– Vamos, respira! – Ouvi o berro dele antes da minha cara arder com um tapa.
– EU TO MORTO! – Gritei de volta abrindo os olhos imediatamente. – Eu não preciso respirar animal! O que foi que aconteceu?!
– Você desmaiou e quase matou nós dois. – Ele saiu de cima de mim deixando o corpo escorregar no chão até encostar na parede, respirando ofegante.
– Isso não parece uma coisa que eu faria. – Comentei tentando me defender. – E você me carregou até aqui?
Ele acenou com a cabeça enquanto mantinha os olhos fechados. Aquilo foi como um soco no meu estômago. Ele podia ter me deixado lá, eu já estou morto mesmo. Não precisava ter se arriscado pra me buscar nem ter gasto a bala a mais que não estava no planejamento pra me salvar.
Fiquei em silêncio por um tempo olhando bem onde estávamos. Não tinha energia, mas era uma das lojas de cosméticos na entrada do shopping. As prateleiras estavam derrubadas e tinha som de água escorrendo em algum lugar. Forçando os olhos pelo vidro lá fora eu ainda conseguia ver alguns zumbis desorientados, mas parecíamos seguros ali.
– To com fome... – Resmunguei ficando de pé e ele puxou a arma apontando pra mim. Acabou de me salvar pra me matar depois? Eu hein.
– Se você der mais um passo eu dou um tiro na sua cabeça.
– Que mané tiro, por acaso eu falei que queria comer teus miolos?! – Ele riu cansado deixando a mão cair do lado do corpo. – Que relação é essa que eu não posso nem dizer que tô com fome meu Deus.
Ele manteve o sorriso nos lábios respirando fundo, mas os olhos continuaram fechados. Vai saber há quanto tempo esse cara tá nessa.
– Tenta dormir um pouco. – Avisei olhando em volta e ele abriu um olho para me encarar. – Essas... lojas tem poltronas para as clientes serem maquiadas... – Olhei em volta e vi uma delas tombada nos fundos. – Ali. – Apontei e ele se forçou para ficar de pé.
Depois de descobrir como baixar a maldita poltrona, empurramos algumas prateleiras fazendo uma barricada onde ele poderia descansar.
– Eu vou procurar comida. – Avisei e ele me encarou. – Que foi? Você sabe se cuidar.
– Hunf disso eu sei! Você é quem não sabe. Vai sair por aí sozinho?
– Eu já tô morto mesmo.
Chan pegou no sono antes que eu saísse. Quis ter certeza de que ele ficaria bem, esse negócio de ser salvo mexeu comigo fiquei muito boiola, sério mesmo.
Eu estava com fome. Agora não me pergunte do quê. Com certeza miolos servidos no crânio com líquido cerebral de canudinho não estava no topo da minha lista, mas eu não sabia exatamente o que era então PARA A PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO!
O melhor sobre a cidade ter virado um pandemônio é que a primeira coisa a se fazer é meter o pé, então pela primeira vez na vida aquela praça estava vazia e eu não ia precisar pegar fila.
Graças aos refis de refrigerantes grátis eu consegui encher um galão de coca e estava vivendo o meu sonho. Juntei uns hambúrgueres que ainda tinham nos balcões para o Chan e era hora de procurar algo pra mim.
Aquela loja pareceu brilhar com um coral cantando "aaaaa" no fundo quando eu vi a geladeira. Deixei as coisas numa mesa e pulei por cima do balcão direto para lá. Ainda estava fria e as coisas estavam bem embaladas então eu juntei a maior quantidade de coisas que eu consegui e corri de volta à saída.
– Sushi? – Chan me olhou incrédulo com a boca cheia de hambúrguer.
– Sim ué. O que que tem? – É óbvio que eu via a ironia, mas eu também não era nenhum vampiro que não conseguia ficar sem sangue. – Era isso ou os seus miolos.
– Tudo bem tudo bem. – Ele ergueu as mãos e eu finalmente ganhei uma discussão.
– Ah, eu passei numa loja de celulares na volta e achei isso aqui.
Fala sério, eu posso ter demorado duas horas pra fazer um percurso de vinte minutos, mas eu fiz o meu trabalho direito e o Chan puxou um ronco bonito.
– Aew Jisungue! – Ele ergueu a mão pra mim e eu queria entender porque fiquei tão empolgado em bater de volta. O meu corpo já não respondia com tanta empolgação já que demorei até conseguir alcançar a mão dele, mas felizmente a bateria externa que eu trouxe resolveria o problema de comunicação com o irmão dele. Eu peguei uma outra coisa lá também, mas não vem ao caso agora.
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SCAPE! | CHANSUNG
FanfictionChan estava na delegacia quando o surto começou. Ele precisava encontrar o seu irmão e salvar o mais novo. Ele só não contava encontrar Jisung no caminho, o zumbi que ainda tinha a consciência intacta e não fazia ideia do que estava fazendo.