Cap 6-

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O resto do dia foi sem graça, porém quase todo razoável no ponto de vista também sem graça de Jisung.

Depois do intervalo, ele assistiu a mais duas aulas complicadas que acabaram prendendo sua atenção à força, seguidas pelo horário de trabalho que chegou logo após o almoço e o obrigou a ir até a loja de eletrônicos, onde conversou com muitas pessoas a fim de vender a mercadoria batida e se ocupou em colocar as compras novas nas prateleiras.

Jisung não pôde deixar de olhar para Seo Changbin com mais atenção, remoendo as palavras de Minho sobre ele ser um cara legal por trás daquela máscara de durão, e se castigou por isso em seguida. Afinal, ele não tinha que ficar dando importância para o que Minho dizia ou para qualquer um dos seus amigos. Ao seu ver, chegava a ser irracional.

Foi só no fim da tarde que as coisas pioraram, pois Jisung teve que passar na empresa de planejamento festivo para dispensar tudo que já havia organizado para o casamento, e as lembranças lhe encharcaram com uma maré de sentimentos negativos.

Sinceramente falando, Jisung, desde muito cedo, não tinha tanta perspectiva para aquele noivado. Ainda que amasse Chan, ele sabia que reciprocidade não era bem o termo que definia os dois.

Christopher até podia gostar de Jisung, mas amar era uma palavra forte demais. O que os moveu em direção a um casamento não muito previsto mais se assemelhou a uma forte empatia - o achismo de estar fazendo o certo quando na verdade mal se tem noção do que é o errado. Isso, claro, se aplicava majoritariamente a Chan, em virtude de que Jisung não possuía muitas dúvidas acerca da sua futura felicidade ao lado dele. No fim das contas, o desequilíbrio da balança havia sido o verdadeiro responsável. Eles mereciam.

Chegando em casa, o loiro abriu a porta e já foi se deparando com o escuro da sala. Era estranho encontrar tudo tão monótono, visto que Chan sempre chegava primeiro e já ia acendendo todas as luzes. Também não havia aquele cheiro característico de carne vindo da cozinha ou uma música americana tocando baixo na televisão, só havia silêncio e alguns porta-retratos quebrados.

Indisposto, Jisung entrou no banheiro e tomou um banho, se vestiu com moletons confortáveis e se sentou na mesinha onde costumava fazer os trabalhos da faculdade, mas não tinha o mínimo ânimo e paciência para estudar. Era impossível manter a concentração quando tudo naquela casa lembrava seu ex-noivo.

Jisung suspirou, passou as mãos pelos fios descoloridos e fitou o celular ao seu lado. Provavelmente, o número da central de ajuda era o primeiro da lista de chamadas.

Essa foi uma espécie de fuga a qual encontrou para espairecer. Diversas vezes, mesmo quando ainda estava comprometido com Chan, ele apertava aqueles dígitos e desabafava com as meninas que prontamente o atendiam. Gostava mais de falar com uma estrangeira de sotaque bonito, pois seus conselhos eram bons e aliviavam sua tensão.

Tão diferente de Minho.

Jisung fez uma careta só por se lembrar do garoto atrevido e desprovido de sensibilidade. Pensar em ligar para a central e acabar caindo na linha do dito cujo não era o que o Han mais precisava no momento, por isso a hesitação. A outra parte da sua consciência alegava que eram muitos atendentes e que, se por acaso tivesse a má sorte de encontrar Minho novamente, era só desligar como se nada tivesse acontecido. Ponderando um pouco e dando de ombros em seguida, Jisung tentou.

Diferente das outras vezes-talvez pela pessoa do outro lado da linha estar distraída ou coisa parecida o típico bordão inicial foi substituído por um simples olá. Jisung juntou as sobrancelhas instantaneamente e perguntou de supetão:

-Que voz é essa?

"Há quem ache sexy.", o garoto resmungou e só então pareceu se lembrar da cordialidade. "Central de atendimento psicológico. Meu nome é Felix. Em que posso ajudar?"

-Ah, não - Jisung bateu a mão na cara ao se lembrar do quanto Changbin repetia aquele nome enquanto estavam trabalhando, rapidamente associando o dono da voz grave a mais algum amigo de Minho. Parece perseguição! -

"Desculpe?"

Jisung pensou em desligar, mas se deu conta de que estava sendo mal humorado de novo e se lembrou que ninguém era obrigado a aguentar sua falta de educação, ainda mais quem não tinha culpa de nada.

-Não, eu que peço desculpas. Liguei sem querer.

"Está tudo bem mesmo? Se quiser aproveitar a oportunidade, podemos conversar um pouco."
Era tentador, mas Jisung realmente não queria ter contato com Minho ou qualquer outro membro da sua gangue. Não precisava de novos amigos ou qualquer coisa do tipo, só precisava de paz e de um desconhecido para ouvir suas lamúrias.

-Está, não se preocupe. Tenho que desligar agora, adeus.

"Não!", gritou uma voz macia e conhecida até demais, seguida pelo barulho desagradável de algo caindo. Longe dali, Felix lutava com Minho pela posse do microfone e se culpava infinitamente por ter colocado a chamada no viva-voz sem querer e atiçado os ouvidos do amigo que estava no ramal ao lado do seu. "Jisung, oi!", Minho disse alegre, após vencer a luta. "Quanto tempo, né?"

-Bastante o loiro rolou os olhos, irônico. - As oito horas mais longas da minha vida.

"Por que queria desligar tão rápido? Está ocupado?"

Jisung soltou o ar em uma lufada e olhou os livros sobre a mesa.

Aham.

"Oh, que pena. Já estou quase saindo daqui, ia te chamar para tomarmos aquele sorvete."

Que sorvete?

"Aquele que eu prometi pagar se você aceitasse falar comigo na faculdade. E como você foi bonzinho e aceitou...", Minho deixou o resto da frase no ar, fazendo Felix o encarar como se dissesse "é serio?!".

-Não quero nenhum sorvete, Minho - Jisung foi mais duro dessa vez.-E também não quero falar com você.

"Por que não? Eu já disse que só quero ser seu amigo." -Também não quero nenhum amigo. Estava tudo bem quando você só fazia o seu trabalho e me ouvia reclamar, mas se a intenção era levar isso a adiante, pode parar. Eu não preciso de você, ok? Vê se me

esquece! dito isso, Jisung finalizou a chamada e

soltou o celular com força na mesa.

Era melhor assim. Pelo menos agora Minho não lhe encheria mais a paciência, como tinha que ser.

Listen to me - Minsung Onde histórias criam vida. Descubra agora