Capítulo 2

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Camila's POV

Estava extremamente cansada por passar o dia inteiro no hospital, ainda tinham mais algumas horas até finalmente poder ir para minha casa. Era exaustivo passar tantas horas sem ver meus filhos, mas era minha escolha, eu escolhi ser médica, então tinha que arcar com as consequências. Passávamos horas dentro de uma sala, tentando salvar vidas e as vezes, mesmo com todo nosso esforço, não era o suficiente. E essa era a parte mais difícil: contar aos familiares que eles perderam alguém. Era impossível não deixar aquilo nos abalar, também somos humanos e sabemos o quanto dói perder alguém. Quando você comunica a família que o paciente não aguentou, é seu rosto e suas palavras que eles se recordam pra sempre, essa era a parte mais difícil do trabalho, lidar com os que sobrevivem.

Tinha acabado de sair de uma cirurgia, embora minha função fosse traumas, não necessariamente eu só trabalhava em casos de traumas, ajudava as outras áreas também, como neuro, geral ou cardio quando precisavam de mim, porém haviam momentos que eu apenas esperava pela desgraça do próximo. Sim, esse era meu trabalho. Não torcer pela desgraça deles, mas esperar, afinal, sempre tinham algumas pessoas irresponsáveis por aí que em um piscar de olhos, poderiam causar acidentes.

Meu celular tocou, chamando minha atenção. Era estranho que eu recebesse ligações durante o trabalho, as únicas pessoas que poderiam me ligar eram meus pais, já que os amigos que tenho trabalham comigo, então quando precisam falar comigo apenas me caçam pelo hospital ou mandam no page. Atendi a ligação assim que vi o contato da minha mãe na tela do aparelho.

— Oi, mãe! - Cumprimentei, me escorando no balcão da recepção. Estava sem nenhuma cirurgia por agora, até às próximas horas, pelo menos.

— Mila...você precisa vir. - Sua fala estava desesperada e aquilo me deixou extremamente preocupada, quase tão desesperada quanto ela. — É a Ceci..

— Mãe, o que aconteceu com ela? - Perguntei, correndo até a saída do hospital sem nem me preocupar com algo além da minha filha. Depois eu me explicaria com minha chefe.

— Eu não sei, eu só fui ligar pro seu pai e quando eu vi, ela estava presa...- Presa? Ceci estava presa aonde? — Já chamei os bombeiros, eles estão a caminho.

— Eu tô indo. - Foi a única coisa que disse antes de sair com o carro do estacionamento do hospital.

Não queria falar ao telefone enquanto dirigia e me tornar um dos irresponsáveis que eu tanto criticava e normalmente, acabavam em uma sala de cirurgia comigo tentando salvar suas vidas. Claro que eu não estava totalmente responsável, minha preocupação me fazia ir um pouco mais rápido do que devia, mas eu estava prestando atenção no trânsito. Será que era isso que todos os idiotas pensavam?

Ouvi meu celular apitar algumas vezes, imaginei ser Dinah, já que ela me viu sair completamente angustiada do hospital e até tentou falar comigo, mas eu apenas disse que explicaria depois.

Entrei na rua em que minha mãe morava e pude ver o caminhão dos bombeiros e uma ambulância, meu coração quase parou. Uma ambulância nunca era bom sinal, todos os dias eu via várias delas trazendo pessoas em péssimos estados, pra que eu pudesse cura-las, mas se minha filha precisasse de mim, eu não poderia fazer nada. Era um código, cirurgião não tinha permissão de fazer cirurgia em familiares, amigos ou até conhecidos, esse era um dos motivos pelo qual não devíamos nos envolver tanto com os pacientes também. Muitas vezes o sentimento atrapalhava nossos julgamentos em alguns casos. Estacionei o carro um pouco a frente e desci do carro, vendo uma mulher agachada em frente ao meu filho, que parecia falar com ela. Ela sorria pra ele e eu me aproximei, quase correndo.

— O que aconteceu? - Perguntei, ainda preocupada. Me abaixei o suficiente pra pegar Louis no colo e beijei sua cabeça. — Onde está minha filha?

— Ela está sendo examinada, mas está bem! - A bombeira respondeu, apontando para a ambulância, onde duas socorristas estavam examinando minha filha, que estava nos braços de minha mãe. Suspirei, tentando me acalmar. Ceci estava bem. — Sua filha prendeu a cabeça entre as barras de ferro, na varanda. - Ela apontou pra varanda e eu segui seu dedo com o olhar, vendo uma das barras com a parte de cima solta. — Não me pergunte como, não sei responder.

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