SCAPE! | CHANSUNG

Isso não estava nos filmes

Como eu vou explicar pra ele que eu tava peladão na banheira f1 às sete da manhã? Talvez eu devesse deixar isso em segredo já que ele é um policial, mas o mundo tá acabando né minha gente, qual é o máximo que ele pode fazer, me prender?

– Ah eu estava sentado na minha cama esperando a alma voltar para o corpo pra poder me atrasar com calma. – Dei um salto pro lado dele o alcançando finalmente, agora manter a mesma velocidade é que era o problema. – Você sabia que estudos comprovaram que colocar o celular para despertar em horários quebrados faz você acordar mais disposto?

– Sério? – Ele me encarou curioso.

– É tipo, em vez de colocar para despertar 06:30 colocar pra umas 11:17. – Ah finalmente um sorrisinho!

– Com certeza eu acordaria mais disposto com quase cinco horas a mais de sono.

– Viu só, isso é ciência cara!

– Continua.

Deixando a parte de estar meio alto de lado, todo o resto da história que eu contei pra ele foi verdade.

Eu dividia o apartamento com um colega da faculdade, o nome dele era Seungmin. Eu digo "era" porque há essa altura ele já deve estar com o nosso senhor.

Seungmin era um chato com horário e como de costume tava batendo na porta do banheiro feito uma mulher desconfiada do marido lá dentro. Eu enrolei a minha toalha na cintura e fui abrir na maior tranquilidade e o maluco voou no meu ombro afundando aquelas unhas asquerosas em mim e me mordeu.

Eu acho que ele não estava muito bem das ideias ou pulou essa parte no manual de iniciação porque até onde -EU- sei, você deveria comer o cérebro dos humanos e não o bíceps.

Eu sou gostoso Seungmin, eu entendo.

Então eu fiz o que qualquer ser que já assistiu qualquer filme besteirol de zumbi faria: Acertei um chutão no saco dele e corri.

"Ah mas isso não tem em filme" MEU AMOR ELES ERAM ZUMBIS! De todas as pragas que a gente imaginava que era possível acontecer, mortos-vivos que comem cérebros de humanos era o último item da minha lista então me desculpa se eu não prestei atenção no que eu tinha que fazer.

Obviamente a minha falta de preparação me ferrou de novo porque se o zumbi não tem sangue correndo no corpo também não ia ter mais sensibilidade no saco, mas eu só percebi isso depois que ele veio atrás de mim.

Eu só juntei a minha roupa da cama e meti o pé, sorte que eu não tava usando cueca, mas a pobre toalha teve que ser incinerada.

Eu nem tinha notado nada de errado, as ruas estavam tranquilas e a vida seguia de boa então eu era só um maluco que desceu no elevador vestindo as roupas.

Meu primeiro pensamento foi ir direto pra delegacia entregar o idiota do Seungmin que devia ter fumado algum bagulho estragado, mas foi ai que o negócio começou a ficar estreito e eu percebi que não era bom misturar essas coisas com uma corrida descalço pelo centro de Busan.

A pior onda da minha vida bateu que nem peido de burro atolado e eu não sabia se tava morrendo ou se ia transcender e virar a porra do Pégaso. O tempo parecia que estava passando muito devagar e eu podia jurar que o meu coração tava batendo de trás pra frente.

"Ah Jisung, mas como isso?" EU NÃO SEI TÁ! Ele sempre fez tum tuum e tava fazendo tuum tum. Parecia que a minha cara ia sair, tava tudo girando um monte de gente gritando pelas ruas, era carro batendo, cachorro latindo, criança chorando e eu comecei a ouvir as cores em volta e enxergar os sons!

Você já teve uma brisa tão ferrada a ponto de concluir que o seu corpo é uma casa mal-assombrada porque dentro dele tem um esqueleto, um fantasma um monte de sangue e tripas?! Pois eu já! Até que eu esqueci como se respirava e entrei em pânico.

Quando eu acordei meu amigo Chan estava em cima de mim me dando uma boa visão das suas coxas e aqui estamos nós, aparentemente um dia depois que essa maluquice toda começou.

– Haha eu fiquei com a cara igual essa sua.

– Espera, então você mora aqui perto? – Chan ergueu as sobrancelhas em expectativa vindo atrás de mim. – Você tem um celular ou alguma coisa assim? Eu preciso tentar falar com o meu irmão.

– Tenho alguma coisa assim. – Tirei o aparelho com a tela quebrada do bolso. – Mas acabou a minha bateria.

– Droga! – Chutou uma pedra pra longe bem putasso. – Eu nem consigo saber se ele tá bem, vai demorar pelo menos mais um dia até eu conseguir chegar em casa um carro.

Pelo que eu entendi era uma viagem rapidex de carro, mas o transito tava todo ferrado e ele tinha perdido contato com o irmão dele quando anoiteceu. Como é que eu falo pra ele que há essa hora o irmão dele já deve estar cantando com a Rosana lá nas alturas?

– Pois é, e tem o lance dos zumbis também né amigão. – Lembrei de detalhes importantes que ele provavelmente estava deixando passar. – E a cidade toda tá sem luz, e tem um monte de gente morrendo por aí... Você também tá parecendo bem cansado, parece que tomou uma surra e sem falar que tá um cheiro horrível, tem o que? Umas doze horas que o seu perfume já venceu? Venceu não coitado, ele perdeu e foi feio. Tu tá mais suado que freira atrasada pra missa. Mas se bem que as suas pernas ficam uma graça nessas calças.

– Você tem que ver quando eu tirar elas. – Ele interrompeu o meu monólogo carregado de otimismo quando passou por mim me empurrando com o ombro.

– Espera... – Algo não faz sentido. – Por que você tiraria as suas pernas?