Já estava cansada da minha rotina. Todos os dias acordava às quatro da manhã, para me arrumar e ir trabalhar numa empresa de telemarketing, onde iniciava às sete. Pelo certo, o fim do meu expediente seria às duas horas da tarde, mas sempre sou obrigada a fazer hora extra, por isso só saio depois das quatro. Às vezes, alguns euros não valem isso.
Geralmente, tomo banho no trabalho, como na cantina que tem lá e depois sigo para minha faculdade de biotecnologia, a fim de tentar terminar meus estudos e poder sair desse ciclo vicioso e cansativo que é a minha vida. Uma luta por dia, mas uma vitória também.
Chamo-me Thayane, tenho vinte e três anos e há dois moro sozinha numa quitinete alugada aqui na cidade de Palermo, para onde vim morar depois que consegui uma bolsa de estudos numa universidade, não tão conhecida, mas que é melhor que muitas que conheço no Brasil. Embora tenha me escrito para a vaga de arquitetura, que diga-se de passagem é o meu sonho, acabei alcançando uma pontuação apenas para o que estudo hoje.
Não poderia me negar essa chance por causa de um pequeno detalhe. Até porque, nem sempre sonhos se realizam.
No fim, acabei gostando do curso que faço e já estou indo para o segundo período, já que, devido às muitas burocracias para conseguir visto de estudante aqui na Itália, acabei atrasando o início das minhas aulas e fiquei quase um ano na cidade, sobrevivendo com as poucas economias que tinha. Apesar de não gostar de ficar atendendo telefonemas a todo tempo, o dinheiro é bom e me permite viver aqui.
- Como está se sentindo no seu último dia de trabalho? - Petrus, meu único amigo em Palermo que trabalha e estuda na mesma faculdade que eu, questiona. Na verdade, este trabalho foi ele quem conseguiu para mim.
- Estava doida por essas férias! E graças a Deus coincidiu com as da faculdade então... liberdade total! - Jogo meus braços para o alto, sentindo-me demasiadamente feliz.
- Que tal irmos tomar umas? Afinal, hoje é sábado e nenhum de nós vamos trabalhar. - Sugere.
- Vambora! - Aceito na hora, já buscando um carro por aplicativo.
Não demora muito, já estamos num pub próximo a agência em que trabalhamos, onde costumo vir com meu (como eu poderia dizer) amigo colorido aos fins de semana. Paolo trabalha numa empresa de transportes marítimos com o pai e é responsável pela parte de atendimento ao cliente. Não me recordo exatamente como nos conhecemos, acredito que foi numa balada, mas nos demos bem de cara.
- Será que o Paolo está por aqui? - Petrus pergunta.
- Tomara que não! - Falo, bebericando meu Blue Lagon que está maravilhoso.
- Quando vocês vão se assumir, hein?
- Meu amigo italiano, não vamos nos assumir, pois não tem nada para ser assumido. - Sou firme.
- Mas ele parece gostar de você, minha amiga brasileira. - Implica, virando sua Corona.
- Paolo não gosta de mim para assumir um relacionamento, gosta apenas do sexo que fazemos e mais nada. - Falo por cima da música que toca.
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LENDO CONTOS
Short StoryApenas histórias rápidas e aleatórias, mas com muito tempero.