V - Pine

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Eu passei aquela noite em claro. Algumas vezes eu ia até o quarto observar Tara dormir, lembrava de alguns momentos passados e me sentia mal.

Por ter feito ela chorar, e ficar triste, sem nem saber o porquê.

Soube agora, na verdade... Tara gosta de mim. Tara gosta de mim e eu estraguei tudo com uma briga idiota.

Fui para o lado de fora de casa e acendi um cigarro, me sentando no meio fio. Fumar não era uma coisa que eu apreciava em mim, mas eu fazia isso em momentos complicados. Ou seja... O dia todo.

Olhei na tela rachada do celular, eram 05:16 da manhã e logo o sol iria começar a nascer, eu teria que encarar a realidade (Tara) e tentar ser um pouco madura.

Joguei a binga do cigarro no chão e esfreguei com meu pé em cima. Coloquei minhas mãos frias nos bolsos da calça e entrei para dentro de casa.

Coloquei um pouco de café preto no copo enquanto bocejava de sono e fui até o andar de cima, novamente olhando a garota pela fresta da porta.

Só não esperava que ela estaria acordada.

— Você parece uma psicopata me olhando assim pelo canto da porta...

— Me desculpe. Não achei que estaria acordada tão cedo. Você.. está bem agora, certo ? — Adentrei o quarto deixando a xícara de café na mesinha.

Ela ficou em silêncio e olhou para as próprias mãos encostadas no edredom verde escuro da cama.

Logo me viu, olhou em meus olhos e observei suas bochechas ficaram rosadas. Uma coisa que eu havia reparado, era que ela estava sempre olhando em meus olhos.

Ela se levantou e procurou por seus sapatos, tentando disfarçar a tontura por ter se levantado rápido após acordar.

— Você quer que eu leve você para casa ? Não acho que seja seguro você sair sozinha a essa hora... E está frio.

— Eu sei me cuidar, não sou mais criança. — Achou seus vans pretos jogados embaixo da cama e os calçou.

— Qual é, Tara ! Você não precisa ser assim..

— Assim como ? Uma preocupação para você ? O que eu menos quero é você se preocupando comigo. — Me encarou.

— A horas atrás você estava gritando que gostava de mim, e agora está assim ? É sério, o que eu te fiz ?!

— Eu não sei 'tá legal ?! Eu só quero ir embora, sozinha, sem você ! E pensar...

— Eu achei que finalmente voltaríamos ao normal, mas parece que só piorou.

— Me dê um tempo para pensar... Afinal, eu te beijei sem nem saber o que estava fazendo e agora eu estou extremamente confusa. Mas obrigada, por me tirar daquele lugar...

Ela abaixou o rosto ao passar por mim e desceu as escadas, saindo pela porta da frente e a fechando logo em seguida.

Eu me enfiei em meio ao meu edredom e cuspi tantos palavrões que se alguém pudesse me ouvir, iria me prender por injúria, com certeza.

Três dias depois...

Tara não apareceu na aula, liguei para Sam no dia seguinte daquele acontecimento e ela me disse que Tara estava um pouco mal, mas que em breve voltaria.

Quando ela voltaria ? Eu precisava conversar com ela, ver se ela está bem. Eu estou realmente preocupada.

Wes me olhava de um jeito esquisito, provavelmente sabia o que tinha acontecido e estava me culpando fortemente. Mas ele tem motivos para me culpar, é claro.

Ele amava a Tara, e tentava a unhas e garras me deixar o mais longe possível dela.

Mas a verdade é que ele é um completo bobão que não aceita ser rejeitado. Por mais que ele seja tão bom e tão protetivo com ela. Coisa que eu não fui...

Me sentei em uma mesa de madeira embaixo de uma árvore, olhando aqueles vários desconhecidos do dia a dia andando sem rumo pelo gramado.

Assim que avistei um carro cinza, meu coração saltou e eu senti alguma coisa voltando na minha garganta.

Tara desceu do carro e se despediu da sua irmã ali mesmo. O carro saiu e ela olhou para frente, parecia deprimida.

Vai Amber, vá até ela como nos velhos tempos, de um empurrãozinho em seu ombro e segure o braço dela enquanto da risada de suas roupas de vovozinha. Meu subconsciente dizia.

Mas eu não teria tanta coragem.

Afinal ela ainda estava magoada comigo e provavelmente nem iria querer olhar na minha cara, e muito menos ter eu segurando seu braço, e dizendo idiotices como antigamente.

— Amber.

Eu era algum tipo de idiota que estava sempre zoando alguém, empurrando alguém, e quando eu me metia em brigas a Tara sempre me tirava delas. Uma vez ela levou um murro sem querer no meu lugar e o nariz dela sangrou por uns 10 minutos... Eu era horrível.

— Amber !

— Ham, o que ? A-ah, Tara ?

— Podemos conversar ?

— Claro, tudo bem.

Ela se sentou em minha frente na mesa de madeira e me olhou, da mesma forma que todas as outras vezes.

— Eu... Hm.. me desculpa.

— Por ?

— Te beijar. E depois gritar com você. E, bem.. por ser idiota.

— Você não é idiota, Tara.

— Sou. Eu entendi que você só queria me proteger e se manter longe, mas sabe ? Você ter saído do meu lado foi o que mais me deixou mal. E eu não vou me importar se você não quiser falar mais comigo após eu ter brigado sem saber os seus reais motivos.

— Me desculpa por isso tudo.. Eu deixei você pior do que já estava e só te machuquei mais naquela época.

— Você me machucou sim. Mas... Eu não quero mais isso. Afinal, eu não sei se isso ainda é saudável mas.. hm... Eu ainda gosto de você Amber.

— Gosta de mim ?

— Sim, eu gosto de você. E eu adoraria te beijar novamente.







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