Exiled: The Sound Of Memory

Capitulo 4 - Os Vales Dourados

IV

"A ansiedade no coração do homem o deprime, mas uma boa palavra o alegra"

Assim minha mente chegou em uma paisagem de um céu tão azul que parecia uma aquarela feita por uma criança. Ao longe, vi os vales dourados tão familiares, e lá estavam os casebres brancos com teto marrom e suas muretas decoradas com folhas extremamente verdes e flores roxas. As nuvens do céu, por mais que tivessem o formato convencional, lembravam rastros de tinta branca sobre uma tela de linho. As estreitas ruas sem calçamento, sobre as quais uma chuva havia acabado de deixar poças no terreno irregular, eram feitas em subida. As casas eram quase coladas umas nas outras. Todo o cenário parecia borrado enquanto eu transitava por ele, realmente lembrando uma pintura. As cigarras, que cantavam fixadas nos postes de madeira que acompanham a subida, traziam o único som emitido pela pequena cidade. As pequenas residências eram construídas com um padrão: sem muito luxo ou grandeza, algo simples como uma vila no interior, mas todas tinham ao menos uma característica que as deixava únicas. Como por exemplo a folhagem carmesim que voava sobre o baixo muro da casa que abrigava a árvore. Ao fim cheguei no topo do monte e vi o horizonte dourado das colinas de grama amarela. Minha presença naquele lugar era contrastante, pois minhas vestimentas, que sacudiam ao vento assim como meus cabelos, eram a única coisa sem uma cor naquele lugar tão vivo.

Em minha frente, mais adiante no vale, havia um infinito campo de vegetação amarelada. Desde o começo de minha caminhada pelas ruas da vila até aqui, não vejo sequer um animal, tirando os insetos cantores. Avistei no horizonte, não muito longe no pé das montanhas, mais abrigos da mesma cor dos anteriores. Colocadas precisamente uma do lado da outra em fileiras. Assim desci e andei pelo campo até aquele lugar. A vegetação alcançava minha cintura, e assim seguia até o local onde estavam as construções acima de um morro. Suas janelas eram imensas, ocupavam quase uma parede inteira apenas uma dessas aberturas. Lá também não havia nenhuma presença humana. Apenas os móveis e instrumentos de trabalho que remetiam à civilização. Observei, por alguns minutos as construções em minha frente e as que estavam mais adiante no horizonte amarelo, eram belas em sua simplicidade, curiosas em sua arquitetura, com ar de solitude único que despertou em mim um sentimento de nostalgia e solidão que, de certa forma, por mais que um pouco melancólico, era relaxante. 

Mesmo sem guia, me sentia orientado ao andar naquele lugar. Me deitar em meio aos longos campos fazia-me sentir que pertencia ali. Foi então que, guiado por um assobio, segui até uma estrada de terra lisa decorada apenas com um par de postes até o fim da rua. Andei por ela olhando para meu lado direito, onde haviam casas e mais casas que despertaram tão profundamente meu interesse. 

Assim, quando voltei minha atenção para minha frente, me deparei, um pouco longe do acostamento direito, com a origem do som. Tratava-se de duas figuras: um homem alto usando trajes brancos que cobriam todo seu corpo, com exceção da cabeça e dos cabelos cinza. Do seu lado, uma menina usando um vestido infantil, e com os cabelos cobrindo seu rosto. A presença de ambos, assim como a minha, contrastava com o lugar... como se fossem esboços mal acabados de uma obra. Na verdade, a estética de seus corpos lembrava mesmo o protótipo de um desenho preto e branco feito a lápis. O homem tinha pele morena e segurava uma maçã que ainda estava presa ao galho que a deu origem. A folhagem da árvore era pálida. A figura masculina se virou para mim, e estendeu a fruta recém tirada do pé. Ficamos calados apenas olhando um para o outro sem dizer uma palavra ou demonstrar reação. Seus olhos não tinham íris ou pupilas, apenas o que parecia ser o mover das águas de um lago. Após um tempo calado, ele recuou com o braço que segurava a fruta, e a entregou para a menina. Após isso ambos seguiram pelo campo até sumirem ao chegar perto das residências na colina.