30 de abril

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Eu achei um vídeo nosso.

Tínhamos 14 anos. Foi nessa idade que conhecemos o Larry, né? Percebi isso agora...

No vídeo, eu entrava no banheiro – eu quem estava gravando – e você estava lá. Você colocou o fone nos ouvidos e começava a se balançar, dançando. Você cantou uma música estranha e eu joguei água na sua cara. Você olhou pra mim em choque e começou a rir.

Por algum motivo, eu sempre tive essa mania, de jogar água em você. Quando brincávamos na piscina, no quintal, eu mirava a mangueira na sua cara. Quando a gente tinha que lavar a louça, eu sempre jogava água e espuma na sua cara. Quando tomávamos banho juntos, eu sempre juntava água nas mãos para jogar na sua cara.

Era engraçado, você ficava indignado. Fofo...

Na outra parte do vídeo, eu gravava o espelho e a gente falava um bordão doido nosso. Eu dei zoom na sua cara e você ficou muito puto comigo porque "estava feio". Que ilusão...

"Você faz isso pra me ver encalhado pra sempre, ? Apague isso!"

AH! Mal sabíamos, não é?

Você sempre falava isso para mim. "Franz, você não acha uma loucura a gente estar namorando? Tipo, hoje a gente se chama de amor! Isso é loucura! A gente se conheceu com 8 anos, a gente comia terra e hoje a gente transa!"

Nossa, lembro de como eu ficava constrangido quando você falava essas coisas. Hoje eu tô tão foda-se pra isso. Esses dias Larry e Jimmy ficaram chocados quando eu falei isso uma vez. Não porque eles acham que eu não falo sobre essas coisas, mas foi o contexto em que eu falei e a forma como eu falei.

Eu não lembro o que foi... Só sei que eu falei e eles ficaram chocados.

Ultimamente minha mente está nas nuvens, não consigo lembrar de quase nada que acontece nos meus dias. É bizarro.

E eu prefiro não pensar muito em como eu estou esquecendo a sua voz, então eu vou apenas ignorar isso.

Esses dias, nós três estávamos comprando roupas, principalmente porque eles vão viajar de casalzinho - eca - e precisavam de roupas novas.

Não demorou muito para começarmos com as palhaçadas. Jimmy botou um cachecol de plumas e um óculos extravagante e desfilou até nós com um biquinho. Larry amarrou a blusa e desfilou junto com ele. Foi gay demais da conta.

Eu percebi a felicidade deles quando me viram gargalhar pela primeira vez em muito tempo.

Eu não sinto mais vontade de rir alto depois da sua ida, Leon. Você sempre foi o motivo das minhas gargalhadas até doer a barriga. Você morria de vergonha da história do chute no naquele cara, lembra? Qual era o nome dele mesmo? Ivan? Sei lá!

Me ver rir foi mais um motivo para eles continuarem brincando. Logo eu fui na onda deles. Você ia rir horrores me vendo com aqueles conjuntos esquisitos! Alguns me deixaram parecendo um palhaço!

Meu dia foi quase inteiramente com eles. Quando eu voltei para casa, fiquei assistindo filmes com meus pais. Eu percebo que eles ainda ficam receosos de te citarem.

"Franz... esse garotinho parece o Leon, não parece?"

"Parece, mãe. Mas o Leon era mais bonito! Haha"

"Meu genro era um gato, filhote!"

Ô, se era! Eu fui tão sortudo!

Por que eu nunca te disse isso? "Leon, eu sou um puta sortudo por te ter comigo, eu te amo!"

Era tão difícil assim, Franz? Era?

Você era lindo, engraçado, carinhoso, atencioso, fofo, curioso... Você era o combo completo! Até demais... Eu ainda lembro do dia na praia em que um cara ficou te secando. Eu te falei isso e você, para me provocar, sorriu e respondeu "Olhar não arranca pedaço, Franz" e saiu desfilando até a água. Nossa, como eu quis matar você naquele momento!

Mas dei meu recado para aquele cara, ele entendeu.

E meu recado para você foi em casa depois...

Nossa, que depravado!

"Eu não tô te reconhecendo, Franz!"

Você diria, certo?

Desculpe, é a saudade de te ter de corpo e alma. Principalmente de corpo, mas muito mais de alma...






As palavras que eu nunca faleiOnde histórias criam vida. Descubra agora