Frases de efeito

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Felix estava bem. Surtando, mas bem. Falei pra ele colocar umas esteiras do lado de fora da casa dele e o maluco não entendeu, depois eu é que sou o desmiolado.

Já tinha anoitecido então resolvemos ficar ali por mais um tempo já que parecia seguro. Eu disse parecia porque alegria de pobre dura pouco e por mais que eu seja a favor do otimismo eu sei que isso é coisa pra idiotas.

Começamos a ouvir uns barulhos vindo de dentro do shopping e os pelos da minha nuca já ficaram eriçados então imagina de outro lugar. Não passava nem sinal de wifi, mas foi só um alarme falso, passou um zumbizinho muito simpático gente fina meio lerdão, de óculos e gravatinha certeza que era profissional de T.I. Ele nem notou que a gente tava ali, só seguiu a vida dele dando graças a deus que não ia mais ter que perguntar se já reiniciaram o modem.

Mas no meio da noite a galera idiota que não conferia se o cabo da impressora tava ligado antes de chamar o técnico apareceu num bando e pro nosso azar eles sentiram o cheiro do Chan.

É eu sei. Eu avisei que ele tava podre não teve creminho ali que resolvesse.

Nós estávamos cercados de novo. E dessa vez, pro nosso azar estava escuro demais então não tínhamos como saber quantos eram, só dava pra ouvir os grunhidos que me arrepiam até a espinha do lado de fora.

Eles começaram a bater no vidro, uma hora ele iria ceder e nós não teríamos para onde ir e ficaríamos presos dentro da loja.

Chan me puxou para perto nos fundos. Não era nenhuma novidade que ele tinha um plano, ele era um super fodão de bandana que atirava com as duas mãos, mas ele me mostrou que as armas não estavam com todas as balas e ele não tinha mais nenhuma.

– A gente atrai eles pra dentro e sai. Você vem bem atrás de mim. – Fez questão de enfatizar dessa vez. – Assim que a gente conseguir sair fechamos a porta com isso.

Era um bom plano. Ele tinha uma haste de metal que arrancou da poltrona que colocaria nos puxadores da porta fazendo os miolo-mole ficarem presos aqui dentro.

– Eu só tenho um último pedido. – Sussurrei da forma mais séria possível e ele se abaixou bem perto de mim.

– Se eu não conseguir, quero que você entregue uma coisa para o meu filho. – Eu nem tenho filho cara eu mal conseguia me segurar pra não rir e ele assentiu todo sério.

– Talvez você tenha que esconder na sua bunda...

– NA MINHA O QUE???

Não consegui família, eu caí na gargalhada acho que ele tinha mais medo de guardar alguma coisa lá do que dos zumbis lá fora.

– Levanta logo idiota. – Estendeu a mão pra mim e eu puxei abusando o favor pra me levantar.

– Beleza então, manda brasa. – Mexi os ombros e alonguei o pescoço. – A única seleção que eu torço é a natural e agora tá tendo copa seus miseráveis!

– Que?

– Porra você estragou a minha frase de efeito seu animal! – Berrei mesmo onde já se viu uma coisa dessas. – Abre logo isso!

Ele riu, eu gritei, eles entraram atrás do Chan e eu o empurrei para fora. Imagina tudo passando em câmera lenta, ele não conseguia atirar porque não dava pra enxergar nada, eu me esforçando pra ficar logo atrás dele quando...

Eu senti aquelas unhas nojentas agarrarem o meu tornozelo.

Eu sei, eu sei. Naquelas circunstâncias o Chan ia se ferrar de novo por minha causa, mas eu não ia deixar então apenas o empurrei pra fora e puxei a porta.

É assim que fodões de bandana fazem, não é? Eles dão a vida pelos seus amigos?

Eu ouvi a gargalhada dele do lado de fora. Ele estava feliz por termos conseguido. Mas quando ele percebeu que eu não estava mais lá eu já havia trancado a porta.

– ABRE ESSA PORTA! – Eu podia ouvir ele me chamando do outro lado. Aquele cara tava puto.

– Qual é a palavrinha mágica? – Perguntei sem demonstrar que estava sentindo a minha pele ser rasgada. Toda a minha mobilidade tinha ido embora quando fechei aquela porta então era só uma questão de tempo...

– Abre caralho! – Eu ri. Quase pareceu abracadabra.

– Errou... – Senti a minha voz perder a força enquanto ele batia na porta. – Vai achar o Felix! – Bati na porta uma última vez. – Eu já tô morto mesmo, pensa assim.

SCAPE! | CHANSUNGOnde histórias criam vida. Descubra agora