Capítulo 16

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Há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.

- Cecilia Meireles

Pov Harry

Eu acreditava que o amor fosse algo que se desenvolvia aos poucos, conforme duas pessoas se aproximavam e compartilhavam interesses em comum. Nunca imaginei que ele pudesse surgir de forma tão imediata e intensa, como o que estou sentindo agora. Na verdade, eu nem acreditava que esse tipo de sentimento existia. Mas como é possível que alguém, que você encontrou apenas algumas vezes, ocupe sua mente de tal maneira que não consiga mais esquecê-la?

Foi exatamente isso que aconteceu comigo. Desde o momento em que vi Maya pulando nos braços de Cassie, ela simplesmente não saiu mais dos meus pensamentos. Mesmo após dias sem qualquer notícia dela, ainda fico sem reação sempre que a vejo.

– Terra chamando Harry – Jack estala os dedos, tentando chamar minha atenção. O encontro inesperado com Cassie no mercado havia me deixado completamente distraído.

– Oi, desculpa. Estava pensando.

– Cara, você precisa esquecer essa garota – assenti. Ele estava completamente certo. Além de ser inapropriado me interessar pela ex do meu irmão, minha família jamais aceitaria. Minha mãe a detesta, assim como eu a detestava antes de conhecê-la verdadeiramente.

– Vamos, estamos atrasados – chamei Jack, tentando me recompor.

Hoje haverá um evento de inscrições para o Festival no Gelo de Londres. Esse festival ocorre anualmente e conta com diversas competições, tanto individuais quanto em duplas e grupos. Este ano, fiquei responsável por ajudar na organização, já que não vou competir.

– Harry, querido – uma das treinadoras me chamou – poderia buscar algumas fichas de inscrição na outra cabine?

Assenti e fui até a sala ao lado. No meio da multidão, uma pessoa se destacou de imediato. Uma ruiva, com sua jaqueta de couro e boné, tentando disfarçar o rosto, mas aquele cabelo, cor de fogo, era inconfundível. E, além disso, seu rosto era incrivelmente bonito para ser escondido. Ela estava impaciente, esperando sua vez atrás de algumas garotas excitadas com a inscrição. Fiquei surpreso e feliz ao perceber que Cassie estava voltando a patinar, já que nas poucas vezes que a vi no gelo, ela demonstrou um talento extraordinário.

Perdi totalmente o foco do que estava fazendo, incapaz de desviar o olhar dela. Após alguns minutos, finalmente chegou a vez de Cassie.

– O quê? Não! Estou aqui há horas – sua voz se elevou, e comecei a prestar mais atenção na conversa. – Por favor, senhor, eu preciso muito participar.

– Desculpe, mas não há mais vagas para patinação individual, apenas em duplas.

– Eu não tenho dupla, por favor, abra uma exceção, eu preciso muito disso – vê-la implorando partiu meu coração. Ela não faria isso se realmente não precisasse, especialmente depois de prometer que jamais patinaria novamente.

Eu sabia que iria me arrepender, mas não consegui ignorar. Fui até a bancada e coloquei o braço em seu ombro.

– Desculpe pelo atraso, senhor – disse ao responsável, enquanto Cassie me olhava surpresa. – Sou o parceiro dela. Harry Montgomery e esta é Cassie Morgan.

– Não, isso é um engano. O que você está fazendo? – ela sussurrou, confusa.

– Estou te ajudando. Você quer ou não participar? – No fundo, eu esperava que ela dissesse "não", porque eu realmente não sabia como iríamos lidar com isso. Eu jogava hóquei, mas não tinha experiência alguma em patinação artística.

– Eu não patino com ninguém, não mais. Obrigada – ela tentou sair, mas segurei sua mão.

– Vocês vão querer se inscrever ou não? – perguntou o treinador, impaciente.

– Sim – disse eu. – Não – disse ela.

Falamos ao mesmo tempo.

– Sim, pode fazer nossa inscrição – finalizei, antes que ela pudesse retrucar.

– Eu não vou patinar com você, Harry. Não posso – disse ela, frustrada, depois que garantimos nossa vaga.

– Por que não? E por que isso é tão importante? É apenas uma competição boba.

– Eu preciso do dinheiro – ela me mostrou o panfleto, onde dizia que o vencedor ganharia dez mil dólares. – Só estou nesta cidade porque não tenho dinheiro. Assim que eu tiver o suficiente, vou embora, para o mais longe possível daqui, dessas pessoas, de você – suas palavras me atingiram em cheio. Eu compreendia seu desejo de escapar, mas, egoisticamente, não queria que isso acontecesse.

– Deixe-me te ajudar. Ganhamos o prêmio, e você vai embora. Não precisará me ver novamente, se é isso que você deseja.

– Não posso. Não quero correr o risco de te machucar. Eu não suportaria passar por isso de novo – ela parecia apavorada.

– Você não vai me machucar. Eu sei me cuidar. Cresci no hóquei, já passei por muita coisa.

– E se eu acertar sua cabeça com o patins? E se você tiver uma lesão cerebral, como o Henry? – ela começou a chorar. – Eu não suportaria ver você sangrando, impotente.

– Teremos cuidado. Confio em você.

– Mas eu não confio. Além disso, sua família jamais permitiria, e não temos treinador, coreografia, nada. Seria uma perda de tempo. Faz três anos que não patino.

Ela tinha razão. A competição seria duríssima, e os outros competidores treinam desde crianças.

– Nenhum treinador aceitaria nos ajudar, temos menos de três meses. Mas você tem talento e eu estive sempre ao lado de Henry, sei como funciona. Só precisamos de uma coreografia.

– Você sabe que a música e a coreografia são essenciais para vencer, não sabe?

– Sim, mas também sei que conheço as melhores para nos ajudar, Bella e Emma Salvatore.

Cassie riu.

– Você está maluco. Se elas souberem, contarão para seus pais, e eu vou acabar presa novamente.

– Elas não fariam isso. Eu conheço minha família. Apesar de todo o luto pela morte do Henry, elas não fariam isso, a menos que vissem que eu estava correndo perigo.

– Não posso. Preciso ficar longe de você.

– Você vai. E vamos ganhar essa competição, você pega o dinheiro e vai embora. Ninguém precisa saber. Desde a morte de Henry, minha família não assiste mais a essas competições, seria doloroso demais para eles. Não há como descobrirem.

– Tenho medo – admitiu ela.

Eu queria tirar esse medo dela. A patinação era sua paixão, e vê-la afastada disso por causa de traumas era doloroso.

– Eles não te denunciariam. Não fariam isso com você.

– Não é disso que tenho medo. Eu não me importo de passar o resto da vida presa – seus olhos tristes me destruíram – Tenho medo de te perder.

Ela tocou meu rosto com sua mão fria, e ficamos em silêncio por um longo tempo. Eu queria tanto afastar aquela dor de sua vida, mas não conseguia nem curar a minha própria. Como poderia ajudá-la?

Eu sabia que o que estávamos fazendo era errado, mas, naquele momento, parecia a única coisa certa a fazer.

Um casal quase perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora