25 de março

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Hoje é o seu aniversário, não é, meu amor?

Desculpe se não consegui estar feliz, eu tentei. Tentei de verdade, mas não consegui.

Eu já acordei na merda – e não se incomode por eu falar assim. Meu aperto no peito me maltratou hoje, e não tive forças para lutar contra.

Eu usei seu moletom o dia inteiro. Ainda tem o seu cheirinho. O cheirinho que eu sinto tanta falta.

E antes que você pudesse falar alguma coisa, não é só disso que eu sinto falta, não.

É de tanta coisa que eu não vou conseguir nem enumerar.

Pronto para o seu textinho de aniversário?

Leon,

Estar junto com você durante mais de dez anos foi a maior dádiva que eu pude receber na minha vida. Você não faz ideia da loucura – ou faz, já que passou pela mesma coisa comigo – do que é te ver crescer! Mesmo que eu nunca tenha te falado, você me ajudou a formar quem eu sou. Saiba que eu fui a pessoa mais feliz do mundo no eterno que a gente viveu, mas que infelizmente teve um ponto final.

Não, eu não vou poupar as palavras bregas, eu já fiz muito isso.

Sim, eu morria de vergonha de ser brega, mas você nunca pareceu se importar. Pelo contrário, dizia eu já demonstrava o bastante por você.

Engraçado. Eu nunca achei isso.

Sempre tive a sensação de te deixar inseguro, mesmo que você negasse. Leon, espero que nunca, em momento algum, tenha duvidado do meu amor por você.
Você foi a pessoa que eu mais amei na minha vida, pode ter certeza disso.

Eu sinto que se não fosse por você, eu não seria metade do que sou hoje. Eu posso, ainda, ser insuportável de chato, mas antes eu era pior, né?

Você foi quem teve coragem de enfrentar a coisa para que os outros vissem a versão menos arisca de mim.

Eu estou te imaginado agora, deitado ao meu lado com seus enormes olhos verdes me encarando sorridente. Esses que eu sempre achei lindos. Eu já te falei isso? Acredito que sim.

Eles faziam o meu dia mais feliz. Acordar de manhã com você do meu lado era o ponto alto do meu dia. Era lindo te ver babando, com seu ronquinho baixinho.

Sim, você roncava. Mas era bem baixinho, não se preocupe. Eu quase não escutava, juro!

Mas eu me esforçava para não rir quando você se sentava na cama depois de acordar, com aqueles cabelos emaranhados e volumosos de tanto se remexer durante a noite.

Era um ritual, você me abraçava e beijava a minha bochecha. Se levantava e ia escovar os dentes para, assim, me beijar de verdade.

Posso falar uma verdade? Eu me esforçava para não te agarrar ali mesmo, quando você vinha com seu pijama amarrotado, coçando os olhos meio-abertos porque você sempre teve sensibilidade neles – principalmente ao acordar –, e tocava meu rosto para me beijar. Você era lindo, Leon. Mesmo acordando com uma juba de manhã cedo.

Vou revelar os meus pensamentos mais profundos para você, finalmente.

Era tão sexy aquele cabelo meio bagunçado de manhã, sabia?

Ou quando você sentava na janela da varanda para ler seus quadrinhos no fim de tarde. Ver você concentrado no que lia era tão fofo!

Ou quando você decidiu me impressionar e apareceu com o cabelo todo castanho. Caraaa! Você sabia muito bem como eu amava todas as suas versões, mas o castanho sempre foi nostálgico para mim. Além disso, destacava seus olhos.

Você desceu as escadas como quem não queria nada, e eu estava com um leve mau-humor por qualquer futilidade daquele dia. Você riu ao me ver de queixo caído, sem palavras para descrever como você havia ficado perfeito com aquele cabelo. Meu humor melhorou na hora.

Eu amava te ver feliz consigo mesmo, até porque por muito tempo houve um impasse nisso, né? Você se achava tão sem-graça que quis pintar o cabelo de ruivo. No fim, combinou muito. Que cabelo, hein, Leon!

Mas voltando ao castanho...

Você me perguntou se eu tinha gostado, e eu respondi que muito. Mas eu queria ter dito mais, eu devia ter dito mais.

Eu nunca soube dizer o porquê de eu ser tão travado para te falar as coisas, embora tenha você parecido gostar da minha resposta. Você ficou todo felizinho e me beijou no rosto algumas vezes, agradecendo. Eu fiquei o dia inteiro te admirando, acredite. Literalmente.

Leon, você estava um espetáculo.

Era isso que eu queria ter dito naquele momento, o que eu devia ter dito.

Foi a única vez que você não me chamou para pintar seu cabelo e eu não fiquei chateado com isso.

E pensar que agora eu não conseguirei mais pintar seu cabelo. Nunca mais.

Feliz aniversário, Leon.

O amor da minha vida.

As palavras que eu nunca faleiOnde histórias criam vida. Descubra agora