XIV - O Mundo das Trevas

6 1 1
                                    

PASSADO

Eu não sei por quanto tempo dormi, ou porque meu corpo parecia tão cansado. Minha cabeça estava latejando e minha visão estava turva, mas no teto acima de mim eu podia enxergar falhamente um candelabro aceso que balançava de um lado ao outro. Então, um rosto embaçado surgiu diante dos meus olhos, não pude distinguir o gênero da pessoa que amparava meu rosto entre as mãos, mas o calafrio que se instalou no meu corpo era o suficiente para sentir que havia algo de muito errado. Pessoas conversavam entre si enquanto meu corpo se debatia e minha pouca visão apagou de vez. O ar que preenchia meus pulmões era denso, forte e parecia inchar o caminho por onde ele passava, entopindo minhas veias e artérias, fazendo com que meu corpo convulsionasse.

Aquela estranha sensação, o sangue escorrendo pelo meu nariz, os espasmos... Eram de todo reconfortantes. Minha ida para Oceano fora da mesma forma. Meu corpo rejeitou Oceano, até que finalmente eu pude conviver com ela abaixo de suas águas profundas. E assim como Oceano, o estranho homem que emoldurava meu rosto com suas mãos, soprou seu hálito quente nas minhas narinas. Em algum momento, eu adormeci mais uma vez. Quando acordei, não haviam ruídos, ou até mesmo luz. Felizmente, ver no escuro também era uma habilidade que eu possuía. No escuro, meus olhos brilhavam como duas bolas de prata, meus cabelos estavam úmidos e eu estava jogada sobre o chão sujo de algum calabouço tão profundo que eu sequer podia ouvir os sons. Não haviam pessoas, eu estava completamente abandonada naquele local úmido, largada em meio àquele silêncio perturbador.

Usei meus braços para sustentar o meu peso, contudo eu estava fraca demais até mesmo para levantar. Nesse momento, fez-se um barulho de uma trava sendo aberta e da direção da porta, surgiu uma mulher muito familiar. Era a mesma mulher que montava o dragão que arrancara as pernas de Ísis. A mesma mulher que havia me convencido a me entregar ao Império das Trevas, a mesma que agora entrava naquele lugar imundo acompanhada do que pareciam ser guardas, enquanto ela trazia uma tigela contendo um líquido viscoso.

- Ponham a garota de pé! - Ordenou a mulher.

Apenas nesse momento eu percebi que haviam correntes presas aos meus pulsos, calcanhares e pescoço. Os dois homens atrás dela se afastaram, acendendo tochas nas laterais da caverna oculta, iluminando o rosto pálido e pontiagudo daquela que se chamava Moriah. Os guardas giraram com força as rodanas atreladas às correntes que me prendiam, puxando-as para esticar meus membros até que eu fosse suspensa no ar. Cada articulação onde as correntes apertavam doíam e estralavam se chocando contra os meus ossos.

- Não está bom. Puxem mais! - Disse a mulher com um olhar afiado para mim. - Só parem de girar a alavanca quando ela gritar implorando para que parem. - Ela acrescentou.

Os homens se entrolharam, suando nas têmporas, porém obedeceram à ordem da mulher. Conforme as correntes esticavam meus membros, eu podia sentir cada osso sendo quebrado, meus calcanhares queimando de tanta dor. Era tão doloroso sentir meus ossos sendo quebrados violentamente e minha pele sendo rasgada, que um grito rouco rasgou minha garganta. Enquanto os homens giravam as rodanas, a mulher assistia insatisfeita enquanto todo o meu corpo era esticado sem a menor piedade. Fechei os olhos e mordi os lábios, segurando as lágrimas que ameaçavam cair.

- Parem! Podem soltar. - Ela ordenou.

Meu corpo atingiu o chão com força e eu mal conseguia me retorcer de tanta dor. A mulher pisou no meu rosto molhado por lágrimas e em seguida desferiu um chute. Meu corpo virou de uma vez com o impacto, o sangue se espalhava pelo meu rosto e eu me encolhia de desespero. Minha estrutura se abalava e tremia fracamente enquanto minha respiração ficava cada vez mais ofegante. Moriah se abaixou para colocar a tigela no chão e falar próximo ao meu ouvido.

Guerra dos Deuses - Caos ProfanoOnde histórias criam vida. Descubra agora