XI
"Irei derramar ódio em meu sofrimento, pois assim lagrimas não mais derramarei. Mesmo que eu me cegue"
Carreguei Lyra em meus braços pelo que pareceu uma eternidade pelos esgotos. Entre tropeços na agua, se posso chamar aquela coisa de agua, explorei grande parte daquele complexo. Foi quando eu estava com agua até a cintura, fazendo o possível para que a mulher não se molhasse, que vi rastros de uma tinta amarela que parecia mostrar um caminho. Com um certo desespero, segui aquele traço, que me guiou até uma porta, a qual abri com as costas. Era um quarto grande, pouco iluminado, mas o bastante para enxergar bem. Haviam suportes para muitas camas colocadas uma ao lado da outra com um bom espaçamento entre elas, mas estavam muito desgastadas. Porém, ainda haviam colchoes, os onze que deveriam estar nos suportes, mas estavam jogados no chão colocados bem próximos uns dos outros. Estavam desgastados, claro, e até sujos. Claramente não eram usados há muito tempo. Contudo tinha uma única cama que estava em bom estado de limpeza, por mais que houvesse um contorno de algo enorme, que possivelmente usou essa cama por tempo o bastante para marca-la. Afastei essa cama das outras e deitei Lyra, agora já consciente, mas debilitada. Vasculhei pelo quarto por algo que pudesse ajudar a tratar seus ferimentos. Foi quando consegui ver, embaixo de uma das grades de suporte enferrujadas, uma maleta cinza selada e coberta de poeira. A abri, e lá dentro haviam diversas coisas como: frascos vazios de fosfoetanolamina sintética, rabiscos de onze crianças brincando em uma floresta e outros vários que seguiam a mesma proposta, um kit medico embalado a vácuo, dentre outras coisas que não cheguei a me interessar. Havia também um livro infantil, que estava ainda mais bem guardado que os próprios medicamentos.
Fui até Lyra, e cuidadosamente comecei a buscar por ferimentos em seu corpo, e comecei a tratá-los. Cortando as partes de seu vestido que eram necessárias, mas evitei fazer isso todas as vezes. Enquanto tratava de seu corpo, a levantei suavemente e busquei por alguma ferida em suas costas, além de arranhões, que limpei. Passando minha mão até sua nuca, abri o caminho por entre seus cabelos loiros e vi um código de barra marcado naquela região. Fiquei olhando, curioso. Apenas me recolhi em meu silêncio, e dentei-a mais uma vez. Quando tudo parecia estar tratado, vi uma grande marca roxa na região do seu abdômen, pouco abaixo do peito esquerdo. Me movi para perto dela e aproximei minha mão para tocar no local.
- Não, esse não...- A mulher colocou sua fraca mão sobe a minha.
- Olha... Eu vou tentar rasgar o mínimo de seu vestido. Não sou do tipo que se aproveita desse tipo de situação. Não precisa ter vergonha, pense em si.
- Isso não foi da queda... - Mesmo que sua força não gerasse nenhum empecilho, era nítido em seu tremor, que aquilo não era algo que eu possa curar com o que tenho.
Seus olhos, que lutavam para não se fechar, cederam ao claro cansaço. Ela estava dormindo, claro. Porém, minha paranoia me obrigou a checar a pulsação dela, que estava normal. Suspirei, e assim que relaxei, meu corpo foi tomado por uma fraqueza homérica e uma vertigem infernal. Cai de costas no chão, enquanto o mundo parecia cair ao meu redor. Meu corpo tornou-se febril e minha cabeça parecia explodir de dentro pra fora, e meu coração disparava junto ao ofego. A dor da regeneração mostrou-se novamente, fazendo meu corpo tremer graças as dores. Senti a minha consciência se esvair pouco a pouco, mas antes disso, vi a porta do cômodo entre aberta. Usando minhas ultimas forças, me arrastei até ela me puxando com a ponta dos meus dedos trêmulos. Pareceu-me uma eternidade até alcançar a arcaica porta de metal, e me agarrei nos vãos de ferrugem, me puxando e me forçando a me sentar. Coloquei minhas costas contra porta servindo como obstáculo e proteção para caso algo venha até nós. Ainda me forçando a me manter acordado, saquei a pistola branca e verifiquei sua carga, a deixando engatilhada assim que me certifiquei que ela estava preparada para o confronto. Tentei controlar minha respiração, mas era impossível. Minha situação era patética. Suando frio e com náusea entorpecente.
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Exiled: The Sound Of Memory
Science-FictionEm um futuro milênios à frente, onde uma explosão de origem misteriosa devastou grande parte da humanidade e deu luz à um novo mundo, um andarilho encontra uma mulher com a voz capaz de acalmar os corações das maquinas do Novo Mundo. Prometendo prot...