Capítulo 14

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Camila's POV

Passar o aniversário da minha filha trabalhando não estava nem um pouco em meus planos, mas infelizmente, meu trabalho pregava peças dessa forma.

Um acidente de trem causou um caos no hospital e até mesmo no local do acidente, onde eu fui chamada pra comparecer. Como algumas das vítimas estavam em estados críticos até demais, montamos algumas triagens no local do acidente mesmo. Era de partir o coração ver tantas famílias machucadas, assustadas e até mesmo chorando após ver o corpo de algum familiar. Tivemos diversas baixas, felizmente acidente de trem era algo raro, mas quando acontecia, era uma tragédia gigante.

Por ser chefe do trauma, era minha responsabilidade comandar a triagem e em qual estado cada vítima estava, cada fitinha preta - que sinalizava a morte de alguém - colocada no braço vinha acompanhada de gritos e lágrimas em negação. Ninguém queria perder alguém que amava.

Passamos mais de doze horas naquele acidente, foram praticamente doze horas sem parar pra descansar, pra beber água, comer, nada, absolutamente nada além de abrir pessoas, fechar pessoas, correr de um lado para o outro tentando salvar vidas. Quando meu corpo sentiu a exaustão e a falta de hidratação, um anjo apareceu em minha frente com uma garrafa d'água e um lanche para que eu pudesse me alimentar.

— Tenente Jauregui mandou pra senhora. - O bombeiro falou, apontando pra Lauren, que tirava uma senhora de dentro do trem.

O acidente foi tão feio que haviam uns quatro batalhões nesse chamado, era realmente grande.

— Obrigada. Aos dois. - Ele sorriu antes de se afastar, correndo até Paul, seu chefe, que o chamava.

Minha equipe e mais alguns médicos que estavam comigo trabalhavam enquanto eu bebia a garrafa d'água. Deixaria o lanche pra depois, no momento eu só precisava de água e suportaria trabalhar mais.

Alguns minutos depois, quando já tinha voltado ao trabalho, senti uma mão em minhas costas e me virei, vendo Lauren extremamente vermelha e suada. Parecia tão cansada quanto eu, até mais, na verdade.

— Você tá bem? - Perguntei, vendo ela manear a cabeça. — Se machucou?

— Não, só preciso respirar um pouco. Crianças, trens, acidentes...você sabe. - Ela falou e eu lembrei, assentindo.

— Posso fazer algo por você?

— Só ficar perto de você já me ajuda, não se preocupe. - Lauren suspirou, olhando ao redor. — Foi bem feio, né?

— Sim. - Respondi, pegando três kits de primeiros socorros e lhe oferecendo para que ela pegasse. Peguei alguns soros que a gente definitivamente precisaria e comecei a caminhar, sabendo que ela iria me seguir. — Tiraram todas as vítimas?

— Tiramos, vamos ter que dar um jeito no trem agora. Mas isso não é comigo, Paul me liberou, mas não vou sair daqui sem você. - Ela comentou, passando a blusa azul escuro do uniforme na testa, limpando o suor que escorria. — Onde deixo isso?

— Leva pra triagem do Dr.Mendes. - Eu apontei pra onde ele estava e ela olhou rapidamente, voltando seus olhos até mim. Prendi o riso com sua expressão incrédula.

— É cada coisa que você me faz passar...- Lauren resmungou antes de sair e caminhar até ele. Eu me permiti sorrir minimamente naquele momento.

As tragédias que nos cercavam me fazia apreciar cada segundo de felicidade. A gente nunca sabe o que vai acontecer e quando as coisas vão acontecer, então aproveitar cada segundo é de extrema importância. Só aproveita e aprecia a felicidade quem já sentiu a tristeza. Elas coexistem. A felicidade só existe porque há tristeza. Assim como a vida e a morte. Estamos sempre vulneráveis, até no lugar em que nos sentimos mais seguros, podemos nos deixar ser machucados. E as vezes, nem é sobre lugar. Muitas vezes é sobre alguém.

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