Na noite seguinte, Borther bateu na porta da cabine de Morgan, para avisar que haviam chegado ao local ordenado. James acordou zonzo e fraco e ao tentar se levantar cambaleou e caiu outra vez na cama. O loiro o fitou com um misto de pena e culpa enquanto se vestia para abrir a porta. Notou o olhar surpreso de seu imediato ao encontrar o Conde em sua cama, coberto da cintura para baixo apenas pelo lençol de seda, mas, como bem sabia; não lhe devia explicações.
– Capitão, chegamos. Devemos trazer Curly para o convés? – o loiro concordou com um meneio de cabeça enquanto retirava a garrafa cristalina cheia de sangue do armário e tomava um gole generoso. James fez menção de segui-los, mas Morgan o deteve.
– Você está muito fraco, é melhor descansar por hoje. Depois mandarei que lhe tragam comida para que recupere as forças. – dito isso, saiu da cabine, seguido por Borther, que antes de fechar a porta as suas costas, lançou um ultimo olhar curioso em direção ao jovem humano.
No convés, amarraram John Curly e o colocaram em um escaler, no qual foram mais dois piratas, todos três rumando para uma ilha no meio do nada em que havia apenas uma palmeira. Da borda do navio, Pit observava seu companheiro ser levado para a morte em desespero silencioso.
Ao chegarem a ilha, os dois piratas desceram Curly e o amarraram ao tronco da palmeira, dando as costas em seguida, indiferentes aos gritos e pedidos para que o soltassem. Entraram no escaler e voltaram para o Stella Sanguis, ignorando o desespero crescente na voz de Curly.
– Senhor Borther, quero que fique aqui até o amanhecer e seja testemunha do fim deste animal imundo! – o homem concordou com um meneio de cabeça e em seguida ouviu Morgan gritar "O que ainda estão olhando? Voltem aos seus postos, ratos pestilentos!"
***
O sol nasceu e com o surgimento dos primeiros raios do mesmo, os gritos excruciantes de dor e desespero vindos da ilha chegaram ao navio. Borther retirou a luneta do cinto e olhou em direção ao local. Preferia não tê-lo feito, mas ordens eram ordens.
A criatura amarrada na palmeira agora se parecia muito pouco com um ser de feições humanas, estava mais semelhante a um monte de carne e sangue podre que se desfazia em fumaça e bolhas enquanto se debatia desesperado, tentando fugir das cordas que o amarravam. E então a carne tomou uma coloração cinzenta e esfarelada e o corpo de John Curly foi desmanchado por uma brisa que passou pela ilha. Estava feito.
Agora Borther devia retomar o curso em direção a ilha voodoo. Sem mais interrupções.
***
O que havia acontecido há dois entardeceres na cabine de Morgan se tornou uma constante e passou a ser repetido todas as noites, com a única diferença de que o vampiro sugava menos sangue de James, para que ele não tivesse sua energia totalmente drenada. E naquele momento dividiam a cama, o humano totalmente exausto e satisfeito enquanto o loiro se divertia retirando filetes de sangue do tórax nu do outro.
– Você... – começou James, mas teve sua frase interrompida por duas batidas secas na porta da cabine. Morgan se levantou vestindo as calças para ver o que Borther queria. O Conde havia notado naquele tempo em que dividiu a cama com o loiro, que apenas o imediato se atrevia a incomodar o capitão.
– Estamos nos aproximando da ilha de Sakpata e aguardando ordens. – um sorriso enviesado surgiu no rosto de Morgan ao ouvir o nome do local, conhecia um pouco de história voo doo para saber que aquele era o nome dado a divindade pagã responsável por ministrar as doenças aos humanos. Nenhum outro titulo seria mais perfeito para um lugar que foi responsável por disseminar a praga obscura que agora habitava tanto ele quanto sua tripulação.

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Sangue e Ouro
AdventureA vila Northwhere é um lugar pacato em uma ilha isolada, onde as pessoas vivem felizes sob a proteção do Conde James Northwhere, descendente de uma família de nobres que preferiu manter-se afastada da alta-sociedade. Tudo corria bem, até que um dia...