Capítulo E26 - Bam Bam

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Não dormir bem.
Não é apenas a sensação de insegurança de estar na mansão Graham, ou o fato de meu corpo estar dolorido e meu rosto machucado; é principalmente a grande merda sobre o tráfico de crianças, sobre eu ser uma mercadoria. Essa revelação chocante não me abandona, nem nos sonhos. As palavras de Taylor ficam ecoando em minha mente e torturando-me.

- Você foi comercializada, Karen. Sua adoção é ilegal. Você nasceu em Medelín, Colômbia. Foi traficada do hospital General de Medelín para os Estados Unidos e vendida para os Graham.

Isto foi brutal.

Eu não quero encontrar com ninguém desta casa.
Aonde eu posso ficar realmente sozinha?

A resposta vem quase instantaneamente. É claro. Eu irei ouvir o som do mar.

Por fim, quando saio da cama, sinto que preciso de mais horas de sono. Isso não é nenhuma novidade neste mês. Eu dormi bem com Kamilla. Não! Eu me proíbo de pensar nela desta forma.
Meu olho ainda está roxo.
Ainda dolorido.
Eu pego um óculos de sol para que ninguém o note.

É uma caminhada razoavelmente pequena até a praia, há poucos quilômetros de casa, mas é reconfortante. Eu passo pelo grande portão e desço a rua, para além das mansões, então atravesso a avenida.

É cedo e o trânsito estar meramente pacífico.

Aqui, admiro o mais lindo dos céus, no horizonte o reflexo do sol da manhã sobre a água e o cheiro salgado do mar. Suspiro com leveza. Então enrosco minhas pernas debaixo de mim e sento-me sobre a areia.
Eu costumava vir aqui regularmente após a morte de Joseph. Depois de um tempo, ficou decidido que isso era retrocesso. Agora não faz sentindo sentir falta dele. Mas eu ainda me lembro dele como alguém que eu confiava minha vida, e um caroço se incha em minha garganta, e lágrimas teimosas e enfreáveis com mais facilidade chegam até a mim. Eu ainda sinto a falta dele, ainda. Joseph, foi o pai que eu conheci, e não posso simplesmente ignorar essa parte e odia-lo.
Michael Jauregui é o meu pai biológico, é óbvio. Não era dessa forma que eu esperava o conhecer e principalmente sabendo que ele não me abandonou e que sofreu com o meu desaparecimento. E Clara, minha mãe, a primeira vez que eu a encontrei e ela olhou-me com tamanha admiração.
Mas eu cresci sob o amor dos Graham. E agora, eu não sei o que fazer com tudo isso, eu culpo Kamilla por não fazer o que eu não tenho coragem.
O que isto significa? Pergunto-me e o vento sopra em meus cabelos. A resposta óbvia é, não, eu não quero que Charlotte seja presa, a mulher que cuidou de mim a minha vida toda. Mas honestamente essa resposta parece errada. Honestamente eu sinto que deveria confronta-la, saber se de fato ela compactuou com tudo isso ou não.

Alguém se aproxima de mim, e eu viro a cabeça, incomodada. Por um instante, a figura a minha frente não era alguém que eu esperava encontrar. Eu a encaro, friamente.

- Quanto tempo, - diz ela agitadamente, uma roupa de corrida, cabelos presos firmemente - Você simplesmente ignorou minha existência nos últimos meses, realmente é fácil para você.

Às palavras de Giulia me fazem sorrir brevemente.

- O que leva uma pessoa a acordar cedo para correr? - Eu pergunto enquanto ela se senta ao meu lado.

- Diga que você veio aqui para me encontrar, - Eu apenas a observo. Giulia costumava me encontrar aqui muitas vezes após o acidente. De repente, me sinto estranhamente feliz por isso, e grata até.

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