O VIZINHO (FINAL)

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- Você vai fugir! - Christina declara pela milésima vez e a ignoro.

- Estou cansada de dizer que vou apenas visitar a minha filha, que entrou de recesso na faculdade. Não posso mais?

- Pode sim, desde que assuma que está usando a Estela para poder fugir do que está acontecendo entre você e o perito gostosão. - Declara sem qualquer pudor. - Nunca pensei que uma chupada dele a deixaria com tanto medo. - Olho-a espantada.

- Do que é que está falando, porra? - Declaro.

- Acha que naquele dia no banheiro, não deu para ver o pé dele, na mesma cabine que a sua? - Questiona, como se fosse algo muito óbvio. - E pelos seus gemidos e falta de ar ao me responder, ele sabe o que faz.

- Cale a boca, Christina.

Algumas semanas já se passaram após o que aconteceu no banheiro daquele bar e mais ainda me afastei dele. Aquele tipo de loucura não poderia ter acontecido de forma alguma. Não era o correto! Embora minha cisma com a diferença de idade ainda seja o principal fator, também tem o fato de sermos colegas de trabalho. Termos qualquer envolvimento é inconcebível.

Entretanto, não está nada fácil lidar com o desejo que sinto cada vez que o vejo perambulando aqui no departamento. Infelizmente, alguns casos exigem que estejamos juntos, já que agora trabalha na área de perícia, mas procuro manter o máximo de profissionalismo, deixando-o consciente de que é apenas esse tipo de relação que teremos.

Mesmo meu corpo se arrepiando a cada segundo que lembra do que ele fez comigo. Foi maravilhoso a um nível imensurável. O pior de toda essa merda é que meus brinquedos, que antes me distraíam, hoje não fazem qualquer efeito sobre mim, pois meu corpo pede os toques dele. Toques maravilhosos.

Por esse motivo, decidi fazer essa viagem para Boston e assim passar um tempo com minha menina que só vejo duas vezes por ano. Vai ser bom para mim sair um pouco do departamento, arejar minha mente em outro lugar, com pessoas diferentes, bem longe dos perigo das ruas paulistas e do departamento. E eu não vou deixar de ir.

- Não vou calar! - Minha amiga declara, tirando-me dos meus devaneios. - Está prolongando uma coisa desnecessária. É só uma foda, Sheila. E não vem com essa de ser politicamente correta, achando que por trabalharem no mesmo lugar, não deveriam ter qualquer envolvimento que não cola. O que mais tem aqui é parceiros de foda. Você sabe.

- O que não quer dizer que eu tenha que arrumar um. - Minha amiga revira os olhos. - Chris, deixa esse assunto para lá, tudo bem? Esquece, pois eu vou esquecer também e seguir como se nada tivesse acontecido.

- Não vai conseguir! Está mais do que na cara que não vai. Talvez tenha se apaixonado por ele. - Declara e então gargalho alto, não aguentando suas palavras. - Está rindo por quê? Isso não é nada impossível. E é muito bom estar apaixonada.

- Você está apaixonada?

- Acho que sim... na verdade, estou sim. Já tem um mês que saio com o mesmo cara e minha mente só quer estar com ele. Então, posso te dizer que sim. - Afirma, me deixando perplexa. Essa é a primeira vez que ouço tais palavras da minha amiga.

- Meu Deus do céu! Perdi a minha amiga.

- Não perdeu! Ela apenas quer viver uma nova experiência de vida. - Fala, com um sorriso ameno no rosto. - Eu quero ter um companheiro outra vez. Meu tempo de casada foi curto demais e não acredito que tenha aproveitado bastante. Não como você.

- Amiga, você está mesmo querendo um compromisso mais sério? Acha que depois de sete anos separada, vivendo no auge de sua independência, vai se agarrar a uma única pessoa?

LENDO CONTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora