Cap 11

29 5 0
                                    

Sempre há um professor que ninguém gosta ou ao menos não simpatiza. Esse é um fato incontestável que se aplica em quase 100% das situações, e na turma de Minho não era diferente. Mesmo que bom na hora de explanar a matéria, o Dr. Kim não agradava muita gente com suas feições sempre contorcidas num deboche latente e o mau humor de cada dia.

Entretanto, naquela manhã o homem de meia idade parecia um pouco mais maleável, visto que a primeira coisa que fez ao entrar na sala foi repousar o notebook na mesa e doar sua total atenção a ele, sendo que, na maioria das vezes, já ia passando uma lista enorme de exercícios ou obrigando os universitários a lerem livros de duzentas páginas em menos de uma semana.

Felix, já com os nervos no lugar certo, se espreguiçou e resolveu não fazer nada para gastar seu raro tempo livre. Tanto sua mente quanto seu corpo estavam cansados, pois conciliar estudo e longas horas de trabalho não era fácil para quem só queria uns minutinhos de sossego de vez em quando. Podia-se dizer o mesmo de Minho, que àquele ponto já se segurava para não tombar a cabeça na mesa, dormir e sonhar com seu tão almejado domingo, o único dia da semana em que podia se desligar de tudo sem sofrer consequências, mas havia uma coisa que o inquietava e não o deixava relaxar.

Após dar uma olhada discreta em Bang Chan, que estava sentado no fundo da sala, se virou na cadeira e olhou para o amigo australiano.

-O que você disse para o Jisung? - perguntou baixo. Felix chegara na aula alguns minutos atrasado, por isso Minho acreditava que seu papo com o Han havia rendido de uma forma nem tão positiva, tendo em vista que nenhum dos dois se encontravam calmos naquele momento.

- O que ele precisava ouvir - deu de ombros. - Falei com o Jackson também. Inclusive acho que agora meu nome está escrito no Death Note dele.

O que ele precisava ouvir, Minho não gostou nada da entoação dessa parte.

-Mas você não foi muito grosso com Jisung, certo? -Felix colou suas íris castanhas nas do mais velho.

- Você está gostando dele, por acaso?

-O quê? - o tom de voz do moreno se elevou minimamente, bem como seus olhos cresceram nas órbitas. Claro que não!

- Toda essa sua preocupação com ele não é à toa, eu te conheço.

- Não diga besteiras. O garoto acabou de sair de um noivado do pior jeito possível, acha mesmo que eu me aproximaria dele só por esse fim?

-Eu devia imaginar que você não iria admitir.

-Eu não tenho nada para admitir, Yongbok - Minho falou sério. - Não gosto do Jisung desse jeito, isso é coisa da sua cabeça desocupada.

Não era como se Felix acreditasse totalmente. Ele conhecia o mais velho por tempo suficiente para saber que, quando ele gostava de alguém, não media esforços para proteger e cuidar desse alguém em qualquer situação. E embora a relação que estava tentando manter com Jisung ainda não houvesse tentando manter com Jisung ainda não houvesse chegado em tais parâmetros, estava seguindo o caminho certo. A prova viva disso era que Minho não costumava ser tão tolerante com pessoas de gênio rude, mas, se tratando do Han, sempre encontrava algum argumento que camuflasse suas falhas e justificasse seus atos. Felix estava preocupado com o rumo que as coisas poderiam tomar.

O Dr. Kim se colocou de pé e pigarreou na frente da sala, interrompendo o diálogo dos dois e trazendo a atenção dos presentes de volta à sua pessoa.

- Abram as apostilas nas páginas cento e doze à cento e cento e dezesste. Há alguns textos sobre assuntos ligeiramente polêmicos e eu queria que se organizassem em duplas para escreverem uma síntese com suas opiniões de forma coesa - ditou e algumas reclamações baixinhas foram abafadas no fundo da sala. - Não é complicado, só precido mantê-los ocupados até terminar de organizar algumas coisas que a reitoria mandou - apontou para seu computador e os diversos papéis sobre a mesa. Me apresentem o resultado na próxima aula. E antes que eu me esqueça, sei muito bem o que sai quando as mesmas duplas se juntam para esse tipo de coisa, não é a primeira vez que fazemos trabalhos assim. Portanto, o primeiro de cada fila vai se agrupar com o último, o segundo com o antepenúltimo e assim sucessivamente. Se misturem, quero pontos de vista diversificados.

Mesmo com o ânimo quase no zero, Felix se virou para ver quem era sua dupla e encontrou o sorriso de Chang Seungyeon. Ambos se davam bem.

Já Minho não teve a mesma sorte.

A troca de olhares entre Chan e ele foi hesitante.

Um silêncio desconfortável surgiu quando se sentaram lado a lado, abriram as apostilas e se puseram a ler os temas. Nenhum dos dois conseguia assimilar mais de uma linha do texto sem que os pensamentos tomassem vida própria e começassem a seguir outros caminhos, a concentração deixou de existir. Chan olhou para Minho com o canto do olho. Aquele era um trabalho em que deviam conversar abertamente para trocar ideias, mas, dadas as circunstâncias, essa parecia uma tarefa quase impossível, porém não podiam permanecer em silêncio para sempre.

Chan pigarreou.

-Eu sei que não é da minha conta, mas... - hesitou por um instante. Minho viu nesses poucos segundos uma chance de se pronunciar também, visto que sua língua chegava a coçar dentro da boca.

- Ele é meu amigo. Ou um meio amigo. Ou talvez um quarto de amigo. Enfim, não leve em conta os boatos que ouviu por aí.

-Não, tudo bem. É só que... - Chan molhou os lábios, baixando o olhar para o tampo da mesa.- Bom, isso pode parecer muito hipócrita da minha parte, mas eu nunca quis nenhum mal para Jisung, de verdade.

-Então, por que o deixou daquele jeito? - antes que pudesse perceber, a pergunta escapou dos lábios de Minho. Não que isso seja da minha conta também, mas seu casamento estava marcado e do nada você fugiu com outro cara.

Ele esperou que Chan se irritasse pela ousadia e que não fosse respondê-lo, mas tudo que o loiro fez foi soltar um suspiro entristecido.

-Eu fui covarde-admitiu. - Muito covarde por não ter conseguido olhar nos olhos dele e dizer a verdade... Eu gosto do Jisung, mas... Mas não estava nos meus planos amar o Seungmin — a última parte saiu quase sussurrada. - E eu sabia que machucaria Jisung caso contasse isso a ele, por isso evitei por tanto tempo. Só que, no final, acabei o machucando duas vezes mais.

Minho examinou as feições alheias com atenção e não notou nada que evidenciasse mentira - de fato, Chan não estava mentindo. Ele podia ser inconsequente, porém não era um completo imbecil e, mesmo que a vergonha travasse suas ações, ainda queria ter uma conversa com Jisung, no futuro, para talvez conseguir seu perdão algum dia.

-Mas é como dizem: a gente não escolhe por quem vai se apaixonar- - continuou Chan, sorrindo fraco. -Eu não pude dar ao Jisung tudo que ele merece, então, espero, de coração, que ele encontre alguém que possa dar. Enfim, desculpe pelo desabafo.

Minho, no que lhe diz respeito, não achava que o problema era se apaixonar por uma pessoa estando comprometido com outra e até concordava com Chan no sentido de que essas coisas eram mesmo inevitáveis. O verdadeiro erro, em seu ponto de vista, era não ser sincero e não ter caráter o bastante para admitir isso antes que fosse tarde demais. As coisas poderiam ter sido um pouco mais fáceis se Chan tivesse jogado limpo com Jisung desde o início e terminado o relacionamento sem a necessidade de enganá-lo por tanto tempo.

-Não precisa se desculpar.- Sua resposta, entretanto, foi essa. - Todo mundo faz umas besteiras de vez em quando e, mesmo tendo errado, eu entendo que você teve seus motivos, sendo eles válidos ou não.

-Entende mesmo? -Chan estava surpreso. Não - esperava receber aquele tipo de reação de alguém, muito pelo contrário; diante dos seus atos, nem a própria misericórdia conseguia ter, que dirá a dos outros.

Minho assentiu e Chan deixou um riso suave escapar. Obrigado. Seja como amigo, meio amigo - ou um quarto de amigo, você é muito bom. Jisung tem sorte.

O Lee o acompanhou no bom humor, mas não conseguiu poupar a ironia em seu riso.

-Quem dera... Vamos voltar ao trabalho? Daqui a pouco a aula termina e ainda não fizemos nada.

Chan assentiu, abrindo a apostila novamente. Minho fez o mesmo, porém ainda havia algo formigando em sua cabeça.

Felix e suas malditas hipóteses.

Listen to me - Minsung Onde histórias criam vida. Descubra agora