Capítulo E22 - Estranhas

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E você, egoísta. Você nunca cuidou dela quando ela mais precisou de você. Nem uma só vez.
Você a humilhava.
Não, você era apenas outra adolescente. É diferente.

Tentando afastar esses pensamentos, olho novamente para a frente e fico arfante, levantando-me sobressaltada da cadeira, afastando-a. Não é possível! Diante de mim, o rosto com a palidez da morte de Joseph Graham. Os lábios cerrados e os olhos brancos. As mãos, por sobre a mesa.

Ele parece natural, sentado, mais do que eu consiga me lembrar. Durante um instante breve e macabro, eu desejo abraça-lo, para, finalmente, desabar em lágrimas.

Como eu posso abraçar um cadáver?

A ideia se evapora num redemoinho de medo e repulsa.

Você enlouqueceu com os seu pensamentos.

Eu fecho os olhos com força, abro-os, mas a imagem de Joseph Graham não desaparece.

Então, ele move seus lábios e ouço meu nome pronunciado por uma voz familiar e suave:

- Karen.

Isso definitivamente não é real!

Bem diante de mim, o meu pai cadáver. Ele torna a falar:

- Você é uma pessoa horrível.

Eu sinto uma dor súbita em meu peito.

O momento é arrebatador. Fico sem chão e não consigo mexer uma parte de mim.

- Você sempre foi uma pessoa horrível e egoísta. - Diz ele. Então, com um movimento repentino e brusco, ele levanta-se. - Você é a minha maior decepção. - Diz ele, apontando o dedo morto em minha direção. - Você não ver nada além de si mesma, Karen.

E a dor se intensifica outra vez.

Eu me ergo ereta na cama acordando com meu pesadelo. Eu olho em volta. Ainda é noite. Porra! Eu não consigo dormir à noite toda. As noites se tornaram inacabáveis e miseráveis desde aquele dia. Levanto-me da cama. Caminho para a escrivaninha e observo meu caderno de desenho. Minhas mãos param a folha no desenho da lua. Eu fiz pensando no meu primeiro amor. O primeiro amor, que eu destruí cinco dias atrás quando disse a coisa errada! Como fomos de quase amantes a completas estranhas em minutos? A forma que ela me olhou... eu finalmente consegui fazê-lá me odiar.

Você merece ser odiada.
Você merece ser odiada.
Você merece ser odiada.

O pensamento deixa minha respiração trazer um som abafado de minha garganta. Eu olho novamente para o desenho da lua. Isso me faz lembrar que eu já sabia. A porra fodida das lágrimas querem me possuir. Elas enchem meus olhos ameaçando caírem. Eu não choro desde a morte de meu pai. Eu não vou chorar por ela. As palmas de minhas mãos voam para os meus olhos como se para conter as lágrimas. Eu nego com raiva e faço força para elas ficarem presas... Eu estou no quarto escuro de novo.

É a mesma sensação que eu senti quando Joseph nos deixou; a outra parte viva que me restava, morreu. Não sobra nada. Eu olhos às horas no celular: 04:17 am. Porra! Ela não veio dormir em casa está noite. Eu não posso ir até ela pedir-lhe desculpas. Como eu posso aceitar que desonrei nossa família? Olha o que ela me fez fazer! Eu a odeio! Eu perdi todo o controle que eu tinha sobre as minhas emoções por causa dela...

Você ama ela, criança, fodida! De todas as pessoas para se apaixonar, você se apaixonou justo por uma que não pode nunca ser sua. Eu me lembro de seu olhar magoado. A culpa passa por mim. Eu causei todas as suas dores. Ela me amava! Deus, eu não sei lidar com isto! Ela me odeia agora... ela disse que não consegue me odiar, mas não já pode garantir. Eu não estaria melhor se nunca tivesse beijado ela e deixado ela entrar? E agora eu arrastei ela para o fodido quarto escuro! Ela está como eu? Eu nunca poderia ser alguém para ela amar, e isso deixa-me perturbada... nunca teve um dia se quer que eu a fiz feliz.

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