Estive fazendo planos para o futuro.
Ainda é tão estranho pensar na minha vida e lembrar que não sou capaz de te incluir.
Pensar em uma casa, em um quarto com uma cama de casal e saber do espaço vazio que vai ter. Das manhãs sendo acordado pelo despertador, o café que eu mesmo terei que fazer. É só tão... triste...
Eu ainda terei muita companhia, tenho o Larry, o Jimmy, a Tereza... mas não você. O que faz parecer não valer de nada, já que eu continuo com esse vazio no peito, que ninguém nunca vai conseguir preencher. Já que todos têm seus espacinhos.
Eu lembrei da vez que você falou de como seria nosso casamento. A gente estava na cozinha e você se sentou na bancada sorrindo. Do nada começou a falar em como seria incrível quando morássemos juntos e os planos para a vida. No começo, eu fiquei sem fala, mas logo você me fez imaginar também.
A coisa mais marcante que me disse naquele dia foi "eu quero tanto ter uma menininha". Isso ainda ecoa na minha cabeça algumas vezes. Imagino você com a nossa filhinha, essa que não vai existir.
É tão triste pensar nisso, afinal eu também queria tanto uma menininha...
Eu sinto que ela teria os seus olhos, Leon. E iria usá-los para me chantagear assim como você fazia. Ah, eu queria tanto viver isso!
Ainda quero, mas agora é impossível.
"Eu quero que ela tenha os seus cabelos, Franz, são tão lindos! E sua inteligência, personalidade, força... Ela vai ser uma garota incrível!"
Foi o que você me disse, com um ar sonhador adorável. Eu vi seus olhos brilharem naquele dia. E brilharam como nunca antes haviam.
Na verdade, teve uma vez que eu os vi brilharem mais...
Foi quando eu falei algo bonito de você, sem nem perceber. A gente tinha brigado pouco antes de você ir para o colégio. Mesmo assim eu te acompanhei até lá - não iria te deixar sozinho de forma alguma - e desejei um bom dia. Você respondeu com um resmungo, mas me deu um beijo no rosto. Foi a nossa briga mais não-briga que tivemos na vida!
Vendo agora, foi algo tão ridículo, fofo e engraçado. Mas a gente era isso, né? Um casal ridículo, fofo e engraçado.
Na volta para casa, eu te busquei. Você me disse - entre resmungos novamente - que não esperava que eu realmente fosse te buscar, e te respondi que eu nunca deixaria você na mão; não importava o que acontecesse, eu iria estar ao seu lado. Isso incluía ir te levar e buscar no colégio, como todo santo dia, ou em qualquer lugar mesmo após uma briga.
Eu vi sua pupila dilatar e não disse isso a você. Seu olho ficou tão pretinho... Foi irresistível!
Você sorriu para mim e aproximou seu rosto. Eu te beijei e você disse que me amava. O caminho foi um silêncio entre risos bobos e mãos entrelaçadas.
Eu quero tanto sentir o calor de suas mãos agora! Sempre tão macias e quentinhas, me falta isso nos meus dias.
Eu me viro na cama e lembro que nunca mais vou encontrar sua mão para tocar. Ou abrir os olhos e te ver sentado com o cabelo todo bagunçado...
Ou os olhos entreabertos na claridade, porque você sempre teve sensibilidade neles. Você reclamava que o sol sempre batia na sua cara nas manhãs, que minha janela tinha algo contra você porque mirava a luz justamente para seus olhos.
Seus olhos misturados com luz natural amarela dava um toque surreal em você. Eu amava te observar assim, mesmo por alguns instantes. Você não me permitia te admirar, já que sempre se sentava antes que eu pudesse processar toda sua beleza.
Que cafona, né? Hahaha!
Seus olhos ficavam mais claros e pareciam azuis ou amarelados, um âmbar... Eu não sei explicar, mas eu sabia sentir.
E para completar o charme, você não conseguia abri-los por completo, então sempre parecia que você acordava já tentando me seduzir. Não que fosse muito difícil...
Acho que até você deve estar estranhando minha transparência nisso, né? Mas é verdade.
Como eu disse, não vou mais poupar as palavras cafonas e os sentimentos intensos.
E é uma pena eu só ter refletido sobre isso depois de te perder...
No fundo, eu espero que você esteja lendo isso. Talvez para que não torne meu trabalho em vão. Ou então, para que meu vazio se preencha um pouco, nem que seja por um instante.
Você tem que estar lendo isso. Por favor, que você esteja lendo isso.
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As palavras que eu nunca falei
FanficOne-shot de Lebre e Coelho Leon morreu. E o remorso de Franz só cresceu desde então. Tantas palavras que poderiam ser ditas, mas a pessoa destinada não estaria em condições se ouvir. Para tentar se expressar - e talvez ter algum conforto de que Leon...