A fera selvagem de pelos avermelhados corria desnorteada pela floresta, sua visão estava limitada, sua mente uma verdadeira bagunça. Tudo o que a garota dentro da gigantesca raposa lembrava, era de correr com seu cavalo, freiar bruscamente ao ver uma mulher no meio do caminho, e então, cair do cavalo tombando a cabeça para trás. Embora a dor da batida não existisse mais, ela ainda podia sentir as unhas afiadas daquela mulher roçando em sua garganta enquanto ela entrava em sua cabeça, despertando todas as memórias adormecidas de seu passado, tanto as felizes quanto as ruins. E conforme Lárissa lembrava de cada minucioso detalhe, sua mente se abria para trazer à tona memórias passadas de uma vida que ela não sabia ter vivido. Lárissa lembrou-se até mesmo de seu primeiro nome, Liska. Em meio a balbúrdia de suas memórias perdidas, Lárissa viu um rosto que fazia seu coração bater, o rosto de alguém que ela amou, mas que agora já não existia mais.
Quando a garota voltou para o presente, sabendo do que perdera em sua outra vida, sua consciência foi tomada por um ódio visceral, sua garganta seca anseava por sangue, por morte. Lárissa não era mais a mesma depois de tudo o que vira passar diante de seus olhos. Transformada na enorme raposa, ela corria descontroladamente seguindo o cheiro de uma presa cujo cheiro inundava suas narinas e quando ela avistou longos cabelos dourados, ela acreditou ser aquela a sua presa, contudo, a mão pálida estendida da garota de cabelos dourados, criou uma barreira tão poderosa que jogou Lárissa para trás. Atordoada, a raposa levantantou-se rangendo os dentes, preparada para atacar quantas vezes fosse preciso até rasgar aquela pele pálida em mil pedacinhos.
- Liska? - A voz doce e amável chegou aos ouvidos da garota-raposa como um afago, acompanhada de um rosto deveras familiar. Aquelas linhas ovaladas, as bochechas coradas, os olhos verdes brilhantes e o sorriso meigo... Certamente era ela. A garota por quem deu a vida no passado. A garota por quem se apaixonou perdidamente. A garota que a encontrou na floresta quando era apenas uma filhotinha abandonada. Essa mesma garota agora tinha o rosto emoldurado por cabelos dourados, mas com certeza ainda era a mesma de quem agora se lembrava. - Liska!
Os pelos arrepiados da raposa se aquietaram e Lárissa, ou Liska, reconhecia a garota que fora sua dona quando em sua vida passada, Lárissa era apenas um animal místico considerado raro.
. . .
PASSADO
- Peguei você! - Murmurou o homem de longos cabelos pretos e lisos, agachado no chão para enfiar suas mãos numa minúscula toca no tronco de uma árvore. Lá, naquele minúsculo buraquinho, escondía-se um filhote de raposa. Mas, não uma raposa comum. - Você é especial, pequenina! Que olhos escuros mais lindos!
A pequenina raposa rosnou para o homem que a segurava nas mãos, mordendo-o logo em seguida, enfiando seus dentes profundamente no braço exposto dele, sentindo o sangue escorrer pela sua garganta. Porém, ao invés de ficar assustado, ele afagou a cabeça peluda do filhote e sorriu bondosamente.
- Você pode me machucar à vontade se isso a fizer se sentir mais calma. Sei que entende o que eu digo, porque você é de fato muito especial. Raposas da sua espécie tem incríveis habilidades e são fiéis companheiras. - A raposa fincou seus caninos afiados ainda mais profundamente, tornando seus olhos muito mais escuros.
O homem sentou-se no chão e continuou acariciando a cabeça daquela filhotinha atrevida, cheia de personalidade e estratégia. Aquela pequena era uma das últimas, senão a última de sua espécie. Ela estava sozinha desde que nasceu e não teve sua mãe para lhe ensinar como caçar, ou muito menos como sobreviver. Há dias que ela não se alimentava e andava sozinha em busca de sua família. No seu primeiro dia de vida, ela abriu os olhos sozinha, sua mãe partiu e nunca mais retornou. Aquele ser diante de seus olhos era estranho, diferente de tudo que ela conhecia, portanto ela o considerava uma ameaça. O homem sorria amigavelmente, entao usou sua mão livre para abrir sua bolsa de couro e tirar de lá filetes de carne que cheiravam muito bem nas narinas da filhote. Quando o homem ofereceu os pedaços, ela não pensou duas vezes antes de soltar o seu braço e abocanhar aquela carne tão cheirosa.
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Guerra dos Deuses - Caos Profano
FantasyStacy é a filha da rainha do Mundo de Plandar, mas também é filha do Lorde das Trevas, o principal inimigo dos plandarianos. Ela está dividida entre dois mundos, tentando salvar a ambos dos planos maquiavélicos de seu próprio pai. Só que agora exis...