Mexo-me na cadeira sentindo minhas costas doerem um pouco. Levanto-me para tomar um pouco de água, enquanto massageio meus ombros. Eu precisava muito de um SPA agora. Ouço um gemido e olho para trás, vendo Eric se mexer. Ele estava acordando outra vez.
— Olá novamente, senhor Parker. – Cumprimento. Seus olhos param em mim ainda sonolentos. — Tivemos que sedá-lo, porque o senhor estava bastante ansioso.
Eric balança a cabeça como se dissesse que entendia o motivo de medicá-lo e me aproximo da cadeira em que eu estava sentada.
— Como está se sentido?
— Com sede. – diz erguendo seu corpo e, o ajudo a se levantar.
— Claro... Um momento. – Sigo para minigeladeira e pego uma garrafa de água e um copo. — O senhor está mais calmo agora? Consegue se lembrar de como veio parar aqui?
Entrego o copo de água para ele, que bebe aos poucos. Observo-o franzir o cenho olhando para baixo e respirar fundo.
— Tenho flashes... Aconteceu um acidente. Acho que o carro capotou quatro ou cinco vezes... Eu... Me lembro de chegar ao hospital e só.
— Sim. Estava consciente quando chegou aqui. Muito bem. – digo gentil e ele levanta a cabeça me olhando outra vez.
— Por quanto tempo fiquei em coma? — ele indaga sério. Seus olhos castanhos pareciam me penetrar. Tento não me afetar e ser profissional.
— Dois meses.
— Nossa! – Ele arfa fitando as mãos.
— O senhor precisou fazer uma cirurgia de emergência, assim que chegou ao hospital. Foi uma cirurgia bastante complicada e, delicada porque foi próximo à sua coluna. Mas, dado os seus movimentos e que não está reclamando de nada, parece estar tudo bem.
— Sim... Eu consigo mexer meus pés, sentir minhas pernas... Normal.
— Que bom, mas precisa saber que voltar a andar pode ser um pouco difícil no início, O.k.? – Ele me olha confuso e explico. – Isso é normal, depois de ter passado dois meses deitado. Nos próximos dias o senhor fará uma bateria de exames. Apenas para checar se está tudo bem.
— Onde está Peter? – ele pergunta assim que paro de falar.
— Está ali fora, quer que eu o chame?
— Sim, por favor. — Chamo Peter, que entra preocupado e ansioso. — Você está bem Peter?
— Sim senhor. Eu levei somente uns arranhões, senhor.
Enquanto eles conversavam sobre o acidente, fiquei observando Eric. Queria ver se não havia nada de errado, algum movimento involuntário ou falas erradas. Em seu prontuário, anotei as informações que o monitor me dava.
— Por que o carro capotou?
— O pneu do carro estourou senhor... Estávamos a uma velocidade muito alta, não consegui controlar o carro. Foi culpa minha, senhor.
— Não... Não se culpe por isso. – pede Eric.
De vez em quando, sentia os olhos de Eric em mim. Eu tentava ser a mais profissional possível, mas às vezes era meio surreal ver que ele estava acordado e falando.
— Tudo certo, Maya? — Ouço Peter me perguntar e olho para ele.
— Sim! Está tudo ótimo.
— Que ótima notícia. — Ele respira aliviado e sorrio.
— Vou pedir para alguém trazer alguma comida para você, senhor Parker. Deve estar com fome, após despertar de seu longo sono... – Sorrio ao tentar uma piada. – Qualquer coisa, é só apertar o botão vermelho que está ao lado da sua cama que alguém virá.
— Certo. — diz sério.
O.k. ... Ele não parece uma pessoa de brincadeiras. Reflito enquanto caminho para a porta.
— Posso ficar aqui dentro, Maya?
— Claro, Peter. Daqui a pouco o médico virá para falar com vocês. Então, boa noite para os dois... Quer dizer, bom dia! – digo olhando o relógio na parede. – Até... Bom, com licença.
— Até, Maya! — Peter se despede, enquanto Eric mantém um olhar misterioso sobre mim que me faz ficar nervosa.
Saio do quarto com um sorriso no rosto. Era prazeroso quando um paciente se recuperava bem, mas esse paciente, em questão, era mais especial ainda. Isso porque, durante dois meses, confidenciei a Eric segredos que jamais contaria a alguém. Pode parecer loucura, mas me fazia bem conversar com ele, mesmo que ele não respondesse.
Vejo o doutor Sales passar no corredor e corro indo em sua direção, para avisar sobre Eric.
— Doutor Sales! — Aceno com a mão. Ele me olha, porém continua andando.
— Diga Maya.
— O senhor Parker acordou novamente.
— Como reagiu?
— Bem. A pressão e os batimentos cardíacos estão ótimos. Avisei sobre os exames que ele teria que fazer e avisei que mais tarde o senhor passaria por lá.
— Certo... Bom trabalho Maya.
— Obrigada.
— Vejo que falta pouco tempo para seu plantão acabar, se já quiser ir para casa, está liberada. — Sorrio agradecendo enquanto murmuro um 'hunrum'.
Ele segue para a recepção, entregando umas folhas para Ester, a recepcionista e me viro na direção contrária. Pego minha bolsa, visto meu casaco longo na cor caramelo e vou para casa. Faltava apenas vinte minutos para o plantão acabar, mas ser liberada antes, era bom demais.
Pego o ônibus, e em quarenta minutos, chego a casa. Ela não era luxuosa, mas dava certo para mim. Tinha dois quartos, um banheiro, uma lavanderia pequena que ficava no quintal, e uma sala e cozinha em conceito aberto. O aluguel era justo, então foi como se esta casa tivesse caído do céu.
— Léo? — Chamo pelo meu irmão, porém não tenho respostas. Deve estar dormindo. Do telhado, ouço a gatinha miar. – Não acredito que ele não colocou comida para ela! — Praguejo.
Deixo a bolsa e o casaco no sofá e, vou até o quintal. Faço um carinho na cabeça da gatinha quando ela desce da casa e encho seu potinho com ração.
Volto para dentro de casa, indo até o quarto de Léo. Mas quando acendo a luz, não o encontro. Praguejo novamente e volto para a sala pegando meu celular. Percebo que tenho uma mensagem do meu irmão não lida.
"Não vou dormir em casa hoje, te vejo pela manhã."
Desabo-me no sofá cansada e arfo jogando o celular do meu lado. Léo sempre foi assim, sempre fez tudo o que queria fazer. Ele tinha quinze anos, quando perdemos nossos pais. Eu era apenas a irmã mais velha que com dezenove anos, deveria colocar limites e ajudar em qualquer coisa que ele precisasse.
Em vez disso, eu foquei na faculdade que eu havia acabado de entrar. Se eu não tivesse feito isso, não saberia dizer onde estaríamos. De qualquer forma, meio que me culpo um pouco por meu irmão ser do jeito que é.
Quando ele entrou na adolescência, não queria mais saber da escola, ou de fazer algum curso. Seu comportamento mudou um pouco. Ficou mais grosso, respondão, mal parava em casa. Hoje, depois de seis anos, ele melhorou um pouco, mas ainda mantém distância de mim e esconde coisas da qual eu deveria saber.
Quando conversa comigo, sempre é para pedir dinheiro. Tento falar com ele para arranjar um emprego, mas ele diz que é difícil. No final, acabo lhe dando o que quer. É meu irmão, minha única família. Se ele precisa, eu dou.
Sem mais nada para fazer, tomo um banho quente e relaxante. O plantão que tive foi cheio de surpresas e nada mais que um banho e uma cama, para renovar minhas energias. Faço um misto-quente com suco de laranja e em seguida sigo para minha cama.
Assim que caio nela, penso em Eric e acabo adormecendo com lembranças de seus olhos castanhos e misteriosos.
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Despertando Para o Amor
Roman d'amourMaya Hill, é uma jovem bastante dedicada a seu irmão, sua única família, e ao seu trabalho de cuidadora. A jovem se vê apaixonada por um homem que após sofrer um acidente de carro, entra em coma. Erick Parker, é CEO de uma empresa famosa em Londres...