VI - Irmãos

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Seu suor tinha um gosto amargo enquanto corria, carregando sua irmã de 3 anos nas costas, o garoto corria o mais rápido que podia. Ele ia tão rápido, que quase não era possível enxergar a floresta com clareza. Ele não sabia para onde estava indo, ele apenas tinha a forte necessidade de correr e afastar sua irmã da presença monstruosa que se aproximava. Sua testa pingava, seus cabelos já estavam encharcados de seu suor. Suas bochechas estavam lambuzadas de lama, quando há alguns minutos atrás o menino tropeçou e rolou sobre o chão, segurando sua irmã em seu colo. Foi nesse momento que ele decidiu colocá-la em suas costas.

Os pés descalços e minúsculos do garoto já estavam imundos e feridos, de tanto correr, pisoteando galhos espinhentos e pedregulhos pelo caminho. Os cabelos ruivos de sua irmã balançavam com o vento e a pequena menina enfiava seu rosto nas costas suadas de seu irmão mais velho, na tentativa de afastar aquele barulho assustador de seus ouvidos. Os grunidos da besta se espalhavam em eco, ressoando nos ouvidos das duas crianças perdidas na floresta. Aquelas passadas medonhas, derrubando árvores e esmagando animais com aquelas patas gigantes.

O garotinho assustado lembrava-se que naquele mesmo dia, pela manhã, estava tudo bem. Seus pais estavam sorridentes com a boa colheita, todas hortaliças cresceram muito rápido com a ajuda do poder quase mágico de sua mãe, ela tinha o dom de semear bons frutos e assim, ela sempre plantava o grão correto. Seu pai se sentia sortudo de ter uma mulher tão especial como ela. Seus pais prepararam um banquete especial, convidaram os vizinhos, serviram uma mesa farta.

Enquanto todos sorriam e apreciavam as delícias preparadas por Magda, as crianças brincavam pelo minúsculo jardim de sua mãe, onde ela plantava orquídeas. Magda era uma mulher muito ligada à natureza, aos animais e às plantas, principalmente. Curiosamente, ela sempre sabia o que os animais queriam. Alguns supunham que ela podia falar com eles, quem sabe. Mas, ninguém teve a oportunidade de descobrir, pois enquanto todos estavam entretidos conversando e se deliciando com o banquete disposto sobre a mesa, as duas crianças encontraram um animal muito diferente de todos os outros, muito maior que o comum e também, muito assustador.

Dio, o marido de Magda, de repente ouviu as risadas de seus filhos se transformarem em gritos horrendos de pavor. Aquilo que se aproximava não era um animal, era uma besta gigante do Mundo das Trevas, uma criatura de corpo magrelo e avermelhado de sujeira, uma boca enorme de dentes pontiagudos, orelhas grandes e pontudas, porém sem olhos. A besta tinha um corpo humanoide, contudo, ela se sentava como um canino e corria como um também. Os membros inferiores da criatura eram como de um cachorro, com patas e garras afiadas. Um enorme Grunski, como era conhecido no Império das Trevas.

Dio não pensou duas vezes antes de pegar seu machado para defender sua família, porém Magda, sendo a mãe protetora que era, também não teve dúvidas do que iria fazer, ela correu até a besta e se colocou à frente de seus filhos. A mulher estendeu os braços para a fera que lambia os lábios, salivando o gosto de carne fresca a que todos cheiravam, dizendo palavras para acalmar a besta. Portanto, aquilo não era um animal para que fosse encantado, tampouco um ser humano, ou uma planta. Era uma criatura que nenhum deles sabia de onde vinha e como foi parar naquele pequeno vilarejo em Damario.

- Gálio, proteja sua irmã. - Magda disse para o seu filho mais velho, preparando-se para o que estava por vir. Pela primeira vez, a mulher usou seu poder de forma consciente, de modo a parar a criatura naquele lugar.

Os convidados corriam desesperados, gritando de medo. Todo o pequeno vilarejo estava em Pânico. As pessoas estavam desesperadas, buscando abrigo. O menino, porém, estava paralisado, segurando a mão pequenina de sua irmãzinha, Lárissa. Ruiva como a mãe. As narinas de Magda ardiam e sangravam, seus olhos queimavam como brasa e ela rangia os dentes tentando conter aquela imensa criatura longe de seus filhos. Dio agarrou Gálio pelos ombros, olhando em seus olhos, aflito.

Guerra dos Deuses - Caos ProfanoOnde histórias criam vida. Descubra agora