Capítulo 02

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1680 - VILA DE NORTHWHERE

Estava em pé, olhando por sobre o muro alto a movimentação das ondas que se chocavam contra os rochedos, enquanto um vento salgado tocava sua face. Em algumas semanas estaria entrando na igreja, dizendo sim em frente da sociedade e tomando a linda Clarette como sua esposa. Nunca se sentiu tão nervoso na vida.

Era óbvio que a amava e jamais recusaria passar o resto dos seus dias ao lado da jovem, mas, sempre que pensava no que iria acontecer, tinha a impressão de que algo estava sendo arrancado dele para sempre. Seus amigos lhe disseram que era apenas o medo de perder sua liberdade de solteiro, algo bastante comum, mas que poderia ser superado após a noite de núpcias.

No entanto, James Northwhere ainda tinha duvidas em relação ao grande passo que estava preste a tomar e para o qual não haveria volta. Mas, ele era um Conde, um nobre e como tal, deveria manter sua palavra independente do quão receoso estivesse.

No horizonte o sol morria dentro do mar, tingindo as águas com um tom avermelhado que transmitia a impressão clara de que o lugar todo estava mergulhando em chamas e sangue. O Conde continuou encarando a linha distante, fascinado com a beleza do contraste de cores, dando lugar a lua prateada e grandiosa.

Com aquela contemplação da vista além mar, declarou seu dia encerrado e retornou para dentro de sua morada, uma pequena fortaleza de pedra em volta da qual cresceu a vila de Northwhere, onde diversos camponeses viviam sob sua proteção. O lugar em si era bastante pacato, não sofriam ataques e nem invasões, talvez pelo fato de que, apesar de ter um titulo da nobreza, ele não possuía bens o suficiente para atrair a atenção de ladrões.

– Boa noite milorde, o jantar está servido. – informou um homem de certa idade trajando vestes negras. Seu mordomo. Agradeceu ao aviso com um meneio de cabeça. Stuart era seu criado desde que podia se lembrar, assim como o fora de seu pai e avô. Por diversas vezes perguntou ao homem porque continuava ali, já que não podia pagar o suficiente para um mordomo e o velho respondia que havia jurado servir aos Northwhere até que o ultimo partisse.

Uma lauta mesa estava posta, diversos pratos e acompanhamentos. O jovem Conde não sentia qualquer arrependimento enquanto se alimentava, já que os aldeões de sua vila também tinham comida suficiente. A vida era agradável naquele pequeno pedaço de terra que ele chamava de seu.

Após o jantar, retirou-se para a biblioteca, onde leu até adormecer. Estava mergulhado em sonhos, quando um som abrupto lhe despertou. Sentou-se de chofre na beira da poltrona e ouviu apreensivo o som que vinha do outro lado da porta e pelas janelas. Gritos de horror e medo misturados com gargalhadas doentias que lhe causaram arrepios.

Levantou-se e tomou em mãos sua espada, que até o momento jazia na bainha em cima da escrivaninha. A lâmina reluziu e brilhou contra as chamas da lareira. Um som de passos marchando começou a crescer escadas acima. Ele não teria medo do que quer que pudesse estar do outro lado das portas. Os gritos de pavor dos moradores da vila apenas o incitaram a abrir as portas com violência e sair para o corredor, encontrando quase no topo da escadaria, uma horda de piratas, todos com suas espadas em punho e sorrisos sanguinários nos lábios.

– Boa noite, meu lorde. – disse um deles, aproximando-se a passos lentos de onde estava. Levantou a espada em um reflexo instintivo, preparando-se para atacar. Os gritos do lado de fora se tornando cada vez mais altos e agonizantes. Lançou um rápido olhar para a janela, de onde podia ver um brilho bruxuleante, fogo!

Passou uma das mãos pelos cabelos castanhos que estavam presos em um baixo rabo de cavalo, amarrado com uma fita de seda, puxando-os de leve. Estava cercado e não havia como fugir, mas pelo menos morreria defendendo sua vila, não os deixaria levar nada e ferir mais ninguém.

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