X - O conceito de deus

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César puxou Corine pelos ombros e a sacudiu inconformado, perguntando-lhe porquê ela permitiu que um menino tão inexperiente e imaturo como Tobby fizesse uma viagem dessas sozinho. O pai do garoto estava inconformado e a pequena Frida abraçava sua perna, tentando acalmá-lo. César então parou de sacudir sua esposa e abraçou sua caçula, soluçando alto. Felizmente, Frida era pequena demais para entender o que havia acontecido, ela murmurava palavras de consolo ao pai, mas sem compreender de fato que ela também deveria estar chorando a morte de Tobby.

- Pelos deuses! O que foi que eu fiz?! - Desesperou-se Corine, ajoelhando-se no chão e chorando alto pela morte de seu filho querido. - Meu filho está morto! E a culpa é minha! Eu o matei!

- Não posso aceitar isso! - Indignou-se Gregory, apertando os punhos e caminhando firme para buscar outro cavalo. - Eu vou encontrá-lo! O trarei para casa!

- Não vá, Gregory! - Gritou sua mãe, enfiando as unhas em seu pulso, apertando seu braço como um pedido desesperado. Porém, as sombras que Corine viu nos olhos dourados de Gregory, a fizeram solta-lo. - Não suportarei perder mais um filho...

- Eu voltarei para casa, prometo. - Disse-lhe seu filho mais velho.

Enquanto Johnny finalmente conseguia prender Angus, Gregory passou por ele com um olhar pesado de inconformação e pegou a égua mais rápida que tinham. O mais velho colocou sua sela sobre o lombo do animal e cavalgou muito rápido à procura de seu irmão. Tão logo anoiteceu, Johnny levou seu pai para a cama e o ajudou a comer, Frida adormeceu abraçada com o pai e Simón se esgueirava à porta, sem saber o que fazer, os olhos tristes e enormes, observando e admirando a força de Johnny por se manter intacto diante de toda aquela desgraça que pousara sobre as cabeças de seus ente-queridos.

- Você vai sentir falta dele, Johnny? - Simón fungou e enxugou o nariz constipado na manga da camisa. - Ele era um ótimo irmão.

- Eu... - Johnny virou-se para encarar seu irmão, revelando seus olhos vermelhos e marejados. Naquele momento, Simón percebeu que Johnny também estava abalado, mas ele precisava manter a força e não se deixar abater. - Prefiro acreditar que Gregory o trará de volta para casa e nós cuidaremos dele.

- Ele morreu, você sabe. Havia muito sangue. - Simón enxugou os olhos novamente, tentando permanecer de pé.

- As vezes você é tão rude por ser direto. - As vezes, você é tão rude por ser direto, garoto! Johnny ouviu a voz de Tobby em sua cabeça, afinal fora ele quem lhe disse essas palavras. Sua face ficou em chamas e lágrimas caíram de seus olhos.

Nesse momento, Simón aprendeu outra lição importante, um homem não precisa ser forte o tempo todo e também não precisa ficar sozinho em seu sofrimento. O mais novo se sentou ao lado do irmão e segurou em seu ombro, se contorcendo para ser firme quando nem Johnny conseguia mais. Do lado de fora, Corine permanecia sentada à espera, sem mover um centímetro do seu corpo para uma posição mais confortável. De repente, ela sentiu alguém vir e colocar um manto quente de lã sobre suas costas, para a proteger do frio. A lua no céu estava brilhante e enorme, reluzindo na vastidão daquele firmamento. Agani sentou ao seu lado, esfregando suas palmas quentinhas nos ombros gelados de Corine.

- Eu conheço essa sensação. Esse medo. - Agani recolheu suas mãos para si e olhou para baixo, exibindo o vestido. - Espero que não se importe, peguei um dos seus.

- Não tem problema, Agani. Um vestido sequer conta como preocupação em um momento como este... - A voz de Corine era afiada e rouca, seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar.

- Sinto muito. - Agani se colocou sobre os pés e tomou as mãos de Corine para beijá-las. - Perdoe-me por este mal terrível.

Corine puxou suas mãos de uma vez, ao ouvir o som dos trotes de cavalo se aproximando de sua casa. Um Gregory cheio de dor e aflição chegou montado em sua égua mais veloz, dotado de um semblante perturbado, um olhar frio e o pior, um coração dilacerado. Agani se virou de uma vez, sendo recebida por um punho firme em seu pescoço, tirando todo o seu fôlego enquanto era levantada no ar. Os olhos dourados de Gregory incendiados e reluzentes, os dentes rangendo e as veias saltadas de seu rosto. Ele ergueu Agani no ar, suportando todo o seu peso num único braço, totalmente moído de desespero e angústia. Sua mãe implorava para que ele soltasse a garota, afinal que culpa ela poderia ter? Porque ele estava descontando toda a sua frustração em um alguém que nem estava tentando revidar?

Guerra dos Deuses - Caos ProfanoOnde histórias criam vida. Descubra agora