Cap 7-

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Minho murchou como uma bexiga desprovida de ar.

-Tão grosso-murmurou ao tirar os fones, sua cara de cachorrinho perdido resultando na desistência de Felix sobre chamá-lo de idiota por continuar insistindo em alguém que claramente não queria receber atenção. - Era só ter falado que não gostava de sorvete.

No seu lugar, eu daria um tempo a ele - o australiano apertou o nó da gravata quase totalmente desfeito depois de se engafinhar com Minho e ajeitou a gola da camisa social, a qual era adotada por todos os funcionários - com exceção das garotas- s-como um uniforme padrão da central. - Está na cara que Jisung fechou o portãozinho da amizade e não pretende abrir tão cedo.

- Mas ele não é sempre assim, eu juro -o Lee mais

velho retrucou. Às vezes, ele é legal; às vezes,

-

não, mas eu posso entender essa "bipolaridade" -

fez aspas com os dedos, uma vez que o termo não

se encaixava realmente à situação do Han, embora

servisse para exemplificar a constante mudança do

seu estado de espírito. - Provavelmente, ele deve

ficar mal humorado só quando pensa no ex-noivo.

Do contrário, é uma boa pessoa.

-Mas não justifica a grosseria com quem não tem nada a ver com a história. Imagina se todo mundo fosse descontar os próprios problemas nos outros? Viveríamos em um campo de guerra.

- Tudo bem, você está certo, mas já tentou se colocar no lugar dele? Imagine se Changbin te trocasse por outro faltando pouco tempo para o casamento, o que você faria?

Felix abriu a boca uma vez e voltou a fechá-la em

seguida, engolindo em seco enquanto pensava nas possibilidades; por fim, deu de ombros. - Ficaria triste. E choraria. E assistiria Titanic. E choraria de novo. E quer parar de me fazer pensar

nessas coisas? Já me sinto triste.

- Isso porque você só está supondo, agora imagine Jisung, que está vivendo essa situação de verdade -Minho insistiu em seu argumento, confiante de que ele era completamente válido e conjecturado. Perder um amor assim não é nada fácil, e você bem sabe que cada pessoa tem um modo diferente de reagir a esse tipo de coisa - acrescentou. - Jisung tem que entender que o que aconteceu não foi culpa dele, e que ele não precisa erguer vários muros de proteção como se todo mundo estivesse disposto a atacá-lo da mesma forma.

Se havia uma coisa que Felix tinha consciência, era da teimosia de Minho. Ele não constumava tirar uma ideia da cabeça até que se satisfizesse com o rumo que desse a ela, e dessa vez, com toda certeza do mundo, não seria diferente.

-Oko australiano cedeu, até porque obstinar seria um desperdício de energia. Se realmente quer ajudá-lo, por mim tudo bem, mas não pense que vou ficar omisso caso ele te trate mal novamente.

Minho sabia que as probabilidades de Jisung repeli-lo outras vezes eram bem altas, mas assentiu mesmo assim, crente que conseguiria dobrar o melhor amigo estrangeiro caso o dito cujo descobrisse algo desagradável envolvendo o Han.

E em seu íntimo, esperava que insistir na amizade de Jisung valesse a pena, e que todo aquele esforço não fosse em vão.

A "perseguição" - tal como Jisung intitulou qualquer coisa que o conectasse a Minho ou algum dos integrantes da sua gangue-continuou na manhã do dia seguinte, mas, dessa vez, o Lee podia jurar por todos os santos e forças superiores que não foi sua intenção trombar com o loiro na dobra do corredor. Minho podia ser insistente, mas também não era um detetive que se empenhava em seguir passos alheios vinte e quatro horas por dia. Ele entendia a existência de certos limites.

Mas é claro que não perderia a oportunidade.

- Bom dia! - sorriu. - Você fica bonito de vermelho apontou para o moletom que Jisung usava, e o último se perguntou como alguém conseguia ser tão radiante àquela hora da manhã.

-Achei que houvesse entendido o que eu disse ontem-respondeu, sem qualquer traço de simpatia na voz.

-Entender, eu entendi, mas não levei a sério, não Minho reajustou a alça da mochila em seu ombro. -Por mais que você negue, sei que precisa de ajuda, e aviso desde já que não vou desistir tão fácil.

-Mas eu não quero toda essa sua compreensão, que droga! Jisung elevou o tom de voz, e o outro, sendo sensível a gritos e palavras ásperas, ficou momentaneamente sem reação. O Han, então, se sentiu culpado e voltou a baixar o tom. - Não vê que eu não tenho nada bom pra te oferecer em troca, Minho? Nós mal nos conhecemos. Seria muito mais fácil se você simplesmente se esquecesse da minha existência e continuasse seguindo sua vida. Por que insiste tanto, afinal?

-Não sei - ele não podia ter sido mais sincero. Minho já havia deixado bem claro que se importava com o bem-estar de Jisung, mas a troco de quê? Era uma dúvida que permanecia sem resolução, mas estava ali, martelando insistentemente até então. - Só sinto que devo. E agora sou eu quem pergunto: por que é tão difícil me dar uma chance, afinal?

Jisung expirou com força e fitou a expressão pidona no rosto que o encarava com tamanha expectativa. Não havia como negar que, apesar de inconveniente, Minho possuía um coração carregado de bondade. Era genuíno seu desejo de ajudar, precioso. Minho, em si, era precioso, como uma joia que, apesar da aparência impermeável, se quebrava fácil. Por outro lado, um desejo de testá-lo imergiu devagar, e fez Jisung pensar melhor a respeito.

Se Minho realmente queria conhecê-lo de verdade, então ofereceria-lhe uma única oportunidade e marcaria os dias num calendário, riscando todos os números e circulando só o último, a fim de marcar quanto tempo levaria para que o Lee se cansasse e fizesse como os outros. Uma boa distração; talvez durasse menos, talvez mais, mas até lá podia se entreter com o próprio fracasso.

- Você venceu. Quer ser meu amigo? Ok. disse após alguns segundos de silêncio, assistindo os olhos alheios arregalarem-se em surpresa. - Me espere na saída depois das aulas. Vamos tomar o seu maldito sorvete.

Listen to me - Minsung Onde histórias criam vida. Descubra agora