindo suas férias escolares, até mesmo Pablo conseguiu ser aprovado, e eu presa aqui nesse escritório.

Olho ao redor e encontro o buquê junto ao bilhete que recebi mais cedo, sem remetente, apenas com a seguinte frase: "nem todas as ondas do mar são capazes de chegar perto do que sinto quando estou com você".

São rosas vermelhas, um clássico, mas eu ainda acho que tenha sido engano. Viro o cartão prateado, com a frase em relevo, é a terceira vez que faço isso, parte de mim acredita que o nome do emitente e o receptor aparecerão em um passe de mágica, mas tudo o que encontro é "Athena Olympian", ou seja, meu nome impresso.

Respiro fundo e olho novamente o relógio, obrigada universo por ser 18:30. Começo a arrumar minhas coisas, assim que o último email é enviado.

Me encaminho até a saída, e para a minha não surpresa, está caindo o mundo, busco o meu guarda-chuva na mochila, mas a única coisa que encontro são minhas coisas bagunçadas, lembro-me que Serah havia pego emprestado, o que é incrível, pois ela não devolveu.

Arrumo a mochila nas costas, enquanto seguro o buquê com uma das mãos, isso vai ser intenso. Tomo impulso e saio correndo pela calçada, as pessoas estão se abrigando nos beirais dos estabelecimentos, o que quase me dá um vão livre, viro para a direita desviando de uma senhora, enquanto "Watch Me Burn" do Michele Morrone toca em meus ouvidos, giro para a esquerda e quase bato em um poste de iluminação, continuo correndo em direção ao metrô, minha visão já está turva por causa dos pingos que caem em meu óculos, esbarro em uma pessoa que começa a me xingar, mas não dou importância, ele está coberto, eu não.

Quando chego a plataforma da estação, estou sem fôlego, não me dou conta quando entro no vagão, mas está mais cheio que o normal, e as pessoas estão muito molhadas, me sinto uma sardinha enlatada, o cheiro de suor e chuva se mistura a urina que todo o vagão sempre tem, até os ratos correriam daqui, está infernal.

O percurso da estação até em casa leva cerca de cinco minutos andando, não é necessário pegar ônibus, esse foi um dos requisitos de Serah quando sua mãe foi lhe dar o apartamento, e falando em Serah, não há vejo desde o incidente no bar, estou evitando ela, já que ter beijado sua prima foi passar totalmente de todos os limites impostos por mim mesma.

Caminho a passos preguiçosos até o apartamento, a chuva termina de me molhar, e eu sinto cada músculo entrar em desespero em pensar que provavelmente ela estará em casa, -como irei olhar para ela?- abro a porta de casa e retiro meus sapatos, quando levanto o olhar encontro dois pares de olhos me encarando, os azuis de Serah estão escuros, isso sempre acontece quando está chovendo, mas os verdes de Emma estão em um tom de musgo, não sei decifrar, foi a primeira vez que a vejo com essa tonalidade.

12 ENCONTROS ATÉ VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora