Desespero

32 3 1
                                    

   A dor não me deixava. Era como uma sombra, sempre ali, presente, sem descanso. Às vezes, era difícil dizer se doía mais no corpo ou na mente. Tudo parecia distorcido, confuso nas paredes dessa confortavel cela agora sem correntes. Mas dentro da minha cabeça... tudo se misturava.

   Eu tentava fechar os olhos, buscando algum alívio, mas só me afundava mais nas lembranças. A mansão. O sorriso cínico de Ayato, a provocação constante de Laito. Reiji sempre sério, sempre calculista. Eu conseguia vê-los com tanta clareza que era como se eles estivessem ali, do meu lado. Só que não estavam.

   "Será que isso é mais um sonho?" me pergunto, sem saber se estou acordada ou perdida em mais um pesadelo. O tempo aqui se tornou um borrão, e a dor se misturava com o que Clara fazia comigo. Eu sabia que ele queria apagar minhas memórias deles. "Você não precisa deles", ele dizia, sua voz fria como a própria cela onde estava presa. "Eles te enfraquecem... E eu preciso de você inteira."

   Eu tremo, mas não é por medo. Não mais. Acho que estou mais apavorada com a ideia de esquecê-los. De perder as poucas lembranças que ainda me conectam à vida fora deste lugar. Quantas vezes já tentei escapar? Quantas vezes falhei? Já nem sei mais.

   Lá fora, a tempestade parece não ter fim. A chuva bate forte no chão, um som constante que se mistura com a sensação de estarmos isolados do resto do mundo. "Quanto tempo mais consigo aguentar isso?" A pergunta ecoa na minha cabeça, mas não tenho resposta. Só sei que há algo dentro de mim, uma pequena chama, quase apagada, mas que ainda arde.

   Então, eu ouço. Passos. Lentos, ritmados, ecoando pelos corredores. Meu coração dispara. Tento respirar fundo, me preparar para o que quer que venha a seguir. Mas a verdade é que não importa quantas vezes isso aconteça, eu nunca estou preparada.

   Para minha surpresa, era apenas o mordomo, com sua expressão impassível, carregando uma bandeja de comida. Soltei um suspiro aliviada, mas a sensação de estar presa não me deixava. Agora, meus dias se resumiam a essa rotina. Não mais na fria masmorra, e sim em um quarto – um pouco mais confortável, mas ainda uma prisão.

   Eu deveria estar grata. Pelo menos estava dormindo melhor. O colchão era macio, e as correntes tinham sumido, mas a sensação de confinamento permanecia, como uma jaula invisível. Toda noite, os pesadelos vinham, e a cada manhã eu acordava mais cansada do que antes. Meus pensamentos vagavam entre o que eu era e o que estou me tornando.

   O mordomo colocou a bandeja sobre a mesa, silencioso como sempre, seus olhos nunca me fitando diretamente. Era como se ele soubesse mais do que demonstrava, como se pudesse ver através de mim, para todos os segredos e cicatrizes que eu tentava esconder.

— Por favor, coma — ele disse com sua voz monocórdia, sem emoção.

   A comida parecia boa, mas o apetite me faltava. Mais uma vez, eu estava sozinha, cercada por paredes e silêncio, com meus próprios pensamentos como companhia.

   Em vez de comer, levanto da cadeira sem dizer uma palavra. Sinto o olhar discreto do mordomo me seguir, mas ele não ousa interferir. Meus passos me levam até a sacada, onde o vento gelado da chuva me acolhe. A água escorre pelo meu rosto, pelos meus braços, molhando meu corpo inteiro. Não me importo. Ali, de frente para o céu cinzento, com o som constante da chuva batendo no chão lá embaixo, sinto um estranho alívio, como se a chuva pudesse levar todo o peso que carrego.

   Olho para baixo. A altura faz meu estômago se revirar por um segundo, mas depois só me traz uma estranha paz. Me pergunto, enquanto observo o abismo, o que aconteceria se eu me jogasse? A lembrança de Kanato surge na minha mente, aquele olhar vazio, aquele sorriso perturbador enquanto ele caía. Ele parecia tão... livre. Será que seria fácil, rápido? Eu sentiria dor ou seria o fim de tudo, finalmente?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 08 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Diabolik lovers: Dark fateOnde histórias criam vida. Descubra agora