As palavras que eu nunca falei

5 de maio

Larry me chamou para ir a um restaurante. Desculpe, mas não consegui ir. Foi um dos últimos lugares que fomos juntos e além disso, era perto da cafeteria onde você trabalhou. Era demais para mim. Não deu.

Quando ele me fez o pedido, eu aceitei na hora. Afinal, faz tempo que eu tô 24 horas por dia socado em casa, quando não preciso ir para a faculdade.

Mas quando ele me mostrou, em foto, a entrada do lugar, senti um calafrio passar pelo meu corpo. Uma agonia terrível me consumiu e eu só consegui responder um "não" sem justificativa alguma.

Agora são 22:46 e eu mandei mensagem para ele, explicando porque não quis ir. Ele se desculpou imensamente por ter esquecido. Claro que eu aceitei, ele não tem culpa de eu ainda estar preso a você.

Você tá me fazendo deixar de viver, seu maldito. Haha.

Eu estava deitado agora a pouco, imaginando como seria incrível se nós quatro tivéssemos ido ao restaurante. Você com certeza iria pedir um hambúrguer gigante com batata frita, com direito à sobremesa. Milk-shake não poderia faltar!

E ainda ia ter espaço para pegar do meu...

"Você vai comer isso, Franz?"

Era a sua pergunta favorita. Sempre fiquei impressionado em como você comia. Eu olhava para você tipo "Cara, como isso tudo cabe em uma barriga tão pequena?!" e você me olhava de volta com cara de "Você vai comer isso, Franz?", lógico!

Quem olhava a carinha linda nem imaginaria o dragão que escondia. Com você não tinha tempo ruim, era pipoca com chocolate, batata frita com milk-shake e café com brigadeiro. Você amava essas misturas estranhas, era bizarro!

O engraçado era que você morria de nojo do meu macarrão com ketchup! Só faltava vomitar quando eu despejava na minha comida!

E falando em vomitar... Nossa, como temos histórias nojentas...

Lembra de quando a Tereza trouxe um hamster morto para casa? Ela apertou o pobre coitado até matar... E a gente teve que jantar com ele na mesa horas depois.

Você abaixou a cabeça para não ver o bichinho. Você sempre teve um amor gigante por animais, o que era adorável. Eu encarava aquele bicho só pensando em enterrá-lo no quintal.

Você levantou a cabeça e sussurrou para mim "Eu tô com vontade de vomitar..." e a abaixo de novo. Foi a única vez em que você dormiu sem jantar, mas acordou no meio da noite com ânsia de vômito. "Eu ia cogitar a possibilidade de ter engravidado, mas foi só a imagem do rato morto na minha cabeça mesmo!"

Engraçadinho...

Ou, então, a vez que fomos a nossa primeira festa? Nós realmente não sabíamos nos divertir!

Era formatura do 9° ano. Eram tantos adolescentes, tantas bebidas, inconsequências, pegação... A gente ficou muito assustado!

Assim que passamos pela porta, eu olhei para você e vi sua cara de espanto. Ela dizia claramente "Vamos embora daqui agora!", mas tínhamos uma ""reputação"" a zelar e ficamos.

Teve um hora que a gente se perdeu um do outro, mas você me contou histórias surpreendentes depois. Parecia até que não estávamos no mesmo lugar de tão absurdas que eram.

Certo, uma garota bêbada deu em cima de mim, quase fui vomitado pela mesma garota minutos depois, o ex-namorado dela veio tirar satisfação comigo, quase briguei com ele; mas foi de boa.

A gente já conhecia o Larry nesse tempo. Ele estava lá com a gente. Encontrei ele depois, aliás, do rolê com o cara da garota bêbada.

Eu resolvi ir ao banheiro e encontrei o Larry agachado em frente a uma das cabines. Você estava lá dentro, sentado no chão, destruído.