Capitulo 2 - Interiores do Novo Mundo

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II

INTERIORES DO NOVO MUNDO

"Para aqueles que vivem na escuridão, só lhes resta buscar a luz"

Já deve ter se passado dois meses desde que embarquei nessa jornada com Lyra. Porém, mesmo quilômetros acima daquela cidade, ainda me sinto preso naquele lugar e em sua opressora atmosfera, tão comum no Novo Mundo, mas tão singular naquele lugar familiar. Ainda vejo, em meus sonhos, as casas amontoavam-se para criar prédios com uma imponência colossal. Mesmo a uma distância enorme me sinto preso, e mesmo após tanto tempo não me vejo estando mais próximo dessa mulher, na verdade, sinto-me distante, tão quanto estou fisicamente longe da Cidade Caótica.

Em uma jornada ao qual mergulhei fundo demais e não posso nadar até a superfície novamente. Já a salvei mais vezes do que posso contar e, sinceramente, a fraqueza dela já está me irritando profundamente. Sempre com as mesmas falas sobre paz, a cantora me questiona quando mato mais um de nossos inimigos.

Ajudei-a ao dar minha mão para que ela pudesse subir na alta elevação que precisamos escalar. Não conversávamos desde quando entramos nesse enorme corredor extenso, mas bastante estreito. A única fonte de luz era a que entrava pelas janelas milimetricamente colocadas a alguns poucos metros ao lado da outra nas laterais. Se inclinando por elas, apenas a vista de um abismo abaixo era vista, assim como, no lado oposto ao nosso, um corredor similar ao que estávamos, mas muito, muito distante de nós. Também havia outras entradas para outros corredores; alguns mais largos, outros contavam com infinidades de portas e outros levavam à uma espécie de "Hall Principal", mas todos eram iguais aos outros. Todos estavam desgastados. Arranhões, partes descascando e pedaços quebrados... era como se fosse um modelo a ser seguido. Estranhamente isso dava um charme ao lugar.

Seguimos andando. Nossos passos ecoavam pelo cenário desolado.
Após horas de trocas de caminho pelos corredores alternativos, eu ia sempre marcando as paredes com uma das pequenas facas em minha cintura, para não nos perdermos. Precaução essa que não impediu que nos ocorresse, mas conseguimos, após um tempo de busca e caminhadas sem intervalo, encontrar uma escadaria, cuja subia até o breu e era ainda mais estreita. Inicialmente, não tivemos problemas em subir por ela, apenas era necessário que um fosse na frente e outro atrás. Porém, após um tempo foi preciso que nos virássemos e ficássemos de peito para a parede, pois não conseguíamos seguir se andássemos da forma normal. A cada degrau as paredes nos apertavam mais e mais, em certo momento já era tarde para voltar atrás e seguimos torcendo para não ficarmos presos. Nossas roupas raspavam na parede, os braços já faziam muito mais força e era difícil de respirar.

A luz ia gradativamente sumindo, e o local passava a ser mais claustrofóbico. Lyra já estava visivelmente incomodada, e, por mais que eu soubesse disfarçar, o medo de ficar entalado ali já estava martelando muitas paranoias em minha mente. Quando a falta de ar era mais agoniante, com uma força tremenda para nos movimentar um centímetro a mais, saímos em uma sala minúscula, mas com a largura necessária para finalmente recobrarmos as forças.
A mulher estava ofegante e com as mãos no joelho. Eu apenas dei dois tapinhas em suas costas e voltei meu olhar para o centro da sala. Havia apenas uma escotilha no fim de escadaria. Precisei usar muita força para abrir. O zunido do metal enferrujado se mexendo era irritante ao extremo, mas consegui abrir sem mais problemas.

O buraco era um caminho sem volta. Havia uma pequena luz amarelada vinda de lá de baixo, mas sem nenhuma escada para um retorno arrependido.

— Vou conferir. Fique aí — falei, me jogando para baixo.

Ao cair, levantei uma nuvem de poeira que envolveu todo meu corpo. Grãos de poeira esses que dançavam por entre os feixes de luz que entravam pelas janelas quadradas e elegantes do túnel. Dessa vez o cenário era diferente, pois era decorado com um carpete vermelho velho, mas que estava longe de perder a dádiva da elegância que apenas uma peça como essa poderia ter. O corredor, por mais que estivesse escuro, não era um escuro que se torna impossível de andar ou distinguir algo. O fato de minhas pegadas serem, ao que tudo aparenta, as primeiras em tempos a serem deixadas nesse carpete, me fez considerar o lugar seguro. Ao menos inicialmente.

Exiled: The Sound Of Memory Onde histórias criam vida. Descubra agora