Unidos

102 4 47
                                    

Andrea caminha pelo quarto de seu filho, recolhendo as últimas caixas que haviam lá dentro. De fato, ele estava precisando de uma limpa. Ela deixa a caixa na porta e volta para dentro, suspirando cansada. Vai até a estante de livros e se estica para pegar mais uma no alto. Ri para si mesma, lembrando-se de Leon, ele adorava vasculhar tudo que tinha na casa, cada metro quadrado o garoto reconhecia.

Consegue tocar a ponta da caixa e arrastá-la, feliz e aliviada pelo seu feito. Sem perceber, acaba arrastando também alguns papéis que estavam sob a caixa. Quando a puxa totalmente e se vira para levá-la até a porta do quarto, percebe o breve som de papéis ao chão.

Ela olha para trás e os vê sobre o ombro. Confusa, deixa a caixa no chão e vai até eles. Eram papéis de carta. Todas escritas com datas dos respectivos dias. Pela ordem, ela abre a primeiro e inicia a leitura.

Seu filho as escreveu. Sorriu com o pequeno relato rotineiro. Sem perder tempo, abriu o próximo. Sim, Franz, vocês tiveram culpa pelas manchas na parede da nossa artistinha, pensa zombeteira. Emocionou-se com o textinho de aniversário para Leon, assim como se constrangeu com as palavras de seu filho sobre como seu namorado ficava sexy de manhã.

- Desculpe por estar invadindo sua privacidade, filhote - diz para si mesma com o sentimento de culpa no peito. Com a próxima carta, ri ao lembrar dos tombos de seu antigo genro, assim como cantarola a sua canção de ninar e se entristece com o que o filho dizia ao final.

Tenta afastar a tristeza abrindo outra carta, mas novamente se vê pior. Principalmente por perceber gotas secas na folha, que seriam lágrimas de seu filho. Passa os dedos sobre ela e abre outra carta em seguida. E assim seguiu, sucessivamente. Cartas e mais cartas lidas de autor muito familiar, seu filhotinho.

No fim de todas aquelas dezenas de papéis, Andrea se vê em lágrimas. Um soluço sufocado preso na garganta se solta. Talvez tivesse sido uma péssima ideia dar uma limpa no quarto do filho, já que a fez lembrar de coisas que não queria.

Assim, sorri, dobrando as cartinhas cuidadosamente e as pondo na caixa que antes segurava mas a deixou no chão. Limpa as lágrimas de seu rosto e suspira feliz. Finalmente você se encontrou com ele, meu pequeno.

Franz havia morrido um ano depois de Leon.

Mas escreveu cartas a ele sobre os seus sentimentos mais profundos e sinceros. Outros profanos.

Andrea levanta-se com a caixa em mãos, passando pela porta e a fechando.

As palavras que eu nunca faleiOnde histórias criam vida. Descubra agora